A nobreza desceu à vila…
A modesta povoação estava excitada e vaidosa da sua
importância. A nobreza desceu à vila…
Em todos os cantos e recantos havia animação. Os restaurantes, cafés,
pastelarias e tabernas, estavam a abarrotar de clientes. O mesmo se passava nas
lojas de lembranças. O Colégio local estava engalanado porque seria aí o fulcro
de maior importância. A Igreja triplicara de crentes que rezavam e pediam aos
santos regalos irrealistas.
As senhoras vestiram os seus modelitos de outras eras e os homens fato e
gravata. Quase tudo a cheirar a naftalina.
Todos conversavam para ser ouvidos e as gargalhadas eram constantes.
O povo convencido da sua importância fazia salamaleques por tudo e por nada.
Na vila que nem cidade chegava a ser, ao fim de semana era uma pasmaceira. Por
isso tudo que estava a acontecer era um fenómeno raro.
Contudo eu concordo: não era caso para menos…
No passado sábado e domingo, aconteceu a invasão planeada pela mui nobre deusa
Caissa. A nobreza compareceu em força; reis e rainhas eram cerca de seis
centenas. Trezentos reis são muitos reis, todos com sua rainha.
A igreja também esteve bem representada; seiscentos bispos passearam a sua
opulência pela modesta vila.
Cada bispo tinha o seu castelo e o seu cavalo ou sejam; seiscentas torres e
seiscentos corcéis.
E o povo? Ou seja os criados, alma daquele imenso séquito. Eram quase dois mil
e quinhentos.
Depois ainda havia outros convidados especiais: desportistas, treinadores,
técnicos, árbitros, directores, familiares dos jogadores e também simples
mirones. Bem contados andavam pelos quatrocentos.
Nem vou referir as carruagens colectivas da nobreza nem aos bólides dos
convidados.
Ao todo entraram na vila mais de cinco mil visitantes. Ou seja: a povoação
duplicou no fim-de-semana em causa.
Foram dois dias marcantes e importantes. O convívio foi do melhor entre brancos
e negros que se encontravam (quase) em número igual. Sim, a realeza foi ela por
ela, os convidados eram mais pálidos.
Nada disto foi coincidência. Era assim o planeamento.
Depois, depois todos partiram e a vila voltou à habitual pasmaceira.
Ficaram as memórias para contar aos netos!
11/4/2016
Druida
Dedicado ao meu amigo José Cavadas
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