José Bray 26/03/2011
Na rectaguarda da guerra!
Enfermeiro Carlos Bray
Cruzou-se com centenas de combatentes que voltaram
Da guerra marcados pela violência do conflito.
No HMP tratou doentes e apoiou famílias e supriu uma
Falta grave no campo psicológico que naqueles tempos
Era a dura realidade. Uma história de amor ao próximo,
Na dedicação de uma vida.
O ELO procurou-o e foi encontrá-lo em Constância.
Empresário no ramo da indústria Hoteleira, o antigo enfermeiro Carlos Bray estava em casa doente mas não quis que o repórter perdesse a viagem. Depois da recruta em Leiria e a especialidade em Coimbra, Carlos Bray chega ao Hospital Militar Principal em Janeiro de 1970, como 1º Cabo enfermeiro, esperava ir para o Ultramar, mas a boa nota que conseguiu na especialidade manteve-o na retaguarda da guerra. No HMP o nosso enfermeiro passou pela cirurgia de sargentos e praças, serviço de sangue, cirurgia plástica, vacinação a batalhões e companhias de militares mobilizados, fez o que qualquer enfermeiro deveria fazer mas, o que o tornou mais conhecido foi o seu lado humano. Carlos Bray tornou-se uma pessoa estimada por todos, doentes, colegas e médicos. As chefias chegaram a tecer-lhe elogios por escrito. Sempre disposto a desenrascar um amigo, nunca virou as costas a um doente. O Bray não era só o enfermeiro, foi também o amigo e até fazia de psicólogo e de assistente social, funções ali inexistentes na época. “Animava os doentes, encorajava as famílias no primeiro embate de verem pela primeira vez um parente cego ou amputado”. Sempre sensibilizado com a situação dos doentes, sobretudo daqueles que ali permaneciam em plena solidão pela impossibilidade das famílias se deslocarem ao hospital, uns pela distância, outros por problemas financeiros, em alturas do Natal ou da Páscoa, o enfermeiro Bray chegou a convidar alguns para irem passara quadra em família em sua casa. Carlos Bray ainda hoje traz na memória a imagem desses homens estropiados na flor da idade e confessou ao ELO que houve um que o marcou bastante: “o Sampaio”. Ainda hoje se recorda que ele não quis ir passar o Natal com ele e a sua família, por estar cego e sem braços e porque não quis dar trabalho a ninguém. Contou-nos também uma outra estória que não esqueceu, um guineense, chegado ao hospital crivado de balas, pediu a Carlos para lhe escrever uma carta. O enfermeiro, sempre com a boa vontade que lhe era característica, muniu-se de papel e caneta e ia escrevendo o que o homem lhe ditava. Terminada a missiva, o “pinga amor” quis repetir a dose e ditou mais 30 cartas para outras tantas mulheres que tinha deixado na Guiné, refere o enfermeiro. Quando saiu da tropa, depois de cumpridos rigorosamente três anos, empregou-se em Lisboa, mas o ex-enfermeiro ainda não estava curado da preocupação constante com os seus doentes e quando saía do emprego, comprava frangos e batatas fritas e ia levar-lhes o jantar ao hospital. Carlos Bray fez muitos amigos, a quem foi perdendo o rasto devido às circunstâncias da vida e hoje interroga-se, “o que será feito desses homens? Como se fizeram à vida? Estes homens merecem uma atenção do Governo, um apoio moral e material, “para eles e para os filhos,” porque os mutilaram em defesa da Pátria”. E vai lembrando que, lá dizia o poeta:
“A Pátria honrai que a Pátria vos contempla.”
O Bray está convidado para vir à ADFA numa das nossas comemorações altura em que certamente irá encontrar muitos dos seus antigos doentes. _
Texto e foto: Farinho Lopes
Da guerra marcados pela violência do conflito.
No HMP tratou doentes e apoiou famílias e supriu uma
Falta grave no campo psicológico que naqueles tempos
Era a dura realidade. Uma história de amor ao próximo,
Na dedicação de uma vida.
O ELO procurou-o e foi encontrá-lo em Constância.
Empresário no ramo da indústria Hoteleira, o antigo enfermeiro Carlos Bray estava em casa doente mas não quis que o repórter perdesse a viagem. Depois da recruta em Leiria e a especialidade em Coimbra, Carlos Bray chega ao Hospital Militar Principal em Janeiro de 1970, como 1º Cabo enfermeiro, esperava ir para o Ultramar, mas a boa nota que conseguiu na especialidade manteve-o na retaguarda da guerra. No HMP o nosso enfermeiro passou pela cirurgia de sargentos e praças, serviço de sangue, cirurgia plástica, vacinação a batalhões e companhias de militares mobilizados, fez o que qualquer enfermeiro deveria fazer mas, o que o tornou mais conhecido foi o seu lado humano. Carlos Bray tornou-se uma pessoa estimada por todos, doentes, colegas e médicos. As chefias chegaram a tecer-lhe elogios por escrito. Sempre disposto a desenrascar um amigo, nunca virou as costas a um doente. O Bray não era só o enfermeiro, foi também o amigo e até fazia de psicólogo e de assistente social, funções ali inexistentes na época. “Animava os doentes, encorajava as famílias no primeiro embate de verem pela primeira vez um parente cego ou amputado”. Sempre sensibilizado com a situação dos doentes, sobretudo daqueles que ali permaneciam em plena solidão pela impossibilidade das famílias se deslocarem ao hospital, uns pela distância, outros por problemas financeiros, em alturas do Natal ou da Páscoa, o enfermeiro Bray chegou a convidar alguns para irem passara quadra em família em sua casa. Carlos Bray ainda hoje traz na memória a imagem desses homens estropiados na flor da idade e confessou ao ELO que houve um que o marcou bastante: “o Sampaio”. Ainda hoje se recorda que ele não quis ir passar o Natal com ele e a sua família, por estar cego e sem braços e porque não quis dar trabalho a ninguém. Contou-nos também uma outra estória que não esqueceu, um guineense, chegado ao hospital crivado de balas, pediu a Carlos para lhe escrever uma carta. O enfermeiro, sempre com a boa vontade que lhe era característica, muniu-se de papel e caneta e ia escrevendo o que o homem lhe ditava. Terminada a missiva, o “pinga amor” quis repetir a dose e ditou mais 30 cartas para outras tantas mulheres que tinha deixado na Guiné, refere o enfermeiro. Quando saiu da tropa, depois de cumpridos rigorosamente três anos, empregou-se em Lisboa, mas o ex-enfermeiro ainda não estava curado da preocupação constante com os seus doentes e quando saía do emprego, comprava frangos e batatas fritas e ia levar-lhes o jantar ao hospital. Carlos Bray fez muitos amigos, a quem foi perdendo o rasto devido às circunstâncias da vida e hoje interroga-se, “o que será feito desses homens? Como se fizeram à vida? Estes homens merecem uma atenção do Governo, um apoio moral e material, “para eles e para os filhos,” porque os mutilaram em defesa da Pátria”. E vai lembrando que, lá dizia o poeta:
“A Pátria honrai que a Pátria vos contempla.”
O Bray está convidado para vir à ADFA numa das nossas comemorações altura em que certamente irá encontrar muitos dos seus antigos doentes. _
Texto e foto: Farinho Lopes
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