domingo, 29 de dezembro de 2013

A joaninha da romãzeira

A joaninha da romãzeira

Era uma vez uma joaninha que vivia numa romãzeira. Era feliz, ninguém implicava com ela. Mas um dia… apareceu um menino e uma cadela e nunca mais a deixaram em paz. Ela bem se escondia debaixo das folhas, mas se não era o menino era a cadela que a descobria. Por essa razão a joaninha decidiu partir, preparou a mala colocou os óculos de sol e lá partiu com destino incerto. O menino e a cadela ficaram muito tristes e prometeram que não mais incomodariam as joaninhas que aparecessem.
Passaram os dias e as noites também, no jardim da casa os vários insectos pulavam de árvore em árvore de folha em folha. Eram abelhas, vespas, besouros, moscardos e mosquitos. a joaninha é que não.
O menino decidiu pedir ajuda ao avô, que por sinal era um druida disfarçado. O velhote foi falar com a rainha das joaninhas e depois de alguma argumentação convenceu sua majestade. No dia seguinte a romãzeira estava cheia de belas joaninhas.
O menino e a cadela ficaram muito contentes e nunca mais incomodaram as joaninhas.
Foram felizes para sempre.

Marinha Grande, 30 de Agosto de 2000
José M. Bray
Dedicado ao meu neto Daniel Bray de seis anos, uma das coisas boas na minha vida!


Nota: Ao dar a volta a manuscritos antigos, encontrei este conto com que entretinha o meu neto no verão de 2000, tinha ele seis anos. Não resisti em metê-lo no blogue!

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Natal no Asilo

Natal no Asilo
“Quando eu penso no meu futuro não esqueço o meu passado. Penso no futuro, penso no passado mas vivo o presente! Este texto abaixo tem o sentir de uma triste realidade, o drama da terceira idade”.
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O dia estava no fim, os velhos recolhiam aos poucos aos seus aposentos, uns iam em cadeira de rodas, outros de canadianas, mais uns tantos de bengala, mas também havia alguns que ainda usavam as suas pernas embora tremelicando como canas num canavial. Nos quartos estavam os que nunca saíam a não ser para a viagem final, olhavam para tudo, nada vendo com suas vistas vazias e babando-se continuadamente.
Era noite de Natal, o jantar tinha sido um pouco reforçado, terminando com filhoses para todos, enviadas por uma benemérita. A acompanhar um café fraco ou um chá conforme o gosto de cada um, alguns dos velhos receberam um golo de aguardente. Mais tarde os que podiam sair dos quartos e camaratas iam assistir à missa do galo, beber um pouco de leite e comer uma fatia de bolo-rei oferecido pela mesma benemérita a senhora das filhoses.
Muitos esperavam ter visita no dia seguinte, mas só poucos teriam essa sorte. A maior parte destes idosos vindos de gente pobre, ao terem deixado de ter utilidade aos filhos e aos netos eram despejados naquela vetusta instituição fundada no tempo da rainha dona Amélia.
Mal eles sabiam que estava para acontecer dois momentos de grande alegria para eles, um nessa noite e outro, depois do almoço de Natal. Mas não vamos ainda esclarecer o mistério.
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Nas águas furtadas daquele prédio, quatro jovens estavam trabalhando arduamente, eram estudantes que decidiram não ir a casa para cumprir uma promessa feita ao director do Asilo.
Asdrubal e o Ochoa eram dois estudantes da Escola das Belas Artes, vivendo com as namoradas nas águas furtadas de um prédio velho no centro da cidade. Os quadros jovens eram prendados, Asdrubal escrevia, tinha muita imaginação, sua companheira cantava bem e queria seguir canto, Ochoa era um talento no desenho, por sua vez a sua querida queria ser actriz e sonhava dia e noite com teatro.
A água furtada era uma enorme sala,  com uma mini cozinha e um minúsculo WC que completavam o espaço. A sala era dividida por um pano preso por molas da roupa a um cordão de nylon que atravessava a sala fazendo duas divisões, um quarto para cada casal. A privacidade era quase nula. Os quatro davam-se bem e tudo dividiam, tudo menos a vida sexual, aí os rapazes eram muito conservadores, as raparigas não tanto. Na verdade Mara e Dália eram bem mais experimentadas na vida e nada lhes fazia confusão, contudo respeitavam as cabeças quadradas dos namorados.
Estes jovens tinham em comum, serem uns tesos. Sempre com falta de dinheiro, passando necessidades primárias em especial comida. Os poucos recursos eram gastos em tabaco, álcool, discos e livros. Aos trambolhões lá iam sobrevivendo, tentando acabar os cursos que frequentavam. As raparigas eram da capital, os rapazes não, tinham vindo para a cidade grande de muito longe. Estavam perto do Natal e com ele as férias escolares. Asdrubal e Ochoa não tinham dinheiro para ir à terra, também não estavam interessados em deixar as namoradas na capital, não fossem elas dar o fora. Eles pensavam que não, mas nunca se sabia. Então decidiram ficar todos juntos e dividir o nada que cada um tinha.
As traseiras do velho prédio davam para as traseiras do Asilo dos velhos. Os rapazes, em especial o Asdrúbal, observavam das janelas das águas furtadas os homens e as mulheres no crepúsculo da vida, sentados no pátio apanhando sol nos dias bons. Os quatro tinham imensa pena dos tristes idosos. Raramente eles sorriam ou falavam uns com os outros, eram mortos ainda com vida.
Um dia os rapazes tiveram uma ideia e foram falar com o director do Asilo…
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Com a colaboração do Zé das plantas, seu cúmplice, João pôs em movimento as fases do plano há dias pensado. 
Era vinte e quatro de Dezembro, como habitual o clã Lopes reuniu-se em casa do banqueiro pai do João, cerca de trinta. O jantar era cheio de requintes. Todos comiam, todos bebiam, todos riam. Era uma felicidade sem limites. Mas não era total a felicidade. Três pessoas sentiam na alma o contraste daquela noite esfuziante. Era o velho jardineiro Zé das plantas, convidado mas que não saiu do seu anexo, só foi ao salão fazer um brinde à família. A esposa do banqueiro que recordava o passado e a sua avó falecida há dez anos. O João que sentia na alma o drama dos pobres em especial os idosos.
Chegou a hora de abrir os presentes, João quis ser o primeiro, recebeu, agradeceu e de seguida saiu observado pelo olhar atento de sua mãe.
A pequena charrete puxada por um corcel negro dirigia-se para parte velha da cidade, ia a passo certo e na estrada de paralelepípedos, os cascos do animal ressoavam na noite fria. Flocos de neve tudo cobriam, fazendo um contraste no dorso negro do cavalo. A charrete era conduzida por um velho muito velho, a seu lado um pai Natal pequeno, era o João equipado como mandam as regras. Sorriam, iam felizes.
O destino era o Asilo dos velhos, para idosos muito pobres, e abandonados pelos seus familiares. Naquele vetusto edifício, dividido em uma ala para mulheres outra para homens, esperavam a morte duas centenas de velhos e velhas. Bateram ao portão, foram recebidos por um responsável já a par do plano do João.
Os velhos tinham terminado a missa do galo, estavam agora no refeitório a beber um pouco de leite. Quando o menino entrou fardado de pai Natal, os velhinhos puseram-se a bater palmas e a rir, pareciam patetinhas, com tanta alegria.
Com ajuda do Zé das plantas João foi entregando a um e um os presentes que todos agradeciam emocionados. Depois foram até às camaratas entregar aos acamados também uma prenda a cada um. Uns sorriam e atiravam beijos, outros pareciam nada sentir ou talvez não porque um brilho aparecia nos olhos já cansados, pela idade e pelo sofrimento.
Despediram-se e regressaram à charrete, quando partiram, ouviram uma algaraviada, era os velhinhos a dizerem adeus através das janelas do Asilo. Meia hora depois, chegaram ao palácio dos Lopes.
Ultrapassaram o portão e ao chegar à escadaria da residência a mãe do João esperava por eles.
- Obrigada, meu filho, obrigada Maia meu amigo! Estou muito emocionada. João, a minha avó e tua bisavó, deve estar muito feliz lá onde estiver.
O João foi abraçar-se à mãe chorando. Uma lágrima de saudade rolou pela cara de Carlos da Maia, verdadeiro nome do velho jardineiro.
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Nesse dia o almoço de Natal foi muito bom devido a ofertas especiais, como por exemplo a vinda da casa do Robalo Lopes, banqueiro importante da cidade. Alguns familiares dos velhos, poucos, estiveram presentes.
Após o almoço os idosos deslocaram-se para um salão polivalente, onde existia um pequeno palco. Nesse dia o palco estava profusamente decorado com muitas luzes. À hora certa um gongo deu três pancadas e o pano de cena foi puxado para um dos lados, quatro jovens apareceram à frente de um artístico cenário. Os idosos sem nada ainda ter acontecido, começaram a bater palmas. Depois...
Depois foram três horas de sonho. Houve de tudo! Primeiro a representação de uma estória de amor, amor com muita pureza, escrita pelo Asdrubal. Depois, Mara cantou inúmeras canções do passado, pedindo aos velhos que também o fizessem, inclusive pedindo a um e a outro que viesse ao palco. Ochoa fazia rápido caricaturas passando pelas mesas. Dália com bela representação contava anedotas. Asdrubal recitava pequenos poemas coisa que ele adorava, muitos dedicados aos idosos. Para acabar, um baile foi levado a efeito por todos que se podiam mexer, inclusive as cadeiras de rodas também rodopiaram.
Depois, depois os idosos felizes regressaram aos seus cubículos. Mas naquele Asilo nada voltou a ser como antigamente, ventos de esperança sopraram por todo o velho edifício.
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Nota: Este texto tem parte de dois contos distintos, “A palavra e o desenho” e “O rapaz e o jardineiro”.
Comeira, 22 de Dezembro de 2013
ZM
Dedicado aos idosos deste país, tão desprezados pela família e pela sociedade!


segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

A viagem de minha mãe!

A viagem de minha mãe!
Parei à saída daquele bairro residencial para fazer um telefonema importante. O dia estava bonito, um verão de São Martinho prolongado mas bem frio. Após algumas tentativas alguém entendeu a minha chamada.
- Estou sim, quem fala?
- Bom dia, sou o Zé Manel. É o tio Alberto?
- Sou eu sim. Como estás sobrinho? Já não falo contigo desde a tua ida à Ermegeira naquela noite mágica do passado. Quando vens visitar os teus familiares que estão longe?
- Mais depressa que o tio pensa. O meu guia de viagem já está à minha espera para lá da ponte. Tem caçado muito, ou a lei daí proíbe? Ainda há dias contei a pessoa amiga a estória de só matar um coelho. Uma grande lição de vida que tento transmitir aos mais novos.
- Zé Manel, deixei de caçar há muito tempo. Não temos o direito de tirar a vida aos pobres coelhos, lebres, perdizes, que não fazem mal a ninguém. Todos estes bichos são animais de Deus, por isso têm alma.
- Já agora, como está o meu padrinho e restante família, tenho muitas saudades deles, de uns mais que de outros. Sou um simples mortal com qualidades e defeitos, por isso não consigo gostar por igual.
- O teu padrinho continua a tocar o seu trombone, todos gostam de o ouvir. Deve estar neste momento a ensaiar ou a ensinar, alguns pequenitos que aqui chegaram há pouco tempo. Ele é mesmo muito bom em todos os sentidos. Penso que a irmã caçula a Amélia está neste momento ao pé dele, são muito amigos.
- Sempre gostei muito deles e do tio também, são a par da minha irmã Ana Maria os familiares que mais me emocionam na minha saudade. Tio diga à menina que a sua mãe a vai visitar!
- Não me digas, então a minha irmã Alice vem aí. Já a não vejo há quase cinquenta anos…Como está ela?
- Foi por isso também que lhe liguei. Tio a minha mãe está muito velhota, têm de ter muita paciência com ela. Como sabe melhor que eu, o primeiro terço da vida dela foi de grande sofrimento, foi uma mulher muito sofrida. Depois os outros dois terços foram mais equilibrados, mas foi sempre uma mulher castrada. Um carácter muito forte, mulher orgulhosa mas com imensos complexos, fizeram dela uma mulher fechada em si mesmo, que pouca alegria teve na vida.
Parei para tomar folgo, depois continuei e terminei o contacto.
- Tio, peço que ajudem a minha mãe a adaptar-se, peça a todos em especial ao meu padrinho, casa onde eu nasci e tanto apoio deu à Alice nesse drama. Preparem a minha irmãzinha para a chegada da mãe.
- Fica descansado Zé Manel, tudo será feito como desejas. Adeus!
- Obrigado meu tio e até um dia destes.
Desliguei a chamada com emoção. O dia continuava bonito naquele bairro residencial. Olhei para trás, lá dentro numa campa húmida e fria o corpo de minha mãe repousa. Neste momento, a sua alma deve estar a chegar junto dos nossos antepassados falecidos!
16/12/2013
ZM
Para, Maria Alice Bray 1923/2013



sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

A mãe Natal

A mãe Natal
Vinte e quatro de Dezembro, era grande a azáfama na Lapónia, centenas de idosos preparavam-se para partir nos seus trenós através do mundo para entregarem aos meninos as prendas de Natal. O pai Natal nº 2013 estava entre eles, nesse dia abusara da bebida, vício que apanhara nas idas a um pequeno país do sul da Europa. Antes da hora da partida decidiu ir a casa dormir um pouco para recuperar a lucidez.
A companheira do pai Natal nº 2013, estava muito zangada porque o seu homem voltou a entrar em casa com o abatatado nariz, muito vermelho, mais parecendo um tomate maduro, em enorme contraste com a barba branca e o barrete verde.
- Homem, outra vez com os copos…Não tens vergonha? Logo hoje que tens a tarefa de levar os presentes às crianças conforme está estipulado pelo São Nicolau. Como vais conduzir o trenó nesse estado?
 - Querida mulher, meu amor. Não te preocupes, não há problema, as renas já sabem, de olhos fechados, o caminho.
- E o exemplo que dás às crianças? Achas bem se alguma te vê ou sente o teu odor?
- Deixa lá, os meninos àquelas horas da noite estão todos dormindo.
Após esta declaração, o velho pai Natal de longas barbas brancas e junto a uma fogosa lareira, sentou o seu amplo traseiro no confortável sofá da sala. Rapidamente adormeceu e alguns minutos depois ressonava alto e em bom som.
- Isto está mau este ano, o meu homem precisa de reforma…
Assim pensava em voz alta a ruiva e anafada companheira do pai Natal 2013 que dormia a bom dormir.
- Acorda homem, tens de atrelar as renas e carregar o trenó, senão fica tarde para partires.
Mas qual quê, o pai Natal não dava sinais de acordar, o seu ressonar parecia um trombone. Foi então que a dinâmica mulher tomou uma atitude.
- Vou realizar o meu sonho de menina, ir entregar as prendas às crianças, mas às pobres. Ah! Ah! Ah!
Se assim pensou, mais rápido o executou. Perante o olhar incrédulo das seis renas, atrelou-as ao trenó. Depois carregou as centenas de presentes, pegou na lista de distribuição e partiu feliz. O destino desse ano que calhava ao pai Natal nº 2013, era uma pequena cidade de Portugal. Uma povoação com muitos ricos, mas muitos mais pobres.
Como convém numa noite de Natal, estava muito frio, o céu estava limpo, carregado de estrelas. Nas zonas mais elevadas um manto de neve cobria os cumes até meia encosta.
O trenó guiado pela mãe Natal fazia um vistão lá no céu, flutuando entre a terra e a lua. Iluminado por dezenas de luzes e igual número de guizos tocando melodias próprias da época.
A anafada mãe Natal, ia lendo os nomes e as moradas das crianças eleitas para receber os presentes dessa noite mágica. A mulher já tinha uma ideia fisgada! Ao chegar à cidade do destino, as luzes do trenó foram desligadas e os guizos emudecidos. Por norma do pai Natal chefe, os trenós tinham de passar despercebidos e muito menos podiam ser vistos.
Como a mãe Natal já calculava, todos os endereços eram de casas opulentas, de pessoas com muito dinheiro. Numa atitude enérgica rasgou a lista em duzentos e cinquenta e seis bocadinhos que lançou no céu sobre a cidade. Ao mesmo tempo pediu ajuda ao menino Jesus.
- Meu querido menino Jesus, faz que cada bocadinho de papel caia sobre a casa de um menino pobre para lhe poder levar um presente de Natal.
O menino Jesus ficou maravilhado com o desejo da mãe Natal. Não só encaminhou os papelinhos para as casas das crianças pobres, como lhes deu luz de estrela, para orientar a mãe Natal nas entregas.
Com grande eficiência a mãe Natal executou a sua tarefa de bem-fazer. Tinha realizado o seu sonho de menina!
Naquela noite de Natal os meninos pobres daquela pequena cidade receberam a sua prenda, oferecida pela mãe Natal com ajuda do menino Jesus.
Na Lapónia o velho e rabugento pai Natal continuava no seu sono de bêbedo, ressonando alto e em bom som.
Comeira, 4/12/2013
José d’ Barcellos
Para, Francisca no seu primeiro Natal.




sexta-feira, 29 de novembro de 2013

O toque no Renault 11

O toque no Renault 11
- Meus queridos e adorados detractores, não posso de deixar de contar o meu sonho da última noite. Já sei que vão deitar abaixo o conteúdo do mesmo, não importa porque me dá gozo fazer a sua narrativa. Aguentem! Também aguento a kizombada que estou a escutar no youtube.
No meu carro de cor preta, um Renault 11, ia ao cair da tarde deslizando por estradas secundárias da zona saloia. Ao meu lado um amigo fazia-me companhia na deambulação.
Ao passar numa pequena aldeia, senti um toque muito ao de leve na parte traseira do lado direito da minha viatura. Tive a percepção que nada de grave acontecera, mas pelo sim pelo não, decidi encostar e parar o 11. Queria esclarecer a causa…embora o meu amigo insistisse para o não fazer. – É pá, não foi nada, não te incomodes, não pares.
Um Datsun 1200, com mais de trinta anos estava ligeiramente inclinado como querendo sair do estacionamento e entrar na via. Era um carro verde, cor queimada pelo sol e pelo tempo, cheio de mazelas, muitas devido a incompetência e desmazelo.
Dentro do carro saiu um velhote, tal como eu, mas mais queimado pelo sol e pelo vinho. Vinha com uma expressão de zanga. – Bateste, agora tens de pagar a pintura do meu carro!
Deu-me uma brutal vontade de rir, contive-me e contive o meu amigo, por sinal um policia reformado e com pouca paciência para aquele tipo de dislates.
Rápido, tínhamos compreendido o sucedido, o homem quis entrar na estrada, não olhou e por pouco não se enfeixou no Renault. Acontecera um toque de nada, não se via efeitos no meu carro nem no carro do reclamante.
Em breve espaço de tempo, vários amigos do velhote se juntaram a apoiar o mesmo, eram idosos como ele, também queimados pelo sol e pelo álcool. Até o taberneiro apareceu com um livro de facturas na mão, assim como uma rapariga de tipo moderno, cabelo comprido e olhos brilhantes, que apreciava a cena com um sorriso irónico. Todos davam razão ao amigo, a rapariga não, só gozava a cena. O homem mostrava a todos, uns riscos nas portas do velho Datsun…
Tudo aquilo era um tremendo disparate, o meu amigo queria partir para a briga, ou então partir deixando a velharia a falar para as estrelas, porque entretanto fizera-se noite. Não quis nenhuma destas soluções, agredir nunca e partir também não. Eles podiam tomar nota da minha matrícula e orquestrar uma estória à maneira deles. Decidi seguir outro rumo, ou seja outra estratégia. – Pronto, não há problema vou chamar a policia…
Rápido a atitude do homem mudou. – Senhor, não é preciso a polícia, podemos resolver isto a bem.
Não aceitei como era óbvio. – Vem a polícia e mais nada, não estou para vos aturar, Rui liga ao Posto da Guarda Republica.OK! Disse o meu amigo.
O taberneiro exclamou com ar desiludido. – Agora o livro já não serve para nada. De seguida afastou-se e entrou na taberna.
O condutor do Datsun entrou em pânico e garantiu nada querer, que era tudo a brincar.
A rapariga moderna de cabelos longos e olhos brilhantes, chegou junto a mim e interrogou-me. – Diga lá o que se passou, estou curiosa?
Para fim de festa expliquei-lhe. - É óbvio que a culpa é do velhote que se meteu à estrada sem prudência. Felizmente nada de grave aconteceu, nem riscos nos carros aconteceram. O homem está com o grão na asa e se calhar nem carta tem. Repare que ele reclama a pintura da porta do lado direito e o toque foi na porta do lado esquerdo. Adeus menina e tudo de bom!
Após o esclarecimento, meti-me à estrada e parti mais o meu amigo. A rapariga de cabelo comprido e olhos brilhantes deu uma sonora gargalhada que ecoou nos nossos tímpanos durante algum tempo.
Comeira, 29/11/2013
José Bray

Nota: Já me desfiz do meu Renault 11 de cor preta, há mais de quinze anos.

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Carlos Baptista, está revoltado!

Xadrezistas e amigos,
Vou transcrever, no seu grito de revolta, a Carta Aberta do meu companheiro Carlos Baptista. É verdade, parece impossível que os semi-profissionais do xadrez nacional não aproveitem as oportunidades que lhe são dadas pelos carolas da modalidade para quem nenhum lucro daí lhes advém. Depois andam a choramingar pelas esquinas dizendo que a Federação Portuguesa de Xadrez nada faz, mas fazendo juízo de valor em causa própria. Todas as Direcções têm feito porcaria, umas mais que outras, por isso é preciso analisar a que fez menos trampa. Sou dos que construtivamente critico o que não acho bem, mas nunca em causa própria. Depois aprecio o que de bom é realizado, não criando inimigos de estimação. Também lamento a atitude dos jogadores do Distrito de Leiria ao não apoiarem  uma organização deste tipo, elaborada com toda a dedicação.
No passado, como é do conhecimento geral dos mais velhos e não só, criei uma série de projectos. Acontecia que a maior parte dos xadrezistas deste país, pensavam que faziam um grande favor vir jogar as provas. Não, não e não! Nós é que lhes fazíamos um favor!
Estou completamente solidário com o Carlos Baptista e admiro a sua capacidade indomável de aturar esta gentinha. Eu, há muito que desisti... e o xadrez não ganhou nada com isso.
Segue o grito de revolta do meu amigo.
José Bray

Circuito Nacional Lentas 2012/2013 da FPX - I TORNEIO DE XADREZ CLÁSSICO DO OESTE 
cancelado por falta de inscrições mínimas… 
Carta Aberta aos Xadrezistas que a quiserem ler… 
O meu nome é Carlos Baptista. Sou dirigente e jogador da AX do Bombarral/CCMB. Considero-me um anónimo no Xadrez Nacional. Sou um aficionado, adepto do xadrez, e nada mais do que isso. Como jogador, sou modesto. Eu e mais alguns milhões no mundo. Somos a maioria, a gente vulgar do xadrez. Porque da elite mundial restam pouco mais de 100… 
Acompanho o que se passa a nível internacional, talvez como poucos jogadores do meu nível em Portugal. Desde o ano de 1977 que estou no xadrez, o meu maior contributo, foi como organizador de provas, que é aquilo que melhor sei e posso fazer. Tenho poucas ou nenhumas aspirações no Xadrez. Como jogador, não poderei provar muito mais. Como organizador talvez. 
Mas neste lamaçal em que nos encontramos, será um pouco difícil. Tudo isto vem a propósito do lançamento, na passada época desportiva do Chamado Circuito Nacional de Lentas promovido pela FPX. E a meu ver bem. Nunca me lembro de um circuito nestes moldes, com tão bons resultados. Mas o imprevisto chegou, sem apelo nem agravo, neste cinzento mês de Novembro de 2013... 
Após uma série de três provas com um êxito muito assinalável, a última prova do Circuito a realizar entre 9 e 17 de Novembro (repartida em dois fim de semana), na vila do Bombarral, foi cancelada por falta de inscritos. Uma vergonha para o xadrez nacional!... Isto serve apenas os interesses daqueles que só sabem criticar e querem, ano após ano, que o xadrez nacional regrida. Infelizmente neste pequeno país, onde impera a mesquinhez, a inveja e o sentimento individual, em detrimento do colectivo, há muita gentinha deste calibre. 
É lamentável que todos aqueles que estão sempre a queixar-se da falta de provas de lentas, agora não se tenham inscrito nesta prova. E esta lança vai seguramente direccionada para aqueles jogadores e dirigentes do nosso distrito, que não se inscreveram. Não venham com desculpas: para aquilo que querem e optam, arranjam sempre maneira de ir, para outras que não lhes convém, simplesmente não aparecem…Das duas, uma: ou não gostam de vir à AX do Bombarral/CCMB, o que estão no seu direito, ou pretendem boicotar uma prova promovida pela FPX. E em boa hora esta Direcção da FPX criou este Circuito. Pena, nem todos os xadrezistas portugueses o merecerem!... 
A actual Direcção da FPX tem feito aquilo que o país precisa: uma verdadeira limpeza de hábitos, costumes 
instituídos, maior transparência, aquilo que em suma não convém a muitos!... E estou perfeitamente à vontade para dizer isto, porque nem sequer os apoiei. Eles sabem. Eu já lhes disse. Mas agora gosto deles. E porque mudei? Tenho o discernimento suficiente para reconhecer o seu trabalho em prol do Xadrez e por isso hoje têm todo o meu apoio, e naquilo que a mim diz respeito, tenho trabalhado bem com a actual Direcção da FPX. Aplaudo muitas das suas medidas e tomadas de posição, numa altura de severos cortes às Federações Desportivas, deste miserável governo de Portugal… 
Há uma série de jogadores que têm a obrigação moral de participarem neste tipo de provas. Em primeiro lugar a começar pelos jogadores dos clubes do nosso distrito. Um distrito onde ocorrem muito poucas provas deste nível. 
Ainda para mais, num torneio em que distribui prémios em dinheiro. Uma queixa muito frequente entre os nossos jogadores da pseudo elite. Sim pseudo, ouviram bem, porque a elite mundial do Xadrez, meus caros, não mora aqui. Dois deles estão em Chennai na Índia. Sigam-nos. Copiem-lhes os exemplos… 
Não há desculpas. É lamentável que o nosso esforço vá por água abaixo, por falta de inscritos!... Como queremos captar mais praticantes e sponsors se cancelamos um Torneio FIDE, por falta de inscritos? No que a mim me toca, servirá de exemplo: não será tão cedo, que iremos promover um Torneio FIDE desta envergadura, promovido pela AX do Bombarral/CCMB … 



Carlos Manuel Maximiano Baptista 
49 Anos, Antropólogo. Dirigente Associativo há mais de 36 anos e xadrezista de IX Categoria ou menos… 

Bombarral, 7 de Novembro de 2013

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Os jogos do Q.....

Os jogos do Q…..
Os jogos do Q….. estavam prestes a começar, no momento presente decorriam os festejos de abertura. Figuras conhecidas da banda desenhada, infantil e juvenil, dançavam ao som de uma valsa, enquanto na bancada principal o organizador chefe, sorria de satisfação.
Os jogos do Q….. eram provas regulares naquele universo cúbico, por essa razão o organizador tinha grande experiência e quase sempre eram um sucesso. Naquela semana com certeza que não seria diferente, o sucesso estava quase garantido.
Os jogos do Q….. eram campeonatos de futebol de mão, uma variante pouco divulgada no mundo do desporto, mas naquele universo cúbico o público sem excepção rejubilava com as partidas disputadas com muito ardor, mas também desportivismo total.
Os jogos do Q….. eram disputados por oito equipas de seis jogadores, cinco de campo e um para defender a baliza. Cada formação podia apresentar até três suplentes. As oito equipas eram: rosa, vermelha, azul, verde, amarela, branca, castanha e riscada.
Os jogos do Q….. tinham uma curiosidade única, não havia equipas de arbitragem,  e só um simples supervisor controlava toda a legalidade dos lances assim como o tempo de jogo. O desportivismo era de tal ordem que não consta ter havido um simples problema com a arbitragem, seja na parte técnica seja na disciplina. Também não havia forças da segurança, porque nunca acontecera o mais pequeno incidente.
Os jogos do Q….. têm um público com imenso sentido de justiça, aplaudem cada jogada das equipas da mesma forma, seja a sua favorita seja a adversária.
Os jogos do Q…. ao terminarem têm uma estatística de grande desportivismo, nada de cartões amarelos e muito menos vermelhos. Os dirigentes não discutem entre si e o público em uníssono aplaude vencedores e vencidos.
Os jogos do Q….. disputados naquele universo cúbico, são por tudo que acabámos de escrever um exemplo a seguir por todos, sejam dirigentes, jogadores, árbitros, jornalistas e público.
Os jogos do Q….., como é óbvio são um enigma, mas que eles aconteciam, aconteciam mesmo! Digo isso porque eu sou testemunha dos mesmos.

APC, 11/1/2013

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Damas e Xadrez, duas paixões na minha vida!


Damas e Xadrez, duas paixões na minha vida.
Conforme diz um filósofo meu amigo, temos de viver em estado de paixão todo o tempo que passarmos neste mundo. Temos de ter amantes, sempre sem excepção, sejam de que tipo for. Durante a minha existência vivi sempre em paixão, duas das minhas amantes foram as Damas e o Xadrez. Com estas paixões o meu tempo poderia ter sido totalmente preenchido e ainda precisava de mais. Não foi isso que aconteceu, porque muitas outras coisas preencheram o meu percurso. Na verdade a vida de um ser humano é muito curta para uma só dessas paixões quanto mais para as duas. É sobre elas que vou escrever.
Conheci primeiro as Damas, teria nessa altura uns onze anos e foi no Hospital de São José. Na minha enfermaria, um doente fez-me a apresentação do maravilhoso jogo das Damas, já lá vão quase sessenta anos. O homem passava o dia a resolver problemas e eu sempre que podia sair da cama dava logo uma passeata até ele. Fascinado passava lá horas observando e aprendendo.
Durante vários anos o meu contacto com as Damas foi quase nulo, esporadicamente joguei umas partidas com o senhor Américo, um dos anjos de Campo d’ Ourique e na Ermegeira com o meu tio Alberto. O nível era muito baixo, nem eu nem eles jogávamos pilinha, ou seja nada.
Um dia fui viver para Moscavide, e lá, entrei um dia no Café Avenida que como o nome indica estava na principal via do bairro. Aquele Café era também conhecido pelo Café das Damas, porque lá, para além de se beber café e engatar as duas empregadas, só se jogava as Damas. Todas as mesas tinham um tabuleiro com dois a jogar e vários mirones a ver e a comentar. Era um estabelecimento humilde e não muito asseado frequentado por gente do povo. Era contudo uma casa de respeito, não era casa de putas, as empregadas raparigas simples não se prostituíam, iam sem dúvida com quem tivesse lábia e elas engraçassem. Mas eu não comecei a frequentar por isso mas sim atraído pelo fascínio das Damas. Como insecto atraído pela luz, era também eu atraído pelo jogo. Para além do trabalho e de outras paixões foi a minha casa durante os meus dezanove, vinte, vinte e um e vinte e dois anos. Ao fim e ao cabo até ir para o serviço militar, mesmo assim ainda ia lá até embarcar para África em dezoito de Agosto de mil novecentos e sessenta e seis.
Durante os meus dezanove anos fiz uma evolução meteórica, além de fazer muitas amizades. Comecei a organizar coisas, incluindo o campeonato de Moscavide em três categorias, 1ª, 2ª e 3ª, cada categoria foi disputada por dez jogadores. Venci a primeira categoria em 1964 e fui segundo em 1965 estando já na tropa. Organizei uma super prova de equipas a dez jogadores. Competiram nesse campeonato; Moscavide com duas equipas, Odivelas, Almada com duas equipas, Cacém, e Lisboa com duas equipas. Não me lembro de mais, mas é possível que houvesse alguma que agora não me recordo.
Era um jogador muito forte e todos me gabavam pela minha boa educação e postura. Comecei a ser idolatrado, coisa que também acontecia no meu mundo profissional. Lembro-me de jogar no Rossio no Café Portugal com grandes campeões, Mesquita, Mendo dos Santos, que anos depois encontrei em Luanda e com quem joguei, Afonso Fernandes, irmão de Júlio Santos do xadrez, Euclides Costa e muitos outros. Tudo isto aconteceu, após sair às 18 horas do emprego e antes de ir jantar e vadiar.
Fiquei com amigos em todo lado em especial em Moscavide; Armando, Delicado, Julião, Gordo (alcunha), Hélder o mais novo (que encontrei anos depois na Biker em Luanda), Cameira, Inácio, Pires, Grilo, Faísca, João, e muitos mais.
Naquele Café Avenida, muitas estórias se passaram. Os homens, povo simples, eram felizes com a sua paixão pelo jogo. De um modo geral não andavam ali pelas gajas, não se embebedavam nem gastavam dinheiro em batotas. As Damas tinham uma função social, coisa que naquela altura nem me passava pela cabeça. Fui sem dúvida um pouco responsável por todo aquele movimento, como estrela mas também como organizador. Houve outros que colaboraram e muito! Um dia um campeão de Almada foi ao Café para jogar comigo um encontro a dez jogos, contaram à volta da mesa trinta e dois mirones. Está tudo dito…por aqui se percebe a paixão que ia naquele Café Avenida pelo jogo das Damas.
Em Moscavide a razão de haver tanta gente a jogar Damas derivou do pessoal do matadouro municipal. Este organismo tinha muita gente que estava muitas vezes sem que fazer, então para o pessoal não estar ocioso um responsável fomentou a prática deste jogo e em boa hora o fez. Quando fazíamos patuscadas o que acontecia regularmente, a rapaziada do matadouro trazia e fazia um petisco com colhões de carneiro. A primeira vez fez-me confusão, mas depois verifiquei que era bom.
Os tempos passaram, embarquei para Luanda e acabou a minha estória das Damas em Moscavide. Ficaram as recordações de muitos amigos e de grandes batalhas no tabuleiro.
Luanda, Setembro de 1966. Começou a minha saga das Damas em Angola, a primeira partida foi com o Doutor Videira vice-presidente da Câmara Municipal de Luanda, nas instalações do clube da autarquia, depois o meu parceiro por sinal muito fraco foi o velho Loureiro, um jovem com mais de oitenta anos que fora para Luanda já velho para viver com um filho. Estes dois amigos eram muitos especiais, o doutor tinha uma garrafa de whisky em cada cabaret da cidade, estava sempre meio grogue. Por sua vez o velhote era de uma alegria esfusiante, uma imensa vontade de viver. Durante a tropa, entre o trabalho fora do quartel, copos, vadiagem, ir ao clube da Câmara era um escape. Nas agradáveis instalações também se jogava King e Bridge. Tempos mais tarde ao entrar na vida civil, afastei-me e perdi de vista o Videira e o Loureiro na voragem da vida.
Foi então o tempo de conhecer os grandes jogadores de Luanda, Correia considerado o maior, Quintã parceiro com quem joguei durante anos, Santos, Mendes, Eduardo, André, Vicente, Rui, Benjamim, Cunha e muitos outros. A FNAT de Angola convidou-me para colaborar na organização de provas de Damas para trabalhadores, aceitei. Foi assim que conheci muitos negros a jogar e bem, eles eram muito viciados nesta modalidade. Foi o tempo de me deslocar ao interior do musseque para jogar com os velhos sábios, conforme narrativa que faço noutro texto.
Em 1969 venci o campeonato de Luanda e fui a Nova Lisboa (actual Huambo) jogar o Nacional ficando em segundo após longa batalho com o Hilário Elias um super campeão. Mas mais tarde descobri que houve vigarice, em estória longa de contar.
Em 1970 voltei a vencer o torneio de Luanda, nesse ano o nacional foi na capital, venci à vontade porque o meu rival Elias não competiu e os outros não deram luta.
Em 1971 fui tricampeão em Luanda, o nacional foi na Gabela. Numa batalha memorável de sete horas derrotei sem aldrabice o Hilário e pela segunda vez fui campeão de Angola.
No tempo em que joguei as Damas tanto em Portugal como em Angola passaram-se estórias muito interessantes e aprendi muito na vida.
Deixei de competir em Damas, por razões diversas. Em 1972 comecei a jogar Xadrez, foi o tempo do encontro para título mundial Spassky contra Fischer, uma batalha União Soviética/Estados Unidos que empolgou o mundo e muito fez a favor da promoção da Xadrez.
Após o meu regresso a Portugal só esporadicamente joguei provas de Damas, mesmo assim nos anos 1981/82/83 joguei alguns torneios esmagando os meus adversários. Mas era tempo do Xadrez, modalidade que comecei a praticar em Angola a partir 1972 como disse atrás. Não quero passar a narrativa para o Xadrez sem declarar que sempre fui muito feliz a jogar Damas, sempre me deu muito prazer, muito gozo mesmo! Coisa que no Xadrez nem de perto se aproximou! 19/6/2013
Continua….
Vamos então falar dessa coisa chamada Xadrez. O primeiro contacto com este jogo foi a compra de um livro de bolso da colecção Edições de Ouro editado no Brasil, foi no dia 10 de Agosto de 1967. Estava portanto na tropa, foi um motivo de curiosidade pois não gastei qualquer tempo com a sua leitura. No fim do ano de 1968 após passar à peluda comprei um tabuleiro com peças no Bazar Japonês rua Serpa Pinto, loja aonde trabalhava a minha amiga Zé, irmã do camarada Cabrita e mãe do Joel Xavier. Então na primavera de 1969 na casa da Maluquinha da Maianga aprendi as regras em simultâneo com a minha companheira que entretanto chegara a Luanda. Só as regras e mais nada! Dois anos depois em 1971 comecei a olhar com atenção para o tabuleiro e peças, na esplanada do Café Baia na marginal de Luanda, assistindo a partidas disputadas pela malta da JAEA e outros. Em 1972 joguei o primeiro campeonato da 3ª categoria e da 2ª, no ano seguinte 1973 alcancei a difícil 1ª categoria em luta contra 15 fortes jogadores, tendo feito 9 pontos em 15, ou seja 60%, ficando num brilhante 5º lugar. Depois ao jogar o campeonato de Angola, a 3 de Outubro deixei de fumar. Até aí não só fumava como quase os comia.
Em 1974 já depois do 25 de Abril fiquei em 2º no campeonato de Angola, tendo sido campeão o Carlos Oliveira. Em 1975 venci o Angola Livre (nacional da transição) perante uma centena de jogadores.
Neste período complexo e de complexos, organizei diversas provas, por exemplo um torneio internacional de equipas, Angola, Cuba, União Soviética e os Cooperantes (leia-se portugueses). Havia vergonha em assumir a presença dos ex colonizadores. Durante a transição e mais algum tempo o chamado complexo colonial, deu origem a algumas estórias ridículas. Alguém chegou a questionar o porquê das brancas jogavam primeiro, houve mesmo a sugestão de alterar a ordem, assim como deixar de designar as peças por brancas e pretas, sugerindo dar outra nomenclatura às cores. Claro que o bom senso venceu, em parte imposto pelos soviéticos, para quem os angolanos pouco contavam.
A minha vida xadrezistica em Angola pouco interesse tem para mim, o mais importante foi a fundação da Academia de Xadrez de Luanda, projecto impar na capital de Angola. Tenho a história da mesma noutro texto há muito escrito. Merece a pena a leitura dos estatutos da Academia, para os amigos da onça perceberem o que se passava na colónia portuguesa. Claro que não fui só eu, o João Palma também se empenhou na sua criação, talvez até mais que eu. Os amigos do Xadrez foram muitos, recordo alguns nomes, além de mim e do Palma, Mário Silla, Carlos Oliveira, Jorge Gusmão, Mário Morais, irmãos Miranda, os três Gomes, Fernando Vasconcelos, Lima Pereira, Augusto Dias, José Dias, Barbosa, Galvão, José Domingos, Matos, Guimarães, Pais Faria, Trindade, António Correia, Rui Couto, Franco (oculista), Daniel Freire, Araújo Pereira, e muitos mais que agora não recordo o nome, ou que nunca o soube.
Antes de abandonar Angola no fim de 1977, recebi a visita de Mendes de Carvalho figura grada do MPLA, prisioneiro do Tarrafal que aprendeu a jogar com peças feitas de pão e tabuleiro inscrito no chão. Um dia recebi uma carta do governo assinada pelo poeta António Jacinto (ministro da educação), agradecendo o excelente projecto e garantindo o apoio do governo para tudo que fosse preciso.
Regressei a Portugal, mas antes de partir, não toquei no rico património da Academia, ao contrário de muitos outros, nada trouxe, nada roubei. Património angariado em grande parte por mim. O meu tempo de Angola tinha terminado.
27/6/2013
José Bray


domingo, 6 de outubro de 2013

Xadrez de Leiria, no bom caminho!



Xadrez de Leiria, no bom caminho!
Meus amigos, dizem que sou muito acutilante nas minhas análises, dizem que sou demasiado crítico e que tenho a mania que ensino toda a gente. Até há quem diga que sou um velho do Restelo.
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Mas um velho, de aspecto venerando,
Que ficava nas praias, entre a gente,
Postos em nós olhos, meneando
Três vezes a cabeça, descontente,
A voz pesada um pouco alevantando.
Que nós no mar ouvimos claramente,
C’um saber só de experiências feito,
Tais palavras tirou de experto peito:
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-“Ó glória de mandar! Ó vã cobiça
Desta vaidade, a quem chamamos Fama!
Ó fraudulento gosto, que se atiça
C’uma aura popular, que honra se chama!
Que castIgo tamanho e que justiça
Fazes no peito vão que muito te ama!
Que mortes, que perigos, que tormentas,
Que crueldades neles experimentas!

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-“Dura inquietação d’alma e da vida,
Fonte de desamparos e adultérios,
Sagaz consumidora conhecida
De fazendas, de reinos e de impérios:
Chamam-te ilustre, chamam-te subida,
Sendo dina de infames vitupérios
Chamam-te Fama e Glória soberana
Nomes com quem se o povo néscio engana!
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-“A que novos desastres determinas
De levar estes reinos e esta gente
Que perigos, que mortes lhe destinas
Debaixo dalgum nome preminente
Que promessas de reinos, e de minas
D’ouro, que lhe farás tão facilmente?
Que famas lhe prometerás? Que histórias?
Que triunfos, que palmas, que vitórias?
Os Lusíadas, Canto IV

Eu explico, acutilante, sou! Já tentaram trabalhar com uma faca de corte cego? Só serve para cortar manteiga ou espalhar patê (graxa). Criticar, não é maldizer, é analisar e tentar ser honesto. Velho do Restelo não sou…

Ontem 5 de Outubro, aniversário da implantação da República, dia que deixou de ser feriado devido à inteligência dos nossos (in)competentes governantes. Mas o mais trágico é que 5 de Outubro foi o dia que oficialmente Portugal nasceu.

Portugal faz hoje 5 de Outubro 870 anos. O Tratado de Zamora foi um diploma resultante da conferência de paz entre D. Afonso Henriques e seu primo, Afonso VII de Leão e Castela. Celebrado a 5 de Outubro de 1143, esta é considerada como a data da independência de Portugal e o inicio da dinastia Afonsina.

Digam lá se isto tudo não é uma ironia?

Mas voltemos ao xadrez…

Ontem, 5 de Outubro a Direcção da Associação de Xadrez de Leiria, reuniu na sede dos Corvos do Lis, na capital do Distrito. Fiquei satisfeito com a dinâmica demonstrada nesta sessão de trabalho.

Quero dizer que o Distrito de Leiria sempre teve uma acção muito positiva no xadrez nacional, isto desde o longínquo ano de 1976, mais ano menos ano. Núcleos nasceram, núcleos morreram, torneios nasceram, torneios morreram. O epicentro mudou diversas vezes de posição. Mas uma forte dinâmica sempre se fez sentir.

Tudo isto se deve ao trabalho de muitos. Não interessa aqui se gosto ou não das pessoas, trata-se de fazer justiça e ser leal à verdade.

Não vou falar de jogadores nem de campeões, refiro-me a pessoas que contribuíram para a tal dinâmica de que falo. Muitos para além do tempo retirado de suas vidas, ainda o dinheiro que gastaram, alguns inclusive criando problemas na sua vida pessoal.

No tempo mais antigo, temos pessoas como o saudoso José Manuel Almeida, o Serrano, o Victor Cardoso, o tosco Valbom, José Martins Saraiva, António Mamede Diogo, o meu querido amigo João Duarte Santos e mais alguns que no momento não me recordo, porque a memória me atraiçoa.

Mais tarde, pouco, diga-se de passagem, apareceram o Carlos Oliveira Dias, Carlos Quaresma, Germano do Mar, José Cavadas, Júlio Flores, Álvaro Gonçalves, António Curado, etc. Mais recente José Lopes, Carlos Baptista, Rui Feio, Samuel Tonel, Jorge Barrento, Rui Silva, Ricardo Pais, Lima Santos, etc. Agora apareceu o Gonçalo Francisco.

Mas vamos falar do momento actual. Relativo ao passado, para efeitos históricos, faço um desafio a todos que ainda por cá andam que façam a sua parte e contribuam para a história colectiva.

A Associação de Xadrez de Leiria é daquelas que mais mexe, e sabem porquê? Porque tem gente que faz por isso. Tanto na área institucional como na área da iniciativa privada. Neste momento tem uma Direcção que mexe! Como presidente da mesa de assembleia-geral, tudo farei para essa dinâmica não parar.
Temos o Museu do Xadrez Álvaro Gonçalves em Figueiró dos Vinhos, projecto fundamental para quem tenha a paixão pela arte de Caissa, uma utopia realizada. Temos um projecto de dimensão impar no Concelho de Alcobaça assim como outro nas Caldas da Rainha. Não esquecer o projecto de formação em Figueiró dos Vinhos. Temos os Corvos do Lis, algo que há muito desejava na cidade de Leiria. Temos uma lança metida no Louriçal e outra na Colectividade da Charneca, isto no concelho de Pombal. Temos um projecto no Rio Seco. Temos um projecto especial, num Colégio dirigido por freiras. Temos o Bombarral como actual capital, com toda a força de duas equipas, sede da AXL e muitos projectos no horizonte. Temos torneios que nunca mais acabam! Temos o mais importante árbitro de Portugal. Temos o mais impetuoso dirigente do país. Temos alguns filósofos. Temos de tudo, até alguns difíceis de colaborar. Temos até um velho do Restelo!

Temos até um projecto de grande mérito, nascido da alma do nosso António Mamede Diogo, em que os beneficiados traíram com a sua ilógica saída do nosso distrito! Considero ter sido uma atitude imbecil. Ainda por demais sendo um contencioso entre o seu projecto e o clube que ele representou mais de vinte anos com dignidade e humildade e perante uma amizade tão sólida, entre ele e o meu querido amigo João Duarte Santos. Patetas!

Por todas estas razões que fui apresentando, não me foi possível recusar o pedido para ser o coordenador do xadrez jovem no Distrito de Leiria. Prometo utilizar a minha capacidade nessa tarefa!

Muita coisa ficou omissa neste texto, mas Roma e Pavia não se fizeram num dia. Escrever dá-me gozo, razão do meu blogue, por isso por cá andarei se tiver arte e engenho.

Posso dizer, é que estou feliz com o andar da carruagem.

Força rapazes!

Comeira, 6 de Outubro de 2013
José Bray


























segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Comentários anónimos...

Comentários anónimos…
Amigos, há muito que desejava fazer uma observação sobre os comentários que recebo neste blogue. Decidi esta tarde, não deixar passar de hoje.
Gosto muito de receber comentários, a partir deles posso aprender e depois corrigir. Posso também poder esclarecer os meus pontos de vista.
Se algum comentário ultrapassar a barreira do conveniente, tenho sempre a hipótese de anular o mesmo. Mas os outros, mesmo os mais críticos, serão mantidos.
Em princípio responderei a todos. A todos não!
Aos comentários anónimos não responderei, nem darei qualquer esclarecimento. Não respondo, não sabendo quem os faz.
Se forem correctos serão mantidos, se  forem incorrectos terei de os anular.
Não entendo porque razão um comentário, por vezes tão construtivo, tão bem escrito, o seu autor se esconde por detrás do anonimato.
Não entendo!
José Bray


domingo, 29 de setembro de 2013

"Do nascer ao pôr-do-sol" de Luís Veiga


Amigo e camarada Luís Alberto Veiga, presente!
Na montanha, no mar ou na cidade, tu estás dentro “Do nascer ao pôr-do-sol”. Direi mais, tu também estás do pôr ao renascer do mesmo sol.
Ao ler a tua narrativa, enorme lição de vida, um bom livro, deixei-me embrenhar nas suas páginas e dou-te os parabéns por tudo o que foi escrito e a emoção que me causou.
A tua escrita tem emoção, tem humor, tem sofrimento e além de tudo o mais, tem muito para ensinar. Sinto que estou lá, não estando, mas depois estou mesmo.
Percorremos os dois, o mesmo espaço-tempo, vidas diferentes mas parecidas. Parece um paradoxo, mas não é para falar de mim que escrevo este texto.
“Do nascer ao pôr-do-sol”, está muito bem escrito, a obra está estruturada com inteligência. A partir do momento em que o leitor agarra o sabor das palavras, percorre com prazer cada página, não mais saindo de dentro do livro até, à dedicatória final.
Luís Veiga foi um combatente, em cada momento da sua vida, sempre guerreando pela paz e bem-estar dos seus, mas também dos amigos.
O livro é uma lição para nós todos. O autor teve a preocupação de não fazer uma obra lamechas ou de gabarolices. É impressionante a dimensão do seu amor à família, à Fátima, filhas e netos.
As estórias de vida contadas e vividas por ele, são testemunhos de um forte carácter e grande capacidade de liderança. Têm moral, dignidade, sentimento, humor e acima de tudo muita humanidade.
Adorei o seu “Do nascer ao pôr-do-sol”
Conheci o Veiga no quartel de Engenharia na Pontinha em 1966, mas só reparei nele durante a viagem no navio Uíge, quando partimos para a guerra em Angola. De imediato apercebi-me da sua capacidade de lutador e forte personalidade.
Em Angola não tivemos contacto permanente, embora fossemos os dois da mesma companhia. Contudo foi o suficiente para conhecer o ser humano. Aprendi a respeitar o Luís Veiga e ver nele um líder natural. Confesso que não foi o meu principal amigo, mas foi aquele que considerei mais adulto e mais preparado para a vida.
Tudo o que digo encontra-se no seu livro. Nos convívios da CC 1604 foi o camarada que mais trabalhou a par com o Joaquim Carvalho. Foi devido à sua dinâmica e capacidade de liderança que permitiu o reencontro de tantos camaradas.
Obrigado pelo livro Luís Veiga, és um escriba de mão cheia. Não pares, queremos mais!

O amigo e camarada
José Bray

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Vermelho versus encarnado

Vermelho versus encarnado
Gostava de escrever um conto com tinta vermelha. Porque razão está quase instituída como norma que só se deve escrever a preto ou a azul? Ainda se aceita com reservas o verde. Parece-me ser uma tolice, ainda por cima quando dizem ser uma desconsideração. Conheço pessoas que gostam de escrever em cor-de-rosa, outros, foi o meu caso, a roxo ou parecido. Devemos escrever em qualquer cor, o importante é o acto de escrever. Hoje apetece-me escrever a vermelho, ou encarnado no dizer de muita gente.
O problema é que um conto hoje não vai ser parido, pois não me sinto prenhe de talento e forçar é disparate. É quase como forçar a masturbação quando o organismo não pede.
Estou escrevendo só porque me dá gozo escrever, é uma forma de afastar pensamentos que me não dão prazer. Amanhã a minha mãe faz noventa anos, hoje a sua irmã Maria fez oitenta e nove. Penso que um outro amigo faz hoje anos, mas não me lembro qual.
Daqui a pouco vou falar com o Fidalgo por causa do Museu do Xadrez.
Comeira, 23 de Julho de 2013

Tomate Maduro

sábado, 21 de setembro de 2013

Xadrez - Direcção da A. X. Leiria para 2013/2015

Xadrez – Nova Direcção da A. X. Leiria
Ontem dia 20 de Setembro de 2013, foi eleita a nova Direcção da Associação de Xadrez de Leiria.
Como na anterior, nesta Direcção com os meus amigos Rui Feio e João Santos fazemos parte da Mesa da Assembleia Geral. Na minha honesta opinião a Mesa está bem representada. No meu caso pessoal aceitei continuar porque penso ser necessária uma voz que apele ao bom senso e à concórdia.
Evidentemente que concordei com a actual lista. Penso que é gente muito equilibrada e podem fazer alguma coisa pelo xadrez do distrito. Afinal o bem do xadrez é a minha principal preocupação.
Mas não sou ingénuo, sei que existem ingredientes que podem vir a destabilizar o futuro da Associação. Por isso na sua acção, a Direcção tem de ter o tacto necessário para não deixar resvalar para zonas de risco. Por sua vez todos os Clubes devem ter uma postura condizente com a sua missão e os jogadores, directores, monitores e árbitros devem ter um comportamento cívico digno.
O Presidente e a restante Direcção, tudo têm de fazer para não haver conflitos, e se os houver têm de os sanar.
Como já disse neste blogue, a Associação de Xadrez de Leiria é o órgão legal do Distrito todo. Representa os 16 concelhos, tem de se preocupar e promover a modalidade em todos. A Direcção da Associação, do Presidente ao Vogal não pode pensar só no seu Clube.
Dou os parabéns à Equipa (agora eleita) que tem condições e saber para fazer um bom trajecto. Pela parte que me toca, estou disponível para todas as tarefas que me sejam solicitadas, desde que sejam construtivas e eu concorde com elas.

Direcção da Associação de Xadrez de Leiria para o biénio 2013/14

Direcção
Presidente: Carlos Dias
Vice-Presidente: Carlos Baptista
Secretário: Gonçalo Francisco
Tesoureiro: Mário Canaverde
Vogal: Jorge Silva

Assembleia Geral
José Bray
Rui Feio
João Santos

Conselho Fiscal
Daniel Silva
José Henrique
Rui Silva

Conselho Disciplina
Ricardo Oliveira
Duarte Basílio
José Fidalgo

Conselho Arbitragem
Rui Lopes
Pedro Rodrigues
Rafael Correia

Nota que considero importante! Todos os directores têm de produzir, não há nada mais corrosivo numa Direcção do que elementos amorfos e que só entram nas listas para preencher o quadro.

José Bray

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Xadrez - "Velho do Restelo", as alcunhas

As alcunhas no mundo do xadrez.
Um dia um amigo chamou-me “Velho do Restelo”. Não gostei, embora não tivesse ficado ofendido. Sei que foi uma brincadeira, na base de alcunhas a colar a cada um de nós.
Durante a minha vida já fui padrinho de algumas alcunhas que vestiam muito bem no visado, mas sempre com o cuidado de não ferir a dignidade de cada um, outros têm feito o mesmo.
O Vasco Elvas chamou ao nosso saudoso Carlos Quaresma o Dr. House, fabuloso.
O Rui Feio, chamou ao Carlos Baptista o Furacão, boa perspectiva. Ao mesmo Baptista apelidei de Indomável.
Voltando ao Rui Feio, para mim o Capitão América, mas um herói intelectual, nesse aspecto, nas antípodas do herói americano.
Entre nós o Carlos Dias era o Obelix, devido ao seu bigode e dimensão. Por seu lado o Vitor Cordeiro era o nosso Astérix devido às suas parecenças com a personagem da banda desenhada. A mim muitos puseram-me o Druida.
Por sua vez o Daniel Bray é “O Príncipe”.
E por aí fora não faltam alcunhas bem metidas…
Curiosamente, ou não, há pessoas que não têm perfil para serem apadrinhados por uma alcunha, ou que se possa fazer uma caricatura (desenho). Seja no sentido positivo ou no sentido negativo. São os chamados amorfos!
Agora uma coisa é certa e só falo no mundo do xadrez, nada tenho de “Velho do Restelo”, por isso o meu amigo que me perdoe. Para ele entender o seu erro vou dar-lhe algumas informações. Há mais mas não quero exagerar.
Uma coisa, tenho quase a certeza, tenho andado vinte anos à frente!
Cá vai a lista!
Lancei o torneio 25 de Abril na Marinha Grande, com nuances únicas.
Lancei o primeiro Nacional de semi-rápidas equipas.
Elaborei o projecto dos nacionais de equipas. Que outros abandalharam!
Fui o homem que proibiu fumar nos torneios de xadrez. Ainda a FIDE autorizava.
Promovi a criação do primeiro programa informático para os torneios suíços. O Protos que José Coelho foi o pai.
Escrevi a Bíblia da Gestão do Xadrez na A. X. Leiria, linha orientadora para as Direcções.
Tentei a criação de uma Academia central para o distrito. O que deu origem que alguns pensassem na sua Academia local. Eu queria uma Academia acoplada com a A. X. Leiria que apoiassem todos os Clube e promovesse o SABER na área do xadrez.
Como muitos sabem em Angola fundei a Academia de Xadrez de Luanda em 1973.
Tentei uma estrutura para receitas que permitissem capacidade para o Xadrez de Leiria evoluir. Isso partia por se criar uma Empresa em que os lucros iriam reverter a favor da modalidade e ainda poderia criar algum posto de trabalho.
Que aconteceu? É preciso explicar?
Além de tudo o mais, dou aulas de xadrez a custo zero, num projecto renovador, num Colégio exemplar.
Não ando trás de homenagens nem condecorações, nem sequer títulos. Amo o xadrez pela sua arte, ciência, filosofia e quase sentido religioso.
Como disse um dia. Troco qualquer título pelo Museu do Xadrez.
Encontram aqui alguma coisa de “Velho do Restelo”? Ou será que não sabem o que quer dizer “Velho do Restelo”?
É óbvio que alguns camaradas andaram nestes projectos comigo, bem-haja para eles, na parte positiva que lhes calhou, mas também alguns puseram areia na vaselina.
José Bray



quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Daniel Bray - A época 2012/13

Daniel Bray o meu campeão
Terminou a época 2012/13 para o Daniel Bray e para o José Bray (eu). Mas não vou falar de mim mas sim do meu campeão Daniel Bray.
Daniel, jogou trinta e nove jogos de lentas, esta ultima época. Dezoito em provas oficiais, cinco no torneio João Santos, sete no torneio de Fátima e nove em La Capelle.
Em Portugal só perdeu três jogos, fazendo a percentagem de 75%.
No Elo internacional, subiu 120 pontos, estando no momento com 2161 pontos.
Renovou a seu título de campeão distrital absoluto de Leiria.
Na Preliminar Nacional, classificou-se em quarto lugar, sendo o jogador número nove da lista, no meio de setenta xadrezistas. Esta classificação foi a melhor de sempre de um jogador do Distrito de Leiria no campeonato nacional absoluto.
Em La Capelle, foi o melhor português ao conseguir fazer cinco pontos, contra adversários com uma média de 2300 pontos Elo.
Além disso teve inúmeros êxitos em rápidas e semi-rápidas.
De lamentar a sua não participação no nacional sub 20, devido à FPX ter mudado a data dos nacionais de jovens.

Mas acima de tudo Daniel é um campeão na postura, sendo admirado por todos!