terça-feira, 17 de julho de 2012

Xadrez-Carlos Quaresma (1957/2010)

Carlos R. Quaresma
Conheci (mal) o Carlos Quaresma no Open de Leiria disputado em 1979 (?) em ritmo lento, aí comecei a conhecer o feitio especial desta irreverente personagem. Durante o torneio pouco reparei nele. Isso aconteceu na festa final. Os prémios além dos troféus eram em prendas comerciais. O Carlos ficou bem classificado, a prenda que lhe calhou foi um pequeno electrodoméstico. Ficou furioso e deitou fora a prenda. – Para que quero esta merda! – Este foi o seu cartão-de-visita. Depois desta cena, tive alguns pequenos contactos com o Carlos, no Orfeão de Leiria - Secção de Xadrez que ele chegou a dirigir.
Em Julho de 1983, estava com mais alguns amigos a criar um novo Clube de Xadrez na Marinha Grande. Para nos unir no projecto, decidimos no dia três desse mês ir disputar um aberto a Manteigas (no tempo em que o Marino Ferreira trabalhava no duro, para o xadrez na zona da Guarda). Lembrei-me de telefonar ao Carlos para ele ir connosco. Pensei. Boca que diz não também pode dizer sim. – Quaresma, a malta vai amanhã a Manteigas jogar um torneio, queres vir com a rapaziada? – Se calhar vou! – Então passo em tua casa às sete horas. Foi o que aconteceu e o Carlos veio para o xadrez marinhense até ao fim da sua vida.
Durante vinte e sete anos foi um grande camarada, embora caustico, corrosivo, mas sempre leal, aplicado e trabalhador. Era um anarquista e um humanista sincero. Nunca tive problemas com ele nestes vinte e sete anos. Sempre que ele vinha com a sua agressividade (falsa) eu mandava-o à merda! Olhava para mim e punha-se a rir.
Não parecia mas era um homem tímido e inadaptado para a vida, por isso usava como capa aquela forma agressiva de falar. No fundo não era nada disso.
Nas nossas viagens por todo o Portugal, as histórias da equipa eram de rir e chorar por mais, o Quaresma esteve no embrião de muitas. Lá para diante irei falar de algumas dessas aventuras.
O Quaresma era um mestre no xadrez, na equipa jogava em primeiro tabuleiro, dando luta aos fortes adversários que encontrava pela frente. No xadrez por correspondência chegou a M. I., além disso foi tetra campeão de Portugal, ao serviço do Núcleo de Xadrez Marinha Grande.
Marinha Grande, Julho de 2010
Bray

Carlos Quaresma
Esta homenagem é feita por alguns dos seus amigos, com a colaboração e apoio do SOM, emblema que representou de 1983 até partir em 2010. Nesta homenagem penso ser justo incluir a Associação Xadrez de Leiria com quem colaborou e o Núcleo de Xadrez Marinha Grande, clube que ele ajudou a fundar em 1983.
É uma singela homenagem, mas pensamos que outras iniciativas se irão realizar na continuidade.
Esta homenagem a Carlos Quaresma é mais que merecida e já devia ter acontecido há mais tempo. Fez dois anos que o nosso amigo partiu. Mas continuamos a sentir sua falta, mas ele está presente no nosso imaginário, falo por mim, pelo Rui Feio, Carlos Dias, José Ribeiro, Mário Carvalho, Daniel Bray, Vitor Cordeiro, e muitos amigos mais. Saiu da vida de forma precoce e após muito sofrimento! Carlos Quaresma, tinha um carácter e uma personalidade muito especial, alguns incomodavam-se com a sua maneira de ser. Não era fingido, mas era tímido, essa timidez dava vazão a uma agressividade que por vezes afastava as pessoas. Mas quem entrassem no seu íntimo sabia que essa aridez era uma fachada para se proteger. Carlos Quaresma, era um profissional muito competente e não aceitava a mediocridade na sua profissão. Não tendo qualquer prurido em desancar nos colegas professores que não dominavam as matérias que ensinavam.
Carlos Quaresma, era um homem muito inteligente e com uma memória fora do normal, decorava os informatas para depois ganhar dinheiro em apostas. Ele compreendeu o xadrez estratégico como poucos em Portugal. No xadrez postal, no tempo da baliza às costas, foi um poderoso praticante, vencendo quatro nacionais de clubes e conquistando o título de MI.
A sua capacidade de trabalho era imensa para o provar são as setes revistas de xadrez por correspondência produzidas e publicadas por ele. Ainda sem a ajuda dos computadores, tudo feito em máquina eléctrica. Uma produção de enorme qualidade, muita transpiração e muita imaginação.
Carlos Quaresma era um homem desiludido e pessimista, trazia com ele a tendência para auto destruição. Era também um inadaptado às coisas da vida, do rotineiro, dos faz de conta, da mediocridade. Mas infelizmente a vida não pode ser vivida sem isso. Ele não aceitava, as regras do jogo. Não se cuidava! Por isto partiu cedo.
Até sempre amigo!
Agora vamos fazer o que ele mais gostava, apreciar o xadrez como jogo, ciência e arte!
Os amigos do Carlos Quaresma (Dr. House)
Marinha Grande, 7 de Julho de 2012

Xadrez-Lentas, semi-rápidas e rápidas (a polémica)

Polémica no Xadrez
Lentas, semi-rápidas e rápidas
Como todos sabem o xadrez de competição pratica-se em diversos ritmos, cada tem uma designação própria; partidas lentas, partidas semi-rápidas, partidas rápidas, partidas por correspondência (agora Net).
Há provas individuais e provas colectivas. Dentro das provas individuais há os campeonatos absolutos e os femininos. Chamam a atenção para a particularidade de não haver provas masculinas. Facto curioso!
Depois temos os subs 8, 10, 12, 14, 16, 18, 20 e veteranos. Os homens são veteranos após os 60 anos, as mulheres após os 50 anos. Outro facto curioso!
Há quem defenda que o xadrez além de ser um jogo de competição ou simplesmente lúdico, é também e por isso mesmo; uma ciência, uma arte, uma filosofia, uma terapia e até mesmo uma religião.
Agora vossemecê pergunta qual a razão desta arrazoada toda?
Simples! Para chamar a atenção para a complexidade do xadrez!..
Neste momento há uma polémica levantada não sei por quem. Acabar ou não com as partidas lentas.
Pergunto, que mal fizeram as partidas lentas para estarem na berlinda?
Se não gostam de jogar lentas, joguem semi-rápidas ou rápidas. Eu não gosto de leitão, por isso não consumo, mas acho bem que quem goste o coma.
Não compreendo sequer os argumentos dos defensores do fim das partidas lentas. Não me parece justificação o ritmo de vida moderna ser acelerada. Os dias horas continuam a ter 24 horas ou 1440 minutos ou 86400 segundos.
Não se ouve uma sinfonia em velocidade acelerada lá porque o ritmo de vida acelerou. Não se lê um livro em diagonal ou sem assimilar só porque não há tempo para o ler!
Todos temos de tomar opções na vida! Quem quiser jogar lentas joga, quem não quiser não joga! Joga outro ritmo.
Contudo e aí sim, pode-se e deve-se dignificar as partidas semi-rápidas e as rápidas. Depois cada um fará a sua opção.
Na minha opinião, andamos a discutir o sexo dos anjos!..
O xadrez é um universo complexo, tem problemas mais prementes para resolver!
José Bray, 16/7/2012