domingo, 28 de novembro de 2010

A amizade - Homenagem ao senhor João!

Para mim, a amizade é uma coisa sagrada, ou sou amigo ou não sou. Todos nós precisamos de amigos! Nunca traí alguém que fosse meu amigo! Um verdadeiro amigo é coisa rara neste mundo. Felizmente tenho um bom número deles. Hoje vou falar de uma amizade que já tem quase trinta anos, estou a falar de João Duarte Santos, um homem bom natural do Bombarral. O senhor João é uma personagem muito interessante, inteligente, solidário, amigo do seu amigo, um grande desportista. Desenvolveu no seu Concelho um projecto no chinquilho que dura há várias dezenas de anos, nessa organização entram todas as freguesias do Concelho, uma tarefa toda a seu cargo! Também criou a Secção de Xadrez da Casa do Povo do Bombarral, equipa que tem mantido um nível elevado e onde dezenas de jogadores desenvolveram as suas qualidades, tudo à custa do João Santos. Nas provas do Inatel já representei o seu amado clube, jogando ao lado do saudoso Mamede Diogo, sou convidado habitual na festa de fim da época do chinquilho no Santuário do Carvalhal. Por isso sei que este senhor é muito meu amigo, tenho várias provas dessa amizade que eu sempre retribuo com imenso prazer! Neste momento a sua secção de Xadrez está a levar uma homenagem ao seu líder, expressa num torneio especial para convidados. É muito justa esta homenagem, eu mesmo há vinte anos lhe fiz uma, ao atribuir-lhe a troféu de mérito da Associação de Xadrez de Leiria. Não quero fazer um juízo de valor, mas ao ver a lista dos convidados fiquei perplexo, o nome Bray não aparecia, não fiquei zangado mas fiquei triste!

sábado, 27 de novembro de 2010

O meu tio Alberto - Duas lições de vida!

Todos temos pessoas no nosso imaginário que nos tocam profundamente e que muito admiramos, fazem parte do nosso passado e recordamos com muito carinho. o meu tio Alberto foi uma dessas pessoas! Quando penso nele os meus olhos ficam sempre húmidos! mas este escrito não é para falar do sentimento que nutria por ele que nunca se apagou, mas sim para falar de duas lições de vida que recebi dele quando tinha treze anos e me tem servido de exemplo pela vida fora. O meu tio filho de pai judeu era um homem muito inteligente e bem parecido, morreu novo e toda a sua vida foi passada no tempo do Estado Novo. Aprendeu sozinho a ler, assim como o ofício para sobreviver. Era um caçador como não havia outro em toda a região oeste!
Um dia de Setembro acompanhei-o na sua ida à caça (nesse tempo caçava-se todos os dias), connosco ia um cão perdigueiro de seu nome Mondego. Como era hábito, á medida que caminhávamos pelas vinhas, pomares e pinhais, íamos falando de tudo; do Benfica, do Torriense, de filmes, de gajas, dizíamos mal do regime, o habitual. De vez em quando um coelho saltava e até lebres. Em dada altura o tio meteu a arma à cara e pum! Um enorme coelho deu uma cambalhota e ficou-se, Mondego foi de imediato pegar na caça e entregar ao meu tio seu companheiro de muitas caminhadas. Primeira lição, o tio disse. --Ainda bem que é macho, não gosto de matar fêmeas, elas são sagradas! Depois explicou-me porquê...
Voltamos à nossa caminhada, contado histórias, anedotas e outras coisas mais, o meu tio era muito charmoso, um misto de Gary Cooper e Gregory Peck. Os coelhos continuavam a saltar à nossa frente, à esquerda e à direita e o caçador nada. Em dada altura perguntei-lhe, tio não atira mais, não mata mais caça? Segunda lição, o tio parou fixou-me atentamente e numa cara sem riso disse-me. --Zé Manel, para hoje não chega? Corei mas entendi tudo!
Estas duas lições, principalmente a segunda, têm-me acompanhada toda a vida servindo de exemplo para outros, curiosamente não foi nenhuma doutor que me a deu. Obrigado tio Alberto!

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Os Bray - continuação

Vamos mais uma vez falar dos Brays a pedido de alguns familiares. Já houve quem dissesse que nós pouco mais sabiamos e que estávamos a fazer bluff. Então aí vai para provar o contrário.
Como dissemos em mensagem anterior, o primeiro Bray que chegou à Ermegeira nossa aldeia em 1866 foi José Pedro da Roza Bray 1843 casado com Maria das Dores (vejam mensagem anterior). Este avoengo foi exercer o cargo de Feitor na Quinta da Ermegeira. O jovem casal foram pais de seis filhos que na sua descendência povoaram a aldeia de Brays que depois se espalharam por outras regiões. Os filhos foram Silvério 1866 (nasceu nas Carreiras-Carvoeira), Maria Henriqueta 1868, Luiza Maria 1870, Marianna 1872, Amélia 1874 e José 1878. Terá havido filho em 1876? Maria das Dores faleceu em 1880 com trinta e dois anos. O marido terá voltado a casar?
O nosso ascendente directo foi o filho mais velho Silvério Pedro da Roza Bray, que foi responsável por uma família prolífera, como abaixo se verá. Este reguila casado com Henriqueta Maria foi pai de António, Mário, José, Maria Henriqueta e Felicidade, destes filhos nasceram trinta e um netos, dezasseis rapazes e quinze raparigas. A nossa avó foi Maria Henriqueta.
Dos outros filhos do JPRB de que falaremos noutras mensagens, não houve grande descendência. Agora já sabemos que muitos perguntarão depois de afirmarem – Desses já nós sabemos, queremos mais para trás. Então cá vai!
O pai de JPRB, foi António Pedro da Roza Bray 1807 casado com Maria Santanna, o pai deste foi António Agapyto da Roza Bray 1776 casado com Violante Maria de Barcellos, o pai deste foi António Francisco da Roza Bray 1742 casado com Joaquina Santanna. Com este ultimo apareceu pela primeira vez o nome Bray. Ainda recuamos três gerações mas nos registos não aparece o apelido! Foram estes ascendentes os seguintes, Manuel Francisco 1702 casado com Maria Josefa, António Francisco casado com Luzia da Conceição e Pedro Dias casado com Maria Francisca. Como é fácil de constatar esta investigação leva-nos ao reinado de D. João V.
Alem de nós, andam outras pessoas a investigar a origem dos Brays de Carmões e dos Brays de Coimbra. Nesta cidade apareceu uma família Bray no inicio do século XVIII, segundo parece descendente dos Tudor. Mas ainda não conseguimos encontrar ligação entre as duas famílias.
Por agora ficamos por aqui. Mas descansem porque sabemos mais sobre a saga Bray, mas fica para futuras mensagens! Queremos que outros Bray e não Bray colaborem!

domingo, 21 de novembro de 2010

Opens de Xadrez - Inscrições e Desportivismo

Fazem-se Torneios de Xadrez de carácter não oficial quase todos os fins de semana, acontecendo mesmo dois ou três nas mesmas datas. Estou a falar dos chamados Opens de semi-rápidas, provas com um ritmo que pode ir de 15 a 30 minutos para cada jogador. Estes Torneios salvo a excepção são disputados num só dia. Como muita gente sabe fui dos primeiros a fomentar esse tipo de prova, exemplo o Torneio 25 de Abril da Marinha Grande que durou duas dezenas de anos. Esta prova através dos tempos teve contornos muito curiosos, mas isso fica para outra mensagem. Cada organizador apresenta carateristicas próprias nos seus eventos, depois há pormenores a que todos se assemelham. Só quero chamar a atenção para questões que me parecem oportunas. Então vamos lá!
Nestas provas entram uma grande miscelânea de xadrezistas, de mestre internacional a amadores que pouco mais sabem que mover as peças. De profissionais a simples apreciadores lúdicos, de idosos com mais de oitenta a crianças de seis anos. Todos pagam uma inscrição excepto os jogadores titulados. Estes mestres, são os que ganham os prémios monetários! A minha pergunta é. Isto tem alguma lógica? Nunca em torneio organizado por mim ou sob o meu apoio isso aconteceu! Eu conheço os argumentos desses mentores... assim como tenho os meus argumentos para contrariar a tese. Eles dizem, é para valorizar a prova! Eu digo, tão importante é o fica em primeiro como o fica em último! Respeitemos as duas opiniões! Mas, há sempre um mas... A mim parece-me é que há um excesso de subserviência dos organizadores dos ditos Opens! Só se zangará quem enfiar a carapuça.
O desportivismo sempre necessário em qualquer competição ainda é mais importante neste tipo de prova. Muitas vezes isso não acontece, tornando-se uma selva do salve-se quem puder. Parece-me anti pedagógico certas pressões exercidas sobre crianças de pouca idade sem qualquer experiência nem capacidade de se defenderem. Conheço miúdos e miúdas que abandonaram o xadrez devido a esses conflitos. Nós os organizadores destas provas temos de estar muito atentos a esta questão!

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Xadrez - O sacríficio do Elias

Passaram-se quase vinte anos, mas parece que foi hoje. Elias entrou na sala a medo, demonstrando muita timidez. Gordinho com movimentos obtusos, enorme para a idade, tinha doze anos. Vinha sem dúvida ao cheiro do xadrez, de imediato o seu interesse ficou à vista de todos. Evoluiu em muito pouco tempo, mais rapidamente que os outros garotos.
Os responsáveis do clube começaram a reparar no rapaz, deram-lhe o apoio necessário para ele poder competir oficialmente.
Certo dia veio ter comigo e desabafou. -- Os meus pais não gostam que eu ande no xadrez. Dizem que é um jogo de azar e é por isso pecado. -- Prometi ajudar e ele lá foi para casa mais animado. Os ignorantes paternos pensavam que este jogo podia ser a perdição do filho.
Fomentei um encontro casual com um dos progenitores. O pai nunca o vi mas a mãe lá consegui apanhar. Expliquei à senhora que o xadrez é um jogo de inteligência e como tal podia beneficiar muito o rapaz no estudo e na vida. A mãe aceitou mas não me pareceu muito convencida.
O tempo foi passando e o Elias foi desenvolvendo o seu nível de jogo. Todos nós sentíamos que ele era feliz. O rapaz tinha bom feitio e ia fazendo amigos.
Um dia o nosso clube foi convidado a ir disputar um torneio lá para as bandas de Fátima. Era uma prova simples mas muito bem organizada. O nível não era elevado, por isso pediram-nos uma equipa de segundo plano e nós aceitámos.
Escolhemos vários jogadores, entre eles, o nosso Elias. Ele ficou super contente e lá convenceu os pais para o deixarem ir.
A prova foi muito agradável, o ambiente excelente. A nossa equipa venceu e todos receberam valiosos trofeus. No fim a organização ofereceu um lanche à rapaziada.
Os jogadores da equipa regressaram contentes e o nosso jovem transbordava de felicidade.
Todos estávamos convencidos que estava ali um futuro campeão.
Mas, o insólito aconteceu! O rapaz não apareceu mais! Entretanto fomos informados por outros jovens do xadrez que o Elias fugia sempre que eles se aproximavam.
Depois de algum tempo consegui encontrar o rapaz, já ele tinha catorze ou quinze anos. Muito envergonhado explicou-me que os pais lhe tinham batido quando ele chegou do tal torneio e mais, tinha sido proibido de jogar xadrez. Por essa razão não tinha ido mais ao clube. Disse-me isto com as lágrimas nos olhos. A religião dos pais não admitia festas ou convívios fora da alçada da sua igreja.
Senti-me impotente, queria ajudar o Elias e não encontrei solução. Santa ignorância! Por respeito, não nomeio a dita religião. Mas de Cristo nada tem. Não passa de uma seita hipócrita!
Os anos passaram, muitas coisas aconteceram. De tempos a tempos, ao longe via o moço, mais gordo, mais obtuso, sempre tímido e triste.
Há semanas, andava circulando ao acaso alinhavando as ideias, de súbito aconteceu algo que me deixou horrorizado! Ao passar junto de uma zona degradada apercebi-me de um bando de rapazes, eram drogados e traficantes. Algo me pareceu familiar, observei melhor, lá estava ele o Elias. Parecia um farrapo humano, magro, roto e sujo. Aproximei-me, todos pediram moedinha menos ele. Voltei a sentir-me impotente e não tenho vergonha em confessar que chorei. Depois fiz algo…
O Elias foi sacrificado em nome de um Deus que nada fez por ele! Os pais foram os carrascos!
Afinal a sua salvação estava na Deusa do xadrez Caissa!
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Este conto é uma história real, dedicado a todos os meninos e meninas que amam o xadrez e que os pais por ignorância não os deixam praticar o jogo mágico.
Marinha Grande, 20 de Abril de 2004
José Bray