Na
aldeia a festa prometia ser rija. Comida e vinho não iam faltar, nem doces,
cafés e aguardentes. Musica com muito folclore também não.
Por
todo o lado viam-se emigrantes vindos de todas as partes do mundo e gente de
Lisboa. O Mordomo (1) andava feliz, tudo estava a correr bem… a certa altura
gritou.
-
Felisberto, Felisberto! Chegou a hora de começar o foguetório. Vai homem e dá
fogo à peça.
O
tal homem, meio coxo, meio marreco, meio pateta, apareceu ao chamamento.
-
Sim Mordomo, vou já tratar disso. Não posso ir a correr, estou cansado devido a
ter andado toda a tarde a apanhar as canas.
-
Apanhar canas num dia de festa? A propósito de quê? É coxo, marreco tonto e
deve estar
mais que bêbedo. Apanhar as canas hoje? O homem é mesmo anormal.
Assim
pensou o gordo Mordomo, mas não ligou porque o homem era mesmo tontinho e ainda
por cima andava sempre em vinha-d’alhos. Como o infeliz tudo fazia de borla e
era burro para toda a carga e todas as tarefas, o Mordomo aguentava todas as
suas asneiras. Enfim, o Felisberto era um explorado!
O
tempo passou e foguetório? Nada, nem um estalinho. O Mordomo admirado foi até
ao local de lançamento dos foguetes.
Lá,
o Felisberto chorava, entre os vapores da bebida e a sua loucura. O Mordomo,
vermelho pela fúria inquiriu.
-
Que se passa homem de Deus?
-
Mordomo, meu Mordomo, os foguetes não sobem porque não acendem. Não sei o que
aconteceu. Ainda esta manhã experimentei-os todos e estavam todos bons. À tarde
tive tanto trabalho para encontrar e apanhar as canas e agora não querem
funcionar.
O
Mordomo se tivesse uma caçadeira naquele momento haveria na aldeia um
Felisberto transformado em peneira. Mas assim que remédio, teve de aguentar.
Uma
coisa foi certa. Nesse ano na festa da aldeia não houve foguetório. Quem manda
dar essa tarefa a um tolo… só para poupar uns escudos?
Bem
feito!
Comeira,
noite de ano novo 2014/15
ZM
1 - Mordomo dono
da Festa. Todos os anos é eleito um para organizar os próximos festejos.
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