A mãe Natal
Vinte e quatro de
Dezembro, era grande a azáfama na Lapónia, centenas de idosos preparavam-se
para partir nos seus trenós através do mundo para entregarem aos meninos as
prendas de Natal. O pai Natal nº 2013 estava entre eles, nesse dia abusara da
bebida, vício que apanhara nas idas a um pequeno país do sul da Europa. Antes
da hora da partida decidiu ir a casa dormir um pouco para recuperar a lucidez.
A companheira do
pai Natal nº 2013, estava muito zangada porque o seu homem voltou a entrar em
casa com o abatatado nariz, muito vermelho, mais parecendo um tomate maduro, em
enorme contraste com a barba branca e o barrete verde.
-
Homem, outra vez com os copos…Não tens vergonha? Logo hoje que tens a tarefa de
levar os presentes às crianças conforme está estipulado pelo São Nicolau. Como
vais conduzir o trenó nesse estado?
- Querida
mulher, meu amor. Não te preocupes, não há problema, as renas já sabem, de
olhos fechados, o caminho.
-
E o exemplo que dás às crianças? Achas bem se alguma te vê ou sente o teu odor?
-
Deixa lá, os meninos àquelas horas da noite estão todos dormindo.
Após esta
declaração, o velho pai Natal de longas barbas brancas e junto a uma fogosa
lareira, sentou o seu amplo traseiro no confortável sofá da sala. Rapidamente adormeceu
e alguns minutos depois ressonava alto e em bom som.
-
Isto está mau este ano, o meu homem precisa de reforma…
Assim pensava em
voz alta a ruiva e anafada companheira do pai Natal 2013 que dormia a bom
dormir.
-
Acorda homem, tens de atrelar as renas e carregar o trenó, senão fica tarde
para partires.
Mas qual quê, o
pai Natal não dava sinais de acordar, o seu ressonar parecia um trombone. Foi
então que a dinâmica mulher tomou uma atitude.
-
Vou realizar o meu sonho de menina, ir entregar as prendas às crianças, mas às
pobres. Ah! Ah! Ah!
Se assim pensou,
mais rápido o executou. Perante o olhar incrédulo das seis renas, atrelou-as ao
trenó. Depois carregou as centenas de presentes, pegou na lista de distribuição
e partiu feliz. O destino desse ano que calhava ao pai Natal nº 2013, era uma
pequena cidade de Portugal. Uma povoação com muitos ricos, mas muitos mais
pobres.
Como convém numa
noite de Natal, estava muito frio, o céu estava limpo, carregado de estrelas.
Nas zonas mais elevadas um manto de neve cobria os cumes até meia encosta.
O trenó guiado
pela mãe Natal fazia um vistão lá no céu, flutuando entre a terra e a lua.
Iluminado por dezenas de luzes e igual número de guizos tocando melodias
próprias da época.
A anafada mãe
Natal, ia lendo os nomes e as moradas das crianças eleitas para receber os
presentes dessa noite mágica. A mulher já tinha uma ideia fisgada! Ao chegar à
cidade do destino, as luzes do trenó foram desligadas e os guizos emudecidos.
Por norma do pai Natal chefe, os trenós tinham de passar despercebidos e muito
menos podiam ser vistos.
Como a mãe Natal
já calculava, todos os endereços eram de casas opulentas, de pessoas com muito
dinheiro. Numa atitude enérgica rasgou a lista em duzentos e cinquenta e seis
bocadinhos que lançou no céu sobre a cidade. Ao mesmo tempo pediu ajuda ao
menino Jesus.
-
Meu querido menino Jesus, faz que cada bocadinho de papel caia sobre a casa de
um menino pobre para lhe poder levar um presente de Natal.
O menino Jesus
ficou maravilhado com o desejo da mãe Natal. Não só encaminhou os papelinhos
para as casas das crianças pobres, como lhes deu luz de estrela, para orientar
a mãe Natal nas entregas.
Com grande
eficiência a mãe Natal executou a sua tarefa de bem-fazer. Tinha realizado o
seu sonho de menina!
Naquela noite de
Natal os meninos pobres daquela pequena cidade receberam a sua prenda,
oferecida pela mãe Natal com ajuda do menino Jesus.
Na Lapónia o velho
e rabugento pai Natal continuava no seu sono de bêbedo, ressonando alto e em
bom som.
Comeira, 4/12/2013
José d’ Barcellos
Para, Francisca
no seu primeiro Natal.
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