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- O 25 de Abril de 1974
Mais um dia de
labuta, na laboriosa colónia portuguesa da costa ocidental de África, ia
começar. Estava muito calor no micro clima de Luanda, mas em breve vinha aí o
cacimbo.
Um jovem casal de
brancos, saía do prédio onde residiam na rua do Quicombo em São Paulo há cerca
de quatro anos. Com eles vinha uma menina de três anos, bonita como um raio de
sol. A elegante mas não sofisticada mulher dirigiu-se para a Paiva Couceiro, lá
passaria a carrinha que a levaria ao seu local de trabalho para as bandas da
Cuca. O homem entrou no carocha bege após sentar a menina em segurança no banco
de trás. O carro com cerca de dez anos adquirido a prestações por trinta
contos, dirigiu-se para a baixa da cidade mais concretamente para a rua Serpa
Pinto.
Ainda não eram
oito horas mas o sol já queimava nas costas dos transeuntes. A estação das
chuvas ainda não terminara, embora em Luanda a água raramente caísse com
regularidade, devido ao clima próprio da área urbana da capital. Por vezes uma
forte bátega, que assim como chegava passava. Pouco depois da enxurrada tudo
ficava seco, sem nenhum vestígio da chuva. Era assim na cidade, na estação das
chuvas, mas com pouco água. A vinte quilómetros já chovia todos os dias.
A cidade de Luanda, era e continua a ser uma
zona sem água no seu subsolo. Segundo diz quem sabe, a ilha de Luanda tinha
água mas salobra, por isso deve continuar a ter embora salobra seja na mesma. A
norte, não muito longe a água já abundava e abunda. Na época desta saga, o
precioso liquida vinha da barragem das Mabubas que era abastecida
principalmente pelo rio Dande ou Dange. A barragem destruída em parte, por duas
vezes, durante a guerra civil, foi reconstruída e posto a funcionar há pouco
tempo. No Século XVII durante o seu domínio os holandeses mandaram construir um
canal para levar a água do Kwanza até Luanda numa distância de aproximadamente
200 quilómetros. Penso que o canal nunca foi concluído e muito menos funcionou,
porque os cabrões levaram para contar e zarparam. Contudo, através da selva e
da savana, ainda se encontra vestígios do tal canal.
Mas deixem-me
voltar à minha narrativa.
O carro do povo,
conhecido também por carocha, parou junto a um colégio creche, instalado numa
vivenda colonial com amplo jardim. Nessa instituição ficaria a menina todo o
dia até o pai voltar para a levar para casa. A Ana ficava contrariada e uma
lágrima aparecia ao canto dos seus lindos olhos azuis. O pai amargurado partia
após muitas recomendações às empregadas da creche.
O jovem técnico,
director daquela empresa, cumprimentou os funcionários, para depois entrar no
seu gabinete. Pediu um café à empregada da limpeza, por sinal uma branca das
Beiras. Depois embrenhou-se nos projectos suspensos, que estavam espalhados
pela secretária e estirador, esperando a sua apreciação. O homem deixara de
fumar há cerca de seis meses, agora vingava-se no café para compensar os três maços
de MC que deixara de consumir por dia.
Luanda, jóia da
coroa do Império português. Eram agora oito horas e vinte minutos do dia 25 de
Abril de mil novecentos e setenta e quatro. A telefonista bateu na porta do
gabinete de trabalho de Alberto de Castro.
- Senhor Castro,
sua mulher na linha dois, atenda por favor.
- Olá querida que
se passa? Está tudo bem?
- Alberto, acabei
de saber que rebentou esta madrugada uma revolução em Lisboa, não se sabe é se
é de direita ou esquerda.
- Não me
digas…como soubeste? Aqui para a baixa ou no escritório ainda não transpirou
nada. Não será boato?
- Não querido,
soube através do Daniel Freire, que por sua vez soube da mulher Lina que como
sabes trabalha para o governador. É mesmo verdade! Seja de esquerda ou de
direita, tudo vai mudar… A menina ficou bem?
- Mais ou menos,
como sempre de lágrima no olho, aquela menina não se adapta ao colégio.
- Com o tempo vai
lá, não fiques preocupado. Então um beijo e tem juízo, à noite falamos. Não
venhas tarde.
Castro poisou o
telefone e ficou uns minutos apático. A emoção encheu a sua alma, mas logo
inúmeras dúvidas se levantaram na sua mente: mente demasiado racional. Acabou
de beber na calma o café que a empregada de limpeza lhe levara, de seguida
levantou-se e entrou de rompante no gabinete do administrador.
- Barradas, vem aí
borrasca! Há uma revolução em Portugal…
O administrador,
empalideceu primeiro, depois ficou vermelho. Mal conseguia articular palavra,
coisa normal nele quando se enervava ou excitava. A gaguejar ainda balbuciou.
- E agora Castro,
é bom ou é mau?
- Para a metrópole
ou para a colónia?
- Para Angola,
estou-me borrifando para a gajada de lá.
Os dois
responsáveis daquela empresa multinacional ficaram um tempo calados. Sem nada
dizerem. Depois Castro encolheu os ombros e saiu em direcção à sua sala de
trabalho porque tinha muito que fazer, o patrão ficou sentado a olhar para a
parede branca do gabinete com o seu habitual ar apatetado.
Nesse dia, Alberto
de Castro não foi almoçar a casa. Devido ao excesso de trabalho foi tomar uma
refeição ligeira na Mutamba, tasca popular com bons petiscos. Casa que muitos
amigos frequentavam, entre eles este escriba. Mas no fundo, o Alberto queria
era saber mais novidades.
Por diversas
fontes já todos sabíamos alguns pormenores da tal revolução. Lembro-me de uma
pergunta que o José d’ Barcellos fez ao Alberto de Castro.
- E agora que
achas que vai acontecer
- O que vai
acontecer? Não sei, ninguém sabe. Mas sei que estamos todos fodidos, brancos,
pretos e mulatos.
Cavaqueamos um
pouco e depois fomos todos, cada um para o seu trabalho, cada um com o seu
pensamento, cada um com sua preocupação. Era uma quinta-feira.
1/1/2014
Djapam
Então o capitulo 03? Foi esquecimento?
ResponderEliminarNão ilustre anónimo, não é esquecimento. Djapam não autoriza alguns dos textos. Lamento mas ele é que manda.
ResponderEliminarNão é justo para os seguidores a omissão de parte dos Cooperantes! Meta uma cunha ao seu amigo...por favor!
ResponderEliminarIlustre anónimo, Djapam não vai ceder, ele é muito teimoso nas decisões tomadas. Contudo se der a conhecer a sua identidade, talvez o meu amigo lhe faça chegar os textos em falta, perante uma garantia, da não divulgação pela sua parte.
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