Os xadrezistas do senhor Alcobia
O meu amigo, o
senhor Alcobia tem uma Escola de Xadrez para jovens e menos jovens. O meu amigo,
o senhor Alcobia está levando a efeito um trabalho brilhante. Direi mais, uma
tarefa brilhante e utópica.
Vossemecê pergunta. – Mas que tem isso de especial? Não
faltam pelo país fora escolas de xadrez para jovens e menos jovens. Utópico porquê?
O meu amigo, o
senhor Alcobia tem a certeza que os seus meninos têm tanta capacidade como os
meninos das tais escolas que há pelo país fora. Ele até defende que os seus
meninos têm ou não, alma, como os meninos das tais escolas que há pelo país
fora.
Um dia disse-lhe
que não acreditava no acreditar dele. O meu amigo, o senhor Alcobia quase se
zangou comigo. Então o meu amigo, o senhor Alcobia garantiu que me ia provar
que a sua opinião estava certa e demonstrar que o seu projecto não era utópico
e muito menos brilhante. Para o meu amigo, o senhor Alcobia, tudo não passava
de um trabalho trivial mas levado a efeito com profissionalismo, embora
voluntário. Os seus meninos nada pagavam na sua Escola de Xadrez. Disse-me o meu amigo, senhor Alcobia.
-
Vou preparar os meus jovens para os nacionais sub 8 e o amigo vai depois poder analisar
os resultados.
Chamei doido ao
meu amigo, o senhor Alcobia. Fizemos uma aposta, mas uma aposta simbólica, só
por graça.
O caro leitor não
deve estar a entender nada desta escrita da treta, mas eu explico. O meu amigo,
o senhor Alcobia, tem uma Escola para jovens chimpanzés a quem ensina várias
matérias incluindo xadrez. Ainda argumentei. – Amigo Alcobia, é uma tolice tentar pôr um símio a jogar xadrez, um jogo
tão complicado.
Neste ponto da
conversa, o meu amigo, o senhor Alcobia quase voltou a zangar-se com este
escriba, mas como pessoa cordial e sensata aguentou a irritação.
-
Amigo, não seja xenofobista, os meus jovens são os símios mais inteligentes, os
meus jovens são tão capazes como os meninos humanos e têm ou não, alma como
eles.
-
Quero provas, quero provas, amigo Alcobia. Disse-lhe
com ironia e cepticismo.
O tempo passou, o
meu amigo, o senhor Alcobia, lá foi ensinando os jovens chimpanzés; os
movimentos, os mates elementares, o mate pastor, uns finais simples, e mais uns
pequenos truques.
Quando chegou a
altura dos nacionais o meu amigo, o senhor Alcobia lá foi inscrever os seus
jovens sub 8 na Federação de Xadrez. Claro que foi muito polémica a inscrição
dos seus xadrezistas, mas o meu amigo, senhor Alcobia argumentou que eles também
eram filhos de Deus.
Os responsáveis
federativos do xadrez quiseram dar uma lição ao presunçoso e teimoso, ou seja,
ao meu amigo, o senhor Alcobia, meu companheiro de muitos anos. Então numa de
gozo aceitaram os jovens chimpanzés no campeonato.
O trabalho dos
chimpanzés estava facilitado, nessa altura não era obrigatório anotar as
partidas. Os meninos humanos não sabiam escrever, em contrapartida os jovens símios
sabiam a escrita da selva que aprenderam com os pais, coisa que os pais dos
humanos não faziam.
O nacional foi
renhido, era ver quem mais disparate fazia. Para espanto de todos, menos do meu
amigo, o senhor Alcobia, foi um chimpanzé a vencer. De imediato dei o braço a
torcer, melhor, dei mesmo os dois.
O meu amigo, o
senhor Alcobia, homem simples e honesto, ao contrário do que pensavam os
responsáveis federativos, na entrega dos prémios disse-me.
-
Nada fiz de especial, na verdade os chimpanzés são inteligentes, o meu mérito
não foi nenhum.
-
Mas eles venceram os meninos humanos. Então qual foi a razão para isso acontecer?
- Muito
simples, os meninos humanos, vão mal preparados para os torneios, os pais e os
professores fazem deles uns macaquinhos de imitação. Como se sabe os
macaquinhos são mais incapazes que os chimpanzés. Não foi difícil preparar os
meus jovens chimpanzés com seriedade no ensino, coisa que não há no ensino dos
humanos.
Fiquei a pensar
que o meu amigo, o senhor Alcobia tinha razão. Os pais por vaidade e os
professores por interesse, são os responsáveis pelo disparate de enviar crianças
sem o mínimo de preparação para os nacionais. Felizmente há uma ou duas
excepções.
- Obrigado Alcobia, até sempre.
Vinte e dois de
Julho de 2013
José Bray
Uma metáfora brilhante que arrasa com critica construtiva... Carece de uma leitura atenta para não se resvalar a interpretações dúbias e capciosas....A presunção dos "gravatinhas de sapatinhos de verniz" que em bicos de pé procuram com afã o protagonismo frívolo, não vão nada de se rever..... Um abraço Bray...
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