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- Coluna, um trabalhador campeão!
Um dia numa
tertúlia de amigos, discutia-se a capacidade de trabalho do branco e do negro.
Cada um tinha a sua opinião. Algumas bem reaccionárias. Mas outras não.
Enquanto íamos bebendo uns finos e deglutindo uns carapaus fritos, cada um
esgrimia os seus argumentos. Foi então que o Brandão com a sua verbosidade de
quem sabe o de diz, quis contar uma parábola real. Com isso ele desmistificou
toda a conversa da treta da rapaziada. Dizia ele...melhor…com sua autorização
vou reproduzir um texto da lavra de José d’ Barcellos feito a seu pedido.
Hoje recordei um
homem com H grande, um campeão, um famoso capitão de seu nome Coluna. Comandava
os companheiros com seu exemplo, respeitando e sendo respeitado. Vós sabeis de
quem falo? Vós conhecestes essa personagem? Quase todos dirão que sim: o Mário
Coluna capitão do Benfica europeu. Dirão, dirão! Lamento, mas foram tiros na
água. Não é esse, é outro de quem ninguém se lembrará, sou talvez a excepção.
Coluna não era o
seu nome, mas sim a alcunha. Nunca soube qual a analogia com o seu chará? Eram
os dois negros, um de Angola outro de Moçambique, mas só por isso não
justificava o plágio do nome. O meu colaborador, era alto, ossudo, carrancudo,
podia-se dizer que era um ser sem beleza física, mas grande beleza de carácter,
cumpridor, responsável, sem conflitos: embora sempre com uma expressão
carregada. Não era instruído, nem rico, nem bonito, mas era um ser fabuloso.
Como o outro Coluna, um grande campeão e um grande capitão.
O meu amigo
Coluna, homem na casa dos quarenta, era montador de prateleiras, chefe de
equipa. Como todos os operários era mal pago, fosse na metrópole, fosse na colónia:
mas para preto era pior. Sem prémios de rendimento, sem subsídios de
alimentação ou deslocação. Tudo ao contrário do que acontecia na empresa na metrópole.
Coluna sem ser bajulador, era sóbrio e confiável. Todos eram explorados mas o
meu amigo era mais, porque distinguia-se como trabalhador e recebia o mesmo.
Uma das minhas utopias
era mudar o cenário dessa situação. Após conflitos com a administração consegui
levar a água ao meu moinho. Por várias vezes a minha cabeça esteve no cepo, mas
consegui que a utopia passasse a ser realidade. Os salários melhoraram, e o
subsídio de alimentação e deslocação começou a ser uma prática na empresa em
Luanda. Só não consegui o prémio de rendimento. Mais tarde consegui dar a volta
ao patronato, leiam o resto da narrativa. Voltemos ao Coluna.
O Coluna tinha uma
característica de marca, começava a trabalhar à hora certa, não mais parava até
à hora de fechar o expediente e por vezes continuava. Era impressionante vê-lo
montar as estantes. Um chefe de equipa no Puto montava 40 prateleiras por dia,
ele de sua alcunha Coluna, montava 120 prateleiras por dia. Era fantástico!
Pergunto, era justo ganhar o mesmo que os outros? Claro que não! Passou a ser
recompensado, ele foi a prova viva que os vencimentos não podem ser em tabela horizontal,
idiotice que apareceu com o 25 de Abril.
O Coluna era dos
poucos negros que não metia vales durante o mês, nunca se embriagava. Tiro-lhe
o meu chapéu, era um grande senhor!
Após o 25 de Abril
e antes da independência, o meu amigo Coluna esteve envolvido no acidente em
que o Freitas perdeu a vida. Ficou muito mal tratado mas sobreviveu. Quando
abandonei Angola deixei-lhe parte do meu dinheiro e roupas!
Ao recordar este
negro que honra o seu país, acabo com um desabafo tanta vez por mim repetido em
relação a outros. Não ter tido a humildade de ter conhecido melhor este homem!
José d’ Barcellos,
14 de Novembro de 2011
Perante este texto
do nosso amigo, que mais poderemos dizer. Havia grandes trabalhadores em
Angola, brancos ou negros, como os há em Portugal. Assim como se passa o mesmo
com os calões duma cor ou de outra, de um país ou de outro. Djapam, 20/1/2014.
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