quinta-feira, 27 de maio de 2021

 

11ª Crónica

Virgindade

O conceito da virgindade era algo sagrado no vetusto Estado Novo e dos códigos infames da igreja católica, inimiga das mulheres.

A rapariga tinha de ir virgem para o casamento e a perca da virgindade fora do casamento uma indignidade, uma vergonha, uma desonra.

Tempos de profunda estupidez que o regime de Salazar e Cerejeira fomentava.

Contudo não protegia a mulher nem as crianças. Mas defendia a existência do hímen, criando estigmas e sanções a quem o rompia e desonra a quem deixasse, isto fora do casamento.

Hoje olhamos para esses tempos e temos vontade de rir. Actualmente qualquer moça se o desejar começa a sua vida sexual logo após a puberdade.

O problema que ainda subsiste é o risco da gravidez. Hoje só é ignorante quem quer. A informação é abundante e generalizada e todas os casais se podem proteger.

Nesta minha crónica coloco de fora a violação e a pedofilia. Temáticas dramáticas a analisar noutra escrita.

Agora conto uma pequena estória:

Faz hoje cinquenta e nove anos que um meu amigo casou por ter tido relações sexuais com a namorada deixando a rapariga de ser virgem.

A moça tinha ficado grávida. Foi um desgosto e um drama para a mãe dela. Exigiu uma reparação que tinha de ser pelo casamento.

O meu amigo de pronto assumiu!

Sinceramente compreendo o sofrimento da senhora… Tinha sonhos para a filha que assim não se iriam realizar.

Estamos a falar de dois miúdos que fizeram amor por mútuo consentimento. Ninguém forçou ninguém.

O meu amigo nunca pensou pôr-se de fora e casou mesmo com amoça ao atingir os dezoito anos e a mocinha dezassete.

É evidente que ele se quisesse nunca seria obrigado a casar, pois eram duas crianças quando se deu o coito completo. Ele tinha dezasseis anos, ela tinha quinze. Não esquecer que a maioridade era aos vinte e um.

Ainda outro factor importante na minha opinião. Ele tirou a virgindade à menina, mas ela também tirou a virgindade ao menino.

Ou seja: eles eram os dois virgens!

Mas ainda havia outro factor, mas esse do foro criminal. A mãe da menina forçou-a a abortar. Um crime que não podia ser opção da megera.

Com uma queixa iria presa sem remissão!

Forçou o aborto e obrigou ao casamento. Duplo crime.

Seis meses depois o casal separou-se e novamente a mãe da rapariga teve influência.

Uma megera que não foi amiga da filha!

Sei que esta estória marcou muito o meu amigo que nunca complicou o processo mas ainda era uma criança para assumir. A menina também ficou marcada e através da vida a demência aparecia nas suas depressões.

Por essa razão e por ser muito amigo do rapaz, recordo sempre este dia vinte e sete de Maio.

JB- 27/5/2021