Todos temos pessoas no nosso imaginário que nos tocam profundamente e que muito admiramos, fazem parte do nosso passado e recordamos com muito carinho. o meu tio Alberto foi uma dessas pessoas! Quando penso nele os meus olhos ficam sempre húmidos! mas este escrito não é para falar do sentimento que nutria por ele que nunca se apagou, mas sim para falar de duas lições de vida que recebi dele quando tinha treze anos e me tem servido de exemplo pela vida fora. O meu tio filho de pai judeu era um homem muito inteligente e bem parecido, morreu novo e toda a sua vida foi passada no tempo do Estado Novo. Aprendeu sozinho a ler, assim como o ofício para sobreviver. Era um caçador como não havia outro em toda a região oeste!
Um dia de Setembro acompanhei-o na sua ida à caça (nesse tempo caçava-se todos os dias), connosco ia um cão perdigueiro de seu nome Mondego. Como era hábito, á medida que caminhávamos pelas vinhas, pomares e pinhais, íamos falando de tudo; do Benfica, do Torriense, de filmes, de gajas, dizíamos mal do regime, o habitual. De vez em quando um coelho saltava e até lebres. Em dada altura o tio meteu a arma à cara e pum! Um enorme coelho deu uma cambalhota e ficou-se, Mondego foi de imediato pegar na caça e entregar ao meu tio seu companheiro de muitas caminhadas. Primeira lição, o tio disse. --Ainda bem que é macho, não gosto de matar fêmeas, elas são sagradas! Depois explicou-me porquê...
Voltamos à nossa caminhada, contado histórias, anedotas e outras coisas mais, o meu tio era muito charmoso, um misto de Gary Cooper e Gregory Peck. Os coelhos continuavam a saltar à nossa frente, à esquerda e à direita e o caçador nada. Em dada altura perguntei-lhe, tio não atira mais, não mata mais caça? Segunda lição, o tio parou fixou-me atentamente e numa cara sem riso disse-me. --Zé Manel, para hoje não chega? Corei mas entendi tudo!
Estas duas lições, principalmente a segunda, têm-me acompanhada toda a vida servindo de exemplo para outros, curiosamente não foi nenhuma doutor que me a deu. Obrigado tio Alberto!
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