Paradoxo
Primeira parte
Luisa e Rita eram
duas amigas com muita coisa em comum. Quando se viram pela primeira vez a
empatia foi espontânea.
Uma situação
semelhante as uniu, já vai para dez anos. Ambas tiveram uma experiência
traumática: cancro na mana.
Conheceram-se numa
consulta no IPO. Navegavam no mesmo drama, depois foram: pilar e viga uma da
outra,
As mulheres tinham
cerca de cinquenta anos quando o processo foi desencadeado. A estória delas era
semelhante, a diferença era a mama doente: Luisa tinha cancro na mama esquerda,
Rita na mama da direita.
Depois, depois?
Foi a cumplicidade através dos anos…
Para além do
problema de saúde já felizmente ultrapassado, as amigas começaram a
encontrar-se com alguma regularidade. Agora reformadas, os convívios aumentaram.
Ambas tinham
companheiros, mas até ao presente, os casais nunca se reuniram. Por isso os
homens nunca tinham sido apresentados.
Facto curioso mas
que elas salvaguardaram por garantia de amizade única. Um dia teria de ser…
Naquela tarde de
Setembro, as amigas tomavam o seu chá de cidreira acompanhado de torradas
feitas em pão saloio. Isto numa conhecida pastelaria do Chiado.
Estavam falando de
tudo, inclusive dos maridos. Embora nenhuma conhecesse o companheiro da outra,
falavam muito deles. Assim como falavam dos amores passados que há muito
estavam no pó da memória.
Para dar
encaminhamento à nossa narrativa vamos acompanhar a conversa das duas amigas:
-
Rita, tens feito tantos elogios ao teu marido, tantos que sinto inveja do teu
viver. Gostava de ter tido um homem assim. O meu não é nada disso. Os outros do
passado também não…
-
Tenho sido muito feliz, a paixão do João tem sido constante, bastante
multifacetada por isso não caiu na monotonia. Nunca igual, mas sempre uma
maravilha. Tudo um sonho tornado real.
-
Como reagiu ele, na altura que tiraste a mama?
-
Mais meigo que nunca! Mais atencioso, nunca me abandonando. Foi um suporte
muito sólido…
Um silêncio
emotivo estabeleceu-se naquela mesa da elegante casa de chá do Chiado. Rita
quebrou o silêncio.
-
E no teu caso, como se comportou teu companheiro?
-
Olha, o meu foi um sacana! Como te disse na altura, o gajo foi fazer uma longa
viagem. Foi um bandalho, até reconstruir a mama não mais olhou para o meu
corpo. Penso que o teu homem é único. Que inveja tenho! Vou ter de o conhecer…
-
Realmente é um disparate, ainda não ter reunido os casais. Mas estamos sempre a
tempo…
-
Quero mesmo perceber essa vossa relação, os meus homens foram sempre uns
coirões. Não digo que não gostassem de mim, mas eram machistas e egocêntricos,
uns egoístas. Dei muito e recebi pouco.
-
Então amiga?!
-
Rita, sinto muita inveja de ti, mas por outro lado fico feliz, tu mereces minha
amiga.
-
Luisa. Sabes amiga, o meu amado aprendeu muito antes de começar comigo. Um
casamento falhado. Nunca percebi porquê! Depois muitas estórias de amor… isso
deu ao João estrutura para desejar e proteger um grande amor: por um acaso ou não,
fui eu, esse amor.
-
Tiveste muita sorte amiga!
-
Também tu merecias Luisa, porque tão boa és e para todos nós…
Foi assim o teor
da conversa das duas amigas naquela serena tarde de Setembro na Baixa de
Lisboa.
Rita fazia uma
grande publicidade ao seu marido João, tão feliz era e tão feliz tinha sido. Já
lá iam trinta anos de paixão e amor!
João continuava a
adorar a sua companheira. Com paixão, faziam amor como nos primeiros anos de
relacionamento.
Luisa sentia
tristeza e amargura. Sempre sonhara com um homem como o marido da amiga. Sentia
que merecia um amor assim…
Entretanto mais um
tempo passou e um dia, finalmente o encontro entre os dois casais aconteceu.
Fim da primeira
parte
23/9/2015
Nota: Mais uma
estória inacabada. Cada um faça a continuação que desejar. Há um enigma! Quem o
deduz?
Um tema interessante, em que o cancro da mama é o condutor para a amizade que surge entre duas mulheres.
ResponderEliminarO cancro da mama afecta milhares de mulheres portuguesas, causando anualmente a morte a mais de 1500 mulheres.
É de louvar todos aqueles que abnegadamente acompanham qualquer doente oncológico.
Aceitando o desafio do JB, atrevo-me a dar continuidade à história.
Depois de ultrapassarem o cancro da mama, Rita e Luísa tornaram-se amigas e encontravam-se para conversarem sobre os seus companheiros e todo comportamento durante a doença.
Rita, falava do João com tal entusiasmo que conseguia pôr uma aura mística sobre ele.
Luísa, que não tinha tido tal sorte, aprisionava a sua dor ao recordar a ausência do seu companheiro.
Num dos encontros, e sentadas na esplanada do Jardim do Príncipe Real, Luísa resolveu falar mais um pouco e o desabafo aconteceu:
Rita! – Amei um homem como o teu, mas o destino não quis que fosse assim. Tive tudo nas mãos, mas as vicissitudes da vida levaram-me a este meu companheiro e como tu sabes, percorri sempre sozinha o Hospital sem ter ninguém junto de mim.
Entretanto, a conversa animou e de repente Rita grita e ouve-se: João!
Ele com o seu passo lento, avança e percorre o caminho que os separa.
Chega, abraçam-se e Luísa voltando-se para eles, reconhece o grande amor da sua vida.
Esta conclusão de um anónimo é uma maravilha! Descobriu o final que estava pensado. Não teria feito melhor.
ResponderEliminarAdorei! Muitos parabéns!
Não quer dizer quem é?
Esta conclusão de um anónimo é uma maravilha! Descobriu o final que estava pensado. Não teria feito melhor.
ResponderEliminarAdorei! Muitos parabéns!
Não quer dizer quem é?