sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Prostituição - antes, depois e agora

Eu sou do tempo em que a PROSTITUIÇÃO era legal em Portugal, ou seja; foi assim até 31 de Dezembro de 1962. Entretanto na ONU as criticas foram muitas e o ditador Salazar decidiu, então, proibir essa prática. Como ditador que era, não pensou encontrar solução para o problema dessas mulheres; proibiu e pronto.
Era assim o regime fascista. Quando veio o 25 de Abril tive esperança que o problema ia ser equacionado e, soluções com cabeça iam ser encontradas. Grande ilusão!
Passados trinta e seis anos está tudo na mesma ou pior. Afinal para que serviu a revolução?
Hoje, ao viajar por uma estrada nacional e numa distância de cem quilómetros encontrei à beira do caminho, dispersas por vários locais, mulheres, algumas pouco mais que adolescentes, que esperavam clientes.
Ao chegarem a acordo, o acto é consumado no meio do mato ou algo semelhante, sem qualquer privacidade ou higiene.
Isto que relato não há ninguém que não saiba. Até o PODER deve saber, ou não? Penso que sim, mas não fazem nada para encontrar uma solução. Não é possível acabar com a prostituição, devido às mais variadas questões; não sejamos hipócritas e vamos dignificar toda esta situação.
Penso que não é preciso dizer mais, para bom entendedor basta!
Vou transcrever um texto com humor negro mas que caracteriza aquilo que se passou nos anos sessenta, mas que a Revolução de Abril não resolveu…


Prostitutas
O Botas está feliz! O Botas fez um milagre!
No dia trinta e um de Dezembro de sessenta e dois havia em Portugal quinhentas mil prostitutas, recenseadas, pagando os seus impostos e com a vagina fiscalizada. Cada uma com seu chulo, ou seja quinhentos mil a viver à custa das trabalhadoras do sexo, não contando com as donas dos quartos onde era exercida a profissão mais antiga do mundo, e as amas que tomavam conta das crianças das prostitutas.
No dia um de Janeiro de sessenta e três, já não havia prostitutas em Portugal. Milagre do São Salazar, padroeiro do Estado Novo.
Deixou de haver mulheres da vida, acabou o chulo protector da prostituta, acabaram os proxenetas, os quartos não mais foram alugados e as amas foram para o desemprego.
O Botas está feliz! Em Portugal não há prostituição.
Os senhores da ONU, já não vão chatear mais. Tudo simples, Salazar com a sua varinha do condão, fez o difícil milagre. Mas, há sempre um "mas", Portugal entrou em recessão técnica, ruptura financeira, as receitas do Estado Novo decresceram rapidamente, sendo esta uma das principais causas.
Afinal a ONU tinha razão, quando dizia que o Salazar governava o país com as receitas da prostituição. E, agora que fazer? Pensou o medíocre professor de Coimbra. Simples, a solução é fácil. Assim falou o seu capanga de confiança. - Senhor doutor, sempre que uma ex prostituta meter a cabeça na rua, a partir do pôr-do-sol, leva uma tremenda multa. -Mas as mulheres não podem sair à noite? Perguntou Salazar: - Podem mas a polícia não sabe. Além disso, multa-se todos os locais que aluguem quartos, sempre que, dentro desses quartos , estiver um homem e uma mulher. -Então nos hotéis, nas residenciais, nas estalagens, mesmo entre marido e mulher? Voltou a perguntar o ditador. -Claro, a polícia não sabe nem tem nada que saber, mas mais, vão começar a aparecer doenças venéreas, esquentamentos, sífilis, sida, e outras mais ou menos perigosas. -Mas a sida ainda não apareceu. Admirou-se o Botas. -Não faz mal nós inventamos essa doença. -Mas tudo isso não é mau para a saúde pública? Coçou a cabeça Salazar, ao mesmo tempo que bebia o seu licor favorito feito do sangue dos portugueses. -A intenção é essa, os hospitais vão estar cheios, os médicos e as enfermeiras vão ter muito trabalho e a indústria farmacêutica vai facturar em grande e depois as empresas pagam mais impostos. Os cangalheiros vão vender caixões em quantidade industrial, são mais impostos.  Salazar sorriu de satisfação. Este capanga, mesmo sem curso era esperto.
Contra o que era habitual, o ditador agarrou com unhas e dentes as sugestões, do monstro que tinha como capanga. Como se sabe, Salazar mandava para debaixo da mesa as sugestões de qualquer ministro mais evoluído. Agora, o Botas estava duplamente feliz. Não havia mais prostitutas em Portugal e a pátria tinha a economia estabilizada.
Marinha Grande, 26 de Agosto de 2009
José d´Barcellos

Aqui está mais uma história triste do Estado Novo. Salazar ao ser confrontado na ONU, com a situação da prostituição em Portugal, foi pelo caminho mais fácil. Proibir a prática da indústria do sexo, à qual o regímen ia buscar altos rendimentos. Claro, que as prostitutas continuaram a trabalhar, agora na clandestinidade, sem protecção legal e sem assistência médica. Isto deu origem a graves problemas de saúde pública. Por sua vez, a polícia começou a multar e a prender sempre que apanhava uma mulher em sítio duvidoso, partindo do princípio que era uma profissional do sexo. Mais uma vez a hipocrisia do Estado Novo se manifestava no seu apogeu. Isto era o fascismo. Uma cidadã ser controlada nas ruas de Lisboa, fosse a que hora fosse, era uma arbitrariedade vergonhosa.
Como os leitores podem constatar, não foram só os comunistas que tiveram de estar na clandestinidade.
José Bray

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