segunda-feira, 4 de março de 2013

A revolta



O rapaz não resistiu ao apelo que lhe ia na alma, saiu de sua casa para uma missão arriscada. A revolta estava na rua! Muitos dos seus amigos estavam envolvidos na confusão, ele queria estar com eles. A companheira ainda tentou dissuadir o jovem, convencê-lo da inutilidade da obsessão, mas em vão. O rapaz não cedeu aos apelos e argumentos da jovem mulher. Resoluto avançou para a Avenida em passo certo embora as pernas tremessem. Ao longe ouviam-se tiros que ecoavam na madrugada. Chegou perto dos tumultos mas não se envolveu, ficando a trinta metros dos manifestantes que trocavam mimos com os esbirros. A companheira aterrorizada apareceu de uma rua transversal e com lágrimas no rosto acercou-se do seu homem. A polícia de intervenção agredia uma centena de revoltosos mais corajosos, jovens cheios de cólera e ódio que sentiam aos canalhas. A cerca de setenta metros uma multidão de alguns milhares, gritavam palavras de ordem e agrediam verbalmente a escumalha do regímen, observavam mas não reagiam, ou seja não avançavam. Entre os dois grupos, os que levavam pancada e os indecisos por medo e cobardia, encontrava-se o jovem casal, como pêndulo de uma balança. O rapaz sentia muito medo e sabia da inutilidade de se envolver na luta física. Contudo tomou uma atitude. Virou-se para a multidão acobardada e botou violento e empolgante discurso. Em tom inflamado chamou-lhes cobardes e sem solidariedade para com os da frente. Tudo isto com ênfase de verdadeiro revolucionário, para os ferir no seu âmago. No fim desafiou-os a avançar para a luta, para a zona da pancadaria. Um autêntico fanático a promover um ideal. Aos poucos, timidamente a multidão começou a avançar, primeiro devagar, depois a adrenalina subiu e em cavalgada correram a juntar-se aos companheiros que lutavam. Em segundos caíram em cima dos esbirros que foram esmagados pela fúria do povo. Mas os lacaios do poder  ainda abateram alguns dos revoltosos, inocentes que acreditavam nos seus ideais. No chão negro do asfalto pintado de vermelho pelo sangue, um jovem casal jazia com os corpos crivados pelas balas. A revolução contudo triunfou!
José d' Barcellos, 1/10/2012

2 comentários:

  1. A revolução triunfou nesta história, mas aqui onde se generaliza o descontentamento do povo face às medidas anti sociais e catastróficas,chegou o momento de sair à rua e em uníssono gritarmos "BASTA" a este governo ingovernável.
    Estamos na rua!

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  2. Aqui vai a petição contra a presença de José Sócrates como comentador na RTP (canal pago com os nossos impostos!)

    http://www.peticaopublica.com/PeticaoVer.aspx?pi=P2013N37935

    (A revolução que o país precisa é a das mentalidades e faz-se na participação cívica!)

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