domingo, 5 de maio de 2013

A mãe! A minha e todas as outras!

Hoje é o dia da mãe, portanto da minha também. Pela lógica todos têm uma mãe, embora nem todos tenham conhecido a sua. A minha está bastante doente e idosa, a mãe tem ainda razoável lucidez para o seu estado de saúde e idade. A minha mãe, fez parte do seu percurso de vida, durante os tempos do Estado Novo, tendo nascido alguns anos antes do advento do mesmo. Nesse período tenebroso era muito difícil ser mulher, mais do que é tradicional, por isso ela sentiu esse drama no corpo e na alma. A minha mãe foi uma heroína, como heroínas foram quase todas as mulheres deste país nessa época. Hoje fala-se muito das liberdades de Abril e fazem-se comparações, na verdade houve um acertar passo relativamente aos direitos das mulheres, embora ainda muito esteja por fazer. Comparam-se os dois tempos, o Estado Novo e o novo Estado Novo, mas não há comparações possíveis. Os amigos da onça tentam assustar o povo com os tempos que aí vêm, mas nada se pode comparar. Os excessos de hoje eram uma riqueza no passado, excesso de comida, excesso de roupas, excesso de toda a porcaria possível que se possa imaginar. Era muito útil e esclarecedor explicar às novas gerações a realidade de Portugal nos anos 30, 40 e 50. Não falo dos refilões que viviam em berços de ouro e fizeram exílio cinco estrelas,  reclamando contra o não terem direito a exprimirem-se. Claro que não lhes tiro a razão, mas o Salazarismo era muito mais fundo do que isso. Era o tempo dos filhos de pai incógnito e por vezes de mãe incógnita, quando todos conheciam os progenitores. Era o tempo em que as mulheres não votavam e quando queriam viajar tinham de ter a assinatura do marido. Era o tempo da virgindade e tudo que isso acarretava. Era o tempo em que estudava quem tivesse dinheiro mesmo sendo burro e os inteligentes iam para a oficina. Era o tempo da descriminação entre o liceu e escola industrial. Era o tempo das criadas de servir, verdadeira escravatura doméstica. Era o tempo da prostituição oficial e de 90% de analfabetos. Era o tempo dos sapatos de pele natural. Era o tempo da mortalidade infantil por falta de prevenção. Eram o tempo de 95% de pobres, mas mesmo pobrezinhos.
A minha mãe viveu quase todos os dramas desse tempo, só uma personalidade muito forte lhe deu capacidade para tantas agruras. A minha mãe era uma mulher muito séria (talvez demasiado) em todos os sentidos, embora tivesse uma grande paixão por mim teve sempre muita dificuldade em exprimir as suas emoções. Digo isto com algum lamento!...
Mãe, obrigado por tudo e desculpa se não estive à altura como filho!

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