terça-feira, 18 de dezembro de 2012

A lenda das palmeiras (versão a)

Os meninos e as meninas conhecem a lenda das palmeiras? Era uma vez uma Sanzala muito pequena rodeada por um bosque de palmeiras e governada por um Soba sábio, a muita idade tinha-lhe dado bué de experiência e bué de saber! Era um homem bondoso, muito preocupado com o futuro do seu séquito, pequeno por sinal. A Sanzala ficava longe, muito longe mesmo, lá para as bandas do leste, no coração de África. Para complicar, a povoação estava afastada de outras iguais, muitas dezenas de quilómetros. O povo governado pelo seu líder sobrevivia com todo o tipo de dificuldades, mas com a imaginação e prudência do Soba lá se iam aguentando. As palmeiras faziam parte da vida daquele povo, óleo para a alimentação e outros fins, a seiva para fazer a bebida que eles tanto gostavam. Plantavam mandioca e no rio havia bastante peixe! O sabedor Soba controlava a exploração do palmeiral, de modo a não criar os desequilíbrios. O chefe no momento próprio indicava as palmeiras a sangrar, a sua seiva servia para fazer a desejada bebida alcoólica, não deixando haver exageros, porque para a sobrevivência do povo o óleo era mais importante, mas eles gostavam mais da bebida que lhes dava um estado de embriagues feliz. O trabalho do Soba ano após ano era não deixar a vício avançar, coisa que conseguiu, assim a vida decorreu com alguma tranquilidade! Um dia o velho Soba Republicano, assim era o seu nome em honra da oposição à monarquia, morreu! Uma grande tristeza abateu-se em todas as cubatas! Para suceder ao falecido foi escolhido não um sábio mas um jovem bêbedo, vaidoso convencido na sua ousadia da ignorância. Começou por alterar os procedimentos do velho Soba, especialmente no que respeita à colheita do óleo e do marufo. De imediato começou a sagrar as palmeiras para fazer muita bebida e andarem todos felizes. Aquele povo passou a andar sempre drogado e em grande euforia, cada dia que passava mais alcoolizados estavam, era uma tristeza ver aquela gente deitada nas cubatas e à beira do rio, sem capacidade para pescar nem plantar a mandioca. A produção do óleo diminuiu rapidamente, também ninguém se lembrava disso, estavam sempre noutro mundo, o fim lentamente começou para aquela gente…ninguém já trabalhava a não ser na sangria, pesca nada, mandioca nada. As crianças começaram a ficar doentes e a morrer por falta de substância, e os adultos também. Por fim devido às sangrias as árvores morreram e acabou a bebida, a euforia foi-se, chegou a depressão e a ressaca, agora o povo já não tinha forças para sobreviver. Continuaram a morrer os mais fracos, os restantes meteram as pernas ao caminho, tentando atingir o nada… A Sanzala ficou em silêncio morrendo também, perto, debaixo de um enorme embondeiro o espírito do velho Soba encarnado num jovem leão chorava a sorte do seu povo! José Bray – 31/05/2000

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