quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Os meus cães - 2

Um filósofo meu amigo disse um dia, os seres humanos dividem-se em duas classes, os que gostam de cães e os que não gostam de cães. Quis a natureza que eu pertencesse à primeira categoria. Gosto de cães, toda a minha família gosta também e os meus amigos quase sem excepção não fogem a esta regra. Quando era menino pobre e triste o meu maior amigo foi o Tejo, um animal grande e pachorrento, castanho para o amarelo com convém a um bom rafeiro, também conhecido nas cidades por vira latas. Passei muitas manhãs e iguais tardes a brincar com ele, sempre paciente para as minhas pequenas maldades. Um dia foi ele que me encontrou numa noite de inverno em que estava desaparecido. Antes de fazer a tropa levei para casa da mãe Alice um aristocrata que se havia de tornar num pequeno tirano, quando regressei de África mal cheguei a quinhentos metros de casa o cão começou aos saltos porque o seu olfacto me detectou. Em Luanda tínhamos um simpático rafeiro chamado Shane, que nos foi roubado, a minha companheira procurou, procurou e descobriu o animal preso e sem condições num quintal de labregos, veio para casa doente e morreu jovem, ficou a saudade. Em mil novecentos e oitenta e três entrou na nossa vida o mais belo cão a que pusemos o nome de Yarb, este era nobre em todos os sentidos, nervoso, leal, punha os miúdos em respeito mas nunca fez qualquer mal aos mesmos. Gostava imenso de andar de carro, quando passeava com ele era fácil meter conversa com toda a gente! Catorze anos depois, o nosso amigo já velho e doente obrigou-nos a ajudá-lo a partir, foi muito difícil, está a descansar no Pinhal do Rei em local que só eu sei! Em mil novecentos e noventa e oito chegou a Morgana, uma boxer castanha, feitio calmo, grande companheira, nem se dava por ela, devido a problemas de saúde gastou-se uma fortuna com a Morgana, mas nunca nos arrependemos de o fazer. Minha companheira de passeios no pinhal, passava os dias sentada onde eu estivesse sempre olhando com uns lindos olhos castanhos. Hoje, vinte e sete de Dezembro de dois mil e dez, às 15h e 15m o coração da Morgana deixou de bater, partira para o céu dos cães, dorme no nosso quintal junto ao damasqueiro, sobre a campa plantei quatro pés de roseira branca em homenagem à pureza do seu carácter. Adeus minha amiga! Bray – 27/12/2010

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