terça-feira, 8 de maio de 2018

Ufa...que estória


Ufa…que estória!
Primeira parte
Abel Pires tomava o seu terceiro café do dia, na última Estação de Serviço, antes de entrar no Algarve. Sentado, aproveitava para tomar algumas notas, pequenas ideias que podiam ser úteis, para utilizar como argumento no julgamento, em que ia estar presente, como defensor de um trabalhador, marginalizado pela máquina capitalista.
Uma tarefa sempre difícil, a força do dinheiro era o diabo...
Estava descontraído, o tempo que precisava para tratar da sua vida profissional, sobrava e muito. Por isso Abel tinha de fazer alguma coisa para ocupar parte desse tempo. Não estava preocupado com isso, era fácil no Algarve conseguir programa. Por um lado havia as praias durante o dia, à noite locais de interesse não faltavam dentro das mais diversas actividades; inclusive no mercado da sedução.
Abel ainda tinha a eterna opção para os tempos livres, estudar as leis e seus meandros, mas isso no fundo era trabalho. Podia ler, escrever, visitar museus ou monumentos.
Mas havia uma outra hipótese: visitar amigos ou mesmo família, em ambos os casos, as alternativas eram variadas
Uma das opções, seria visitar uma prima direita, mulher com menos dez anos que Abel. Familiar com imensa prole entre filhos e netos. Na verdade Paula tinha uma vida com muita vivência o que lhe deu anti corpos e capacidade para lutar com o mundo. Muito traquejo tinha a prima Paula.
Esta prima gostava muito dele, talvez devido a um passado em que via o primo como um príncipe inatingível. Por sua vez, Abel sentia muita ternura por Paula, mas nunca nesse passado longínquo teve a intenção de a seduzir. Embora soubesse que a bonita rapariga estava desejosa que o interesse de Abel por ela se manifestasse.
Na actualidade, sempre que Abel Pires ia ao Algarve em serviço. A prima exigia que ele ficasse em casa dela. Paula estava viúva com a vida bem equilibrada. Com a idade, voltou a mostrar interesse e atracção pelo primo.
Escusado será dizer que Abel nunca lá ficou em casa, dormia sempre num hotel onde se fizera cliente há muito ano. Ele tinha receio que a mulher, ainda com muito folgo na guelra, entrasse durante a noite na sua cama. Paula talvez não o fizesse, contudo Abel não estava interessado em pagar para ver…
Não! A casa da prima Paula não iria e muito menos lá ficaria. Abel respeitava a prima e admirava a capacidade que ela tinha para gladiar com a puta da vida.
Pensou… Talvez visitar o Tapadas, seu camarada da guerra, que vivia numa aldeia para os lados de Lagos.
Se melhor o pensou melhor o decidiu. Iria visitar o amigo que já não via há cerca de dois anos.
Entretanto foi recordando, enquanto fazia o ultimo troço da Auto-estrada. O tempo antigo e o tempo mais actual da sua ligação de amizade com os Tapadas.
O Jacinto Tapadas era um camarada muito simples e muito tímido que tinha grande amizade por Abel. Este não sabia mas o homem tinha  mesmo uma cisma pelo amigo. Qualquer gajo com experiência em paneleiros topava logo isso. O Abel criado num culto machista, não podia imaginar nem conceber que isso podia acontecer entre dois homens ou duas mulheres.
Abel era um conservador!
Para o Abel quando jovem, paneleiros eram gajos acima dos quarenta anos, esquisitos e cheios de taras.
O Jacinto, contudo teve sempre uma postura sem nada demonstrar ou a querer. Mas andava sempre borboleteando à roda da luz que irmanava do Abel. Este adorava miniaturas de casa feitas em madeira. Então o Tapadas que era marceneiro, fazia-as só para agradar ao amigo.
A guerra para eles terminou um dia e cada seguiu o seu destino. Durante muitos e muitos anos não se viram e não souberam nada um do outro.
Em Lisboa, Abel Pires abriu um gabinete de advogados, foi crescendo com sucesso. No Algarve, o Jacinto Tapadas abriu uma empresa de construção civil e empurrado pelo boom do desenvolvimento imobiliário, enriqueceu. Casou entretanto com Matilde e foi pai de um rapaz.
Até que um dia, através dos almoços anuais da Companhia Militar, os amigos se voltaram a encontrar. Nesta altura estavam todos a entrar na casa dos sessenta. Mas no Jacinto, rápido se voltou a revelar a antiga fascinação pelo Abel.
A mulher do Tapadas, a Matilde, era uma mulher magra com aspecto fino, sempre muito simples no vestir mas com gosto. O cabelo comprido já com bastante grisalho que ela não se preocupava em esconder. Embora magra, mas não em excesso, tinha uma figura sedutora.  Via-se que era culta mas que não gostava de dar nas vistas. Não mostrando má cara, era muito simpática mas raramente dava um sorriso.
Como já disse o casal teve um filho, que como o pai também se dedicou à construção civil. O Luís Tapadas, devido à actual crise, emigrou para Angola, terra onde seu pai e Pires lutaram.
A residência do casal Tapadas ficava numa pequena aldeia a meia dúzia de quilómetros de Lagos. Era aí que o Abel queria ir no seu tempo livre. Visitar com calma os amigos.
Abel Pires chegou a Lagos por volta do meio-dia. Estacionou o seu Jaguar num parque pago. Depois foi à procura de um tasco, que um amigo lhe indicara e onde se comia peixe de primeira. O nosso homem lá conseguiu encontrar a taberna e sentado junto a uma janela numa pequena mesa, pediu o peixe, a salada, o queijo, o pão e claro o vinho.
Enquanto deglutia os salmonetes e bebia um verde de reserva, o Abel ligou ao Jacinto.
Uma voz feminina, melodiosa com sotaque alentejano, fez-se ouvir no outro lado da linha.
- Estou sim, faz favor de dizer…
- Minha senhora o Jacinto Tapadas está?
- Quem procura por ele?
- É o Abel Pires, velho camarada da guerra.
- Como estás Abel? É a Matilde a mulher do Jacinto. Um momento vou chamar o teu amigo…
- Obrigada amiga…estou bem, E tu Matilde?
- Vai-se indo…vai-se indo!
Após aguardar breve segundo, uma voz aflautada surgiu do outro lado.
- Abel, como está o meu velho amigo? Por onde andas que nunca apareces?!
- Vai tudo dentro do normal Tapadas. Estou em Lagos e pensava fazer-vos uma visita. Estás por aí?
- Já devias cá estar! Não era preciso perguntar. Porque não vieste para o almoço?
- Já era um bocado tarde e não queria incomodar.
- Que raio de disparate! Já sabes onde é a casa, esperamos por ti…vem rápido.
E assim aconteceu! Após pagar o almoço, Abel avançou no seu Jaguar na direcção da aldeia onde moravam há muitos anos os Tapadas. A residência era uma vivenda de bonita traça nada exagerada na dimensão, mas construída com todos os requintes de quem sabe o que quer, e sabe como se faz.
Quando Abel estacionou a sua bomba no jardim do Jacinto, este e Matilde já o esperavam na escadaria da vivenda. Seguiu-se uma demonstração de amizade de quem realmente sente felicidade. Tapadas estavam mesmo eufórico com a chegada do amigo e este também estava contente. Matilde olhava para os dois com a sua aparente calma mas com expressão de pessoa inteligente. Por fim a mulher abraçou Abel, este teve uma pequena reacção, como se tivesse recebido uma injecção de química.
Como o tempo estava agradável, os três sentaram-se em cadeirões de verga no jardim debaixo de um frondoso pinheiro manso. Durante algum tempo, cavaquearam sobre tudo e mais alguma coisa. Dos filhos, do trabalho, da politica, do desporto e como não podia deixar de ser, sobre o tempo de guerra no passado já longínquo.
- Abel…vou num instante à loja comprar conquilhas para o nosso lanche. Fica a cavaquear com a Matilde que eu não demoro.
- Não queres que vá contigo?
O amigo disse que não com a mão, depois foi à garagem tirar o Mercedes e na calma dirigiu-se para a loja do marisco que ficava já perto de Lagos.
Após algum silêncio…Jacinto perguntou à Matilde.
- Então amiga, como tem passado de saúde?
- Abel…a tua amiga Matilde não tem andado muito bem. Ando muito nervosa, mas não sei porquê. É como se sentisse a falta de qualquer coisa. Mas que coisa? Não sei, amigo!
- E o Jacinto… está bem? Há algum problema entre vós, ou com o vosso filho e netos?
- Não Abel, o Tapadas é uma jóia como tu sabes. Muito atencioso e tratando-me sempre com carinho e muitos cuidados. O filho e netos estão bem lá na vida deles.
- Ainda bem Matilde, ainda bem. Já pensaste ir ao médico, ver se tens algum problema de saúde desconhecido?
- Mas não me sinto mal do corpo, não tenho dores. Que vou dizer ao médico? Ainda me diz que sou maluca.
Enquanto iam conversando entraram em casa e foram para o vasto salão. O Tapadas entretanto apetrechou-se e voltou para casa. Ao entrar na sala, ainda foi a tempo de ouvir Matilde dizer.
- Sabes Abel, o meu marido está muito feliz por teres aparecido, ele tem uma grande admiração por ti. Tu és o herói dele. Penso que a ti ele dava tudo e mais alguma coisa.
Neste diálogo havia um óbvio segundo sentido. Tapadas ouviu e não se ofendeu.
Eram dezassete horas, até às dezanove os três petiscaram e deitaram abaixo algumas garrafas de branco do Algarve, de elevado teor alcoólico. Ficaram dessa forma mais que jantados e bem bebidos.
Matilde pediu autorização para ir ver a telenovela da moda. Por sua vez os amigos por sugestão do Jacinto foram fazer uma caminhada junto ao mar, que ficava a escassos quinhentos metros da casa dos Tapadas.
Jacinto olhava fascinado para o Abel, a mesma fascinação de há muitos e muitos anos, quando ambos tinham pouco mais que vinte anos.
Em dado momento, Jacinto disparou.
- Abel, por favor, não quero que te ofendas com a pergunta que vou fazer. Basta que me mandes calar e tudo fica como dantes.
O nosso Abel ficou em pânico e pensou preocupado. – Não me digas que este gajo vai fazer uma declaração de amor. Travo já a conversa se for esse o caso.
- Amigo diz lá, não deve ser morte de homem.
- Então lá vai. Abel, continuas a gostar de fornicar e ainda o fazes regularmente?
O nosso homem ficou abestalhado com a pergunta, mas não viu razão para não responder.
- Sim Jacinto, continuo a foder e cada vez com mais técnica. Mas porque essa pergunta?
- Porque queria pedir um favor mas tenho vergonha.
- Homem de Deus, já que começaste acaba.
O Abel estava mesmo a ver que o amigo queria ser enrabado. - Que raio de situação, onde me vi meter. - Pensou ele.
Entretanto um longo silêncio imperou entre os dois homens. Só se ouvia a sinfonia do oceano. Jacinto não sabia se devia avançar ou não.
- Oh homem…desembucha, podes confiar em mim. Após o que disseres, tudo continuará igual entre nós.
Então o Jacinto Tapadas tomou coragem e venceu a sua natural timidez.
- Abel gostava muito que fodesses a minha mulher!
Após dizer isto, baixou a vista e ficou sem coragem para encarar o amigo. Este por sua vez ficou mais aliviado e tentou animar o amigo.
- Jacinto, não fique envergonhado, não é nada do outro mundo. Já vi coisas muito piores. Vamos lá escalpisar o problema. Faço já várias perguntas para ficares mais à vontade. Primeira, a Matilde está de acordo? Segunda, fiques bem se isso acontecer? Terceira, que se passa contigo e com tua mulher? Jacinto Tapadas, velho amigo, fala sem rodeios nem complexos.
Então o Jacinto Tapadas falou.
- Com a Matilde entendo-me eu, mas para já digo-te o seguinte. Há bastante tempo, falámos um pouco a brincar e um pouco a sério, nessa hipótese. Ela a sorrir disse que não, pensando em sim. Abel, se ela fizer amor contigo fico feliz. Terceira questão, ao fim e ao cabo o fulcro da questão. Entre mim e Matilde está tudo bem, menos na cama. Abel, eu sou gay, mas nunca assumi nem vou assumir. Fiz um esforço e Matilde tentou ajudar. A provar isso foi termos o nosso filho. Mas depois com o tempo não consegui mais. Matilde é uma mulher boa e séria. Nunca teve coragem de me trair. Mesmo quando dei a entender que não me importava. Não nego que tive e tenho uma sisma por ti, que começa e acaba na admiração e fascinação.
Jacinto parou para descansar, olhou atentamente para Abel que o fixava com emoção e lhe deu coragem para continuar.
- Como já disse atrás. Há muito tempo tinha falado com a minha mulher. Há pouco tempo, voltei a abordar o assunto com a Matilde. Disse-lhe que devido há grande amizade que tinha e tenho por ti, não me importava que fizessem amor os dois. Ela compreendeu tudo e riu-se dizendo. – Mas se estás tão longe do teu amigo como resolves isso? – Agora aconteceu este acaso de apareceres em Lagos, se é que foi um acaso e não uma armadilha do destino. Então ganhei coragem e falei hoje contigo. Abel, todo o mal no sistema nervoso de Matilde é devido há falta de sexo. Eu sei isso e sofro.
- Ah Tapadas, Tapadas, Tapadas. E agora?
- Agora Abel? Está na tua mão. Desculpa esta situação.
- Jacinto vou pensar na situação. Amanhã tenho julgamento em Portimão. Depois regresso a Lisboa. Mais tarde falamos…
- Vou voltar a abordar o assunto, subtilmente, com a Matilde. Depois digo-te alguma coisa. Gostava que vocês se entendessem. Ela merece e eu fico feliz.
- Mas não digas nada à Matilde que falaste comigo. Deixa que haja sedução. Só assim entrarei no jogo, meu amigo.
- Com certeza, tens razão. Obrigado meu grande amigo.
Após esta complexa conversa, os dois amigos despediram-se. O Jacinto foi para junto de Matilde. O Abel, por sua vez com a cabeça zonza, foi para o seu hotel em Portimão.
Fim da primeira parte  

Segunda parte
O tempo passou. Cerca de um mês depois do Abel Pires ter estado no Algarve na casa do Jacinto, o nosso homem trabalhava no seu gabinete. Estudando um processo complexo de regulamentos dúbios. Estava concentrado tentando compreender toda a lógica daquelas tretas, em que uma vírgula alterava todo o sentido ao texto.
Parou para tomar mais um café, o seu vicio mais vicio…nesse entretanto entrou no gabinete a sua secretária.
- Senhor doutor…está n linha dois um senhor para falar consigo. Diz ser o Jacinto Tapadas. Passo a chamada?
- Passa sim Branca e obrigado.
- Olá Jacinto, então como vai isso?
- Estou bem meu amigo. A Matilde é que está cada vez mais destabilizada. Ando muito preocupado…
- Que posso fazer por ti e por ela, Jacinto?
- Abel, voltei a abordar a questão que tínhamos, tu e eu conversado, há um mês. Claro que não lhe disse nada sobre as nossas conversas.
- Que disse a Matilde? Como reagiu desta vez?
- Disse-me que para me fazer feliz não se importava de fazer sexo contigo.
- Repara que ela disse fazer sexo e não fazer amor. Não achas que essas conversas são uma afronta à tua mulher?
- Nada disso, Abel. Aquilo que ela diz é só da boca para fora. Que querias que ela dissesse? Ela quer, eu sei. Mas mais importante que ela querer, a minha mulher precisa mesmo…senão fico sem a minha Matilde. Vem Abel, por favor!
- Eu vou sim amigo. Mas temos de tratar tudo com punhos de renda, tem de ser tudo muito natural, para não parecer uma coisa promíscua.
- Abel é simples, vais cá passar uns dias, aproveitando a tua vida profissional. Vens ficar em nossa casa, como temos muitas vezes convidado. Depois quando for oportuno e ausento-me para tratar de assuntos. Coisa normal sair por duas ou três noites.
- E depois?
- Depois fazes a tua sedução, o que for soará. Se não for à primeira, será à segunda ou à terceira. Vais ver que tudo será natural. Eu fico feliz e ela poderá ficar bem da cabeça. Agora sou eu que peço, tem coragem Abel e não te atrapalhes.
Durante uns minutos ficaram em silêncio. Minutos que pareceram horas. Por fim Abel Pires falou.
- Está bem Jacinto, daqui a duas semanas posso estar uns dias em Lagos ou na tua casa. Tenho um julgamento que deve durar uns dias, pois é um assunto polémico. Quando for avisarei. Está bem assim Jacinto?
- Muito bem, cá te esperarei. Tem calma, tudo vai correr bem. Para ser mais natural, não direi nada à Matilde sobre a tua vinda.
Após desligar o telefone, Abel ficou muito tempo a matutar. Ufa…que estória! Vamos lá ver se ninguém sai magoado deste imbróglio.
Sem cabeça para continuar a analisar o chato regulamento, saiu para ir ao bar. Queria encontrar alguém para cavaquear e beber uns copos de preferência com um amigo ou amiga.
Afinal não foram quinze dias mas sim um mês, que passou rápido. Abel Pires partiu de manhã cedo para o Algarve. Levava duas missões na bagagem. Um julgamento polémico e conquistar Matilde. Mas não estava muito convencido que ia vencer nas duas frentes. Vencer não era a expressão correcta. Alcançar os objectivos, seria mais bem dito. No primeiro caso conseguir fazer justiça, no segundo, seduzir a mulher do Jacinto com a concordância dele.
Após pedir à sua empregada domestica que lhe preparasse a mala para oito dias, Abel Pires, numa segunda-feira, partiu bem cedo para o sul.
Um bom amigo pediu-lhe para dar boleia a um filho que ia para a Universidade do Algarve. O nosso homem ficou satisfeito, sempre tinha alguém para o distrair, assim falando com o David, ia-se abstrair e não pensar no trabalho ou no Tapadas.
David era um rapaz muito inteligente. Para além disso era bem formado como cidadão, não sendo colonizado pelo dinheiro do pai. Pires gostava muito do puto e estava satisfeito de o levar na viagem para o Algarve.
- Mas o doutor não quer mesmo ficar no meu apartamento, tenho um quarto livre?
- Não David, talvez numa próxima viagem, desta vez vou ficar na casa de uns amigos. Terei de resolver uma complexa missão.
- Doutor, o senhor tem fama de grande conquistador. Posso fazer uma pergunta?
- Força David, posso não responder!
- Qual a melhor técnica para conquistar uma mulher?
O advogado deu uma gargalhada, depois com cara séria falou:
- Não há uma receita única. Depende de vários factores. Depende do emissor e do receptor. Teríamos de escrever um tratado e muita coisa ficaria por dizer.
- Mas doutor, um só conselho!
- Sê tu mesmo!
- Só isso?
O carro seguia a uma velocidade moderada, a pressa não era muita. Abel Pires achou imensa piada à questão colocada por David. Como tinha tempo, decidiu contar uma estória da sua vida…
- David para não estar com filosofias que no fundo não levam a nada, vou contar uma estória passada tinha eu exactamente vinte anos. Cá vai…
“Um dia fui para a praia na linha do Estoril com um amigo que mais tarde foi meu cunhado.
Tinha na altura vinte anos e pensava ter o mundo nos meus braços.
Estávamos nós já perto da arrebentação quando reparei numa mulher jovem sentado na sua toalha a ler uma revista.
De volta dela meia dúzia de macacos faziam acrobacias tentando chamar a atenção.
A rapariga era uma visão sensual que virava a cabeça a qualquer um. Loura, com tudo no sítio conforme moda para a época. Era na verdade uma provocação.
Disse ao meu amigo: - Vou avançar, se der algo, segue o teu dia.
O meu amigo respondeu: -Força Abel, amigo não empata amigo.
Que fiz? Simples, sentei-me ao lado dela numa conversa delicada, ela respondeu e ao fim do dia regressámos a Lisboa.”
- E depois doutor?
- Depois rapaz? Será estória para outra lição um dia.
- Mas afinal que fez?
- Fui natural, fui eu sem vício na cabeça nem carro à frente dos bois.
David sorriu com expressão de entendido. Fiquei feliz, o rapaz era esperto.
E assim nesta maneira divertida chegámos ao Algarve. Fui levar o David ao seu apartamento e de seguida segui para a aldeia do meu amigo Jacinto Tapadas.
Cheguei já perto do meio-dia, hora que avisara de véspera.
Na escadaria da vivenda estavam Jacinto e Matilde com cara feliz, por receberem este amigo de há longos anos.
Jacinto estava como sempre, mas a Matilde, no seu estilo simples e com muita classe estava elegantemente produzida, incluindo o penteado trabalhado sobre o seu excelente cabelo.
Foi um abraço sentido emocionalmente por todos.
Depois entraram abraçados em casa, fechando-se a porta maciça logo que eles entraram.
Fim da segunda parte

Terceira parte
Nota: como noutros contos, cada um fará o seu próprio final.

4/3/2015
Antobar








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