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– Djapam
Quem é Djapam? Sou eu, o escriba desta estória intitulada
de “Cooperantes”. Filho de um preto e de uma branca. É verdade, sou um mulato,
mas com muito orgulho em o ser.
Meu pai, que era
um velho sábio, repetia muitas vezes uma frase que me viu crescer: dizia ele.
“Os pretos nunca
serão livres enquanto não gostarem de ser pretos, os mulatos têm de entender
que há mais do que branco e preto na natureza e os brancos só serão gente
quando forem enegrecidos pela vida”.
Era o raciocínio de um filósofo empírico,
grande senhor da floresta, dos rios e do capim.
Tenho honra em ser
mulato. Realmente no mundo há as cores do arco-íris e também todas as misturas
possíveis. Meu pai tinha razão…que descanse em paz. As suas cinzas há muito
foram lançadas nas águas do rio Cuanza.
Esta narrativa
fala de um tempo que vai de Abril de 74 até fins de 77, durante todo esse espaço
de mil e trezentos dias, mais dia, menos dia, vivi com a minha preta numa
vivenda da Vila Clotilde, espaço que meus pais compraram com o sacrifício de
uma vida. Hoje passados cerca de quarenta anos, já velho, ainda lá vivemos.
Nesta casa, nosso paraíso, nasceu toda a minha filharada.
A minha residência
a que chamo casa encantada, tem uma estória no passado que merece ser contada
se para tanto me der o engenho e a arte. Foi uma transcrição oral do meu amigo
José Brandão, que conheceu os residentes e ao saber da coincidência da minha
morada, fez o favor de relatar o passado do residente anterior que ele conhecia
bem. Isto aconteceu no dia em que partiu para Portugal numa viagem sem retorno.
Inclusive, deixou-me um manuscrito com o texto.
Sinto que nasci para
a escrita, saí à minha mãe que era professora muita virada para as letras. O
meu pai era sábio mas a minha mãe sábia era, além disso tinha sido muito
enegrecida pela vida. Hoje dedico-me a pregar a palavra de Cristo, opção tomada
exactamente no fim da saga que descrevo.
Há muito que
desejava escrever este livro, mas ainda não tinha tido coragem. Foram tempos
épicos da história do meu país. Foram tempos de muito amor, amizade e
solidariedade, devido às óbvias e excessivas dificuldades. Finalmente este ano,
já no décimo quarto do século XXI, senti um apelo a essa escrita. Não por nós
que a vivemos, mas como herança aos nossos filhos, netos e por aí afora.
O relato, que faço
nos “Cooperantes”, tem a intenção de dar a conhecer algo daquela época, Que
coisas que se faziam, que tipo de gente era aquela que por cá andava. Como
actuavam aqueles que, primeiro eram terroristas, depois libertadores, mais
tarde políticos e por fim poder, ou seja governo. Talvez no fundo não fossem
nada disso, mas sim aprendizes de tudo um pouco.
Heróis foram
aquelas gentes anónimas, pretos, mulatos, brancos e de mais cores, que ajudaram
a ser o que hoje somos, tanto portugueses como angolanos ou de outras
nacionalidades. Gostaria que se fizesse alguma luz e justiça também.
As pequenas
estórias relatadas nos “Cooperantes”, interligam-se e têm sempre uma moral e
uma informação, não estão só por estar. Tudo é verdadeiro, excepto algumas
magias. Alguns personagens estão debaixo de pseudónimos, outras são mesmo de
ficção. Assim acontece com as empresas e os produtos fabricados.
Os anos passaram e
muitos já partiram, um dia nenhum de nós estará por cá, mas andarão os
descendentes, e os “Cooperantes”, será uma obra de homenagem aos seus
antepassados, intérpretes de uma saga muito especial, o nascer de Angola como
nação, considerada por muitos a terra prometida.
Vamos ao trabalho…
9/1/2014
Djapam
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