quarta-feira, 18 de junho de 2014

Crianças - Ilusão no Xadrez



Não se pode ficar só na ilusão
Resultados da Terceira etapa do Circuito Jovem do distrito de Leiria - em Rio Seco - os representantes do SOM:
Guilherme Faria em 5 jogos ganhou 4
Rafael Balseiro em 5 jogos ganhou 3
Excelentes resultados!
Através do facebook tive acesso a esta informação e comentei.
- Sim os resultados foram bons! Mas é preciso evoluir, para isso é preciso muito trabalho e quem saiba ensinar. Não se pode ficar só na ilusão!
Este meu comentário deu origem a outro que se interligam.
- Queria apenas salientar que o Rafael nunca teve aulas de xadrez... e eis que conseguiu este resultado espectacular! Parabéns ao Rafael!
Como era óbvio...confirmei.
- Sim claro, parabéns!
Alguém ficou admirado ou curioso e comentou.
- Ilusão?
A minha frase: Não se pode ficar só na ilusão! Foi a raiz para os diversos comentários no facebook, mais alguns feitos pessoalmente. Vou então tentar explicar sem quaisquer sofismas a razão do meu comentário.
Atenção, estamos a falar de xadrez uma modalidade de alta exigência. Estamos a falar de algo profundamente científico, sem dúvida uma arte, uma filosofia, para alguns uma religião e finalmente um jogo de alta competição. Diz quem sabe que a vida imita o xadrez e também que a vida é curta para o xadrez.
As crianças aprendem os movimentos básicos, depois são levadas para a competição pelos pais, monitores, professores, seccionistas e também por eles mesmo. Contudo, a maior parte vai sem um mínimo de formação.
Os miúdos querem de imediato entrar nos campeonatos, muito bem (ou muito mal), tendo ou não preparação adequada. Não devemos desmotivar a rapaziada, antes pelo contrário. Mas tem de haver bom senso (tacto) nessa motivação. Não podemos cair num excesso de paternalismo que não leva a nada. Eu mesmo, cometi esse erro muita vez no passado. Acabei por verificar que de nada servia, só criava a ilusão nos jovens. Com a idade e com a azia da vida talvez tenha exagerado no sentido contrário.
As crianças mal sabem movimentar as peças, querem logo jogar e querem de imediato ganhar.
Pior ainda, os pais que nem as peças sabem movimentar e por vezes nem a designação das mesmas, só pensam na perspectiva do ganhar. A frase tipo doa pais, que mais se ouve no fim das sessões é a trivial pergunta. – Ganhaste? – Nunca oiço ninguém perguntar. - Então filho como correu? – Então filho foi uma boa luta? – Então filho aprendeste alguma coisa? – Então filho foi divertido?
Muitas vezes, ignorantes do xadrez, ainda ralham com os filhos. Vi mesmo há anos uma besta a dar uma chapada no miúdo!
Como é óbvio, as crianças atirados assim aos bichos, é para perder, perder e voltara perder. Isso é o normal, o anormal é se fosse ao contrário.
Sem aprender ninguém fica a saber, verdade de La Palice. Por isso é preciso trabalhar muito para aprender e o xadrez não se assimila em segundos.
Falemos então da ilusão…
Os jovens quando começam nada sabem, estão no patamar zero. Vão entretanto jogar com outros que também nada sabem e por vezes nem no patamar zero estão. Alguém tem de vencer embora tudo feito ao acaso, lances ilegais, sobre lances ilegais. Reis que se mantêm sobre xeque, movimentos incorrectos, peças mudadas e que depois voltam atrás. Enfim só disparates de quem não sabe o que está a fazer. Ou seja nem as regras sabem.
No fim uns fazem mais pontos que outros, mas nem sabem como. Todos ficam contentes e os responsáveis a babarem-se de felicidade. Contudo não se devem desmoralizar os miúdos.
Então que há a fazer? Muito simples! Temos que estudar as fraquezas do jovem jogado, analisar o seu jogo e dar formação. Mas dada por quem sabe.
Quanto aos pais já sou mais crítico. Quase sempre ignorantes na modalidade, pensam que têm uma estrela do xadrez em casa. Sei isso porque converso muito com esses pais e mães. Tento explicar que as crianças ainda estão no zero e precisam de muita formação, mas eles não acreditam e julgam que sou chato.
Os anos passam, os putos deixam o xadrez que nunca chegaram a aprender.
Mas também grave, é a atitude dos monitores, professores, treinadores, que enviam para a competição a oficial, inclusive nacionais, jovens sem a mínima preparação.
Estas são algumas das razões porque disse, para não ficarem só na ilusão que os vossos filhos sabem, quando na verdade estão ainda no zero.
José Bray, 17/6/2014
Nota: quem estiver interessado, em temas com ligação a este, deve ler no meu blogue, brayxadrez.blogspot.com “O homem do tijolo e o Xadrez” e “Os xadrezistas do senhor Alcobia”.












1 comentário:

  1. Excelente crítica. Concordo com a esmagadora maioria das observações.

    ResponderEliminar