terça-feira, 18 de dezembro de 2012

A lenda das palmeiras (versão b)

Era uma vez uma Sanzala, rodeada por um bosque de palmeiras. Povoação feliz, povo saudável, mulheres graciosas plantando mandioca, homens vigorosos caçando e pescando, crianças chilreando no meio das galinhas e dos porcos. A chefia pertencia ao Soba Republicano, velho sábio que servira em jovem num batalhão Republicano quando da queda da Monarquia, razão do nome adorado por si. Homem bom que governava com mestria de Salomão. O povo respeitava-o e tinha grande adoração por ele. Todos sem excepção gostavam de vinho de palmeira o marufo, tirado por sangria que podia levar à morte da árvore. O óleo dela era fundamental para a vida da Sanzala, como tal o velho geria os processos e os tempos de cada exploração, para manter o desejado equilíbrio. Um dia uma grande tristeza se abateu sobre a Sanzala, entrando em todas as cubatas. O velho Soba já muito idoso entregou a alma à natureza deixando o mundo dos vivos. A vida continuou na pequena povoação e foi preciso nomear um novo Soba, após alguma discussão foi escolhido um jovem para o lugar vago. Devia ter sido um velho sábio. Mas o espertalhão lá conseguiu manobrar e subverter a tradição. Negro malandro, tipo convencido da sua ousadia da ignorância, alterou a rotina há muito estabelecida e deu prioridade ao fabrico da bebida que entorpece o povo. Devido à sangria descontrolada, a pouco e pouco as palmeiras foram morrendo, uma após outra. Passando algum tempo já não havia produção de óleo, a bebida por fim também se foi ao morrer a última palmeira. A euforia evaporou-se como fumo, o povo voltou a si acordando mas já não tinha força para sobreviver. Foram morrendo a começar por aqueles que eram mais fracos, acabando nos mais resistentes, algumas mulheres e crianças ainda conseguiram partir, metendo os pés no mundo caminhando na picada vermelha na procura do nada, tentando atingir o nada… A Sanzala ficou em silêncio morrendo também. À sombra de um embondeiro, o espírito do velho Soba encarnado num jovem leão chorava a sorte do seu povo… José Bray – 03/06/2000

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