Nascer de uma flor
É tarde,
A cidade
está apática,
Ninguém sabe
que fazer.
É tarde,
As portadas
se fecham,
E as almas
também.
É tarde,
Os adultos
têm medo,
E as crianças
também.
É tarde,
Recomeça o
ribombar,
Tiroteio
para o ar.
É tarde,
A morte anda
na rua,
Com apetite insaciável.
É tarde,
O povo
vegeta,
Uma menina
nasce.
É tarde,
Brilha uma
luz no andar,
Há um bebé a
chorar.
É tarde,
Mas chegou
pontual,
A menina de
seu pai.
É tarde,
Mas chegou perfeita,
A menina de
sua mãe.
É tarde,
Mas chegaste
na hora,
Minha menina
amada!
28/6/2015
José Bray
Nota: a 28
de Junho de 1976, primeiras horas da madrugada, nascia minha filha Isa. Noite
de Luanda, noite de terror! Recolher obrigatório, noite de tiroteio, cidade
estropiada e aterrorizada.
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