terça-feira, 5 de março de 2013

Xadrez - "Empates de salão"

Xadrez – Empates de salão
O empate numa partida de xadrez é um resultado normal, tão vulgar como a vitória ou a derrota. Acontece quando nenhum dos jogadores tem material para poder conduzir à vitória as suas peças em função da defesa do adversário. Acontece quando os dois jogadores repetem três vezes a mesma posição no tabuleiro. Acontece quando um dos jogadores afoga o rei do outro. Acontece quando os dois jogadores acordam no empate.
Até aqui tudo bem!
Não é por causa dos empates descritos acima a razão deste meu texto, é sim, por causa dos falsos empates, os chamados “empates de salão”. Em muitos Opens antes de começar uma qualquer jornada já os resultados estão combinados. Isto não é desporto é abandalhamento da verdade, para não lhe chamar outro nome. Esse sim, muito feio!
Embora não goste, ainda compreendo o empate, por motivo de interesse comum, no fim de uma prova. Dou como exemplo: O jogador que na última jornada lhe chega o empate para vencer a prova, propõe e o adversário por interesse ou medo, aceita. Outro exemplo curioso, acontecia em Luanda entre dois jogadores muito amigos, nunca um derrotava o outro. Também, já assisti a um jogador (cobarde) propor o empate dando o título ao outro só para garantir o terceiro lugar, curiosamente o adversário nem era superior e o medroso, podendo ganhar a prova, preferiu... não lutar porque se perdesse ficava em sexto ou sétimo lugar.
Agora o que não compreendo são aqueles xadrezistas (maus desportistas) que entram num grande torneio e sem luta começam a empatar entre eles, desvirtuando toda a verdade. Os xadrezistas sérios esfolam-se durante horas e mais horas ganhando ou perdendo, ficam esgotados e no outro dia voltam ao combate, enquanto uns (escolham vocês o adjectivo), passam as jornadas boiando como a cortiça, para depois se aplicarem em um ou dois jogos e por vezes nem isso.
- Mas que tem você com isso? Perguntam os caros leitores, mas eu explico porque o tema ainda encerra mais incorrecções. Na minha vida organizei e vi organizar muitas provas, senti na minha pele e também o que outros sentiram.
Organizamos um Open com muito sacrifício, muito trabalho e muitos gastos. Convida-se uns senhores que não pagam inscrição, muitos têm estadia gratuita, e ainda há alguns a quem é pago um cachet.
A arraia-miúda, inscreve-se e paga tudo com língua de palmo e nada recebe, com esforço pode amealhar uns pontos de Elo, ou seja, os senhores chegam, não pagam e ainda recebem. No fim da prova, depois de pouco jogarem levam os troféus e os prémios em dinheiro.
Isto tudo é imoral! Por isso era preciso tomar atitudes, coisa que infelizmente ninguém parece ter força para tomar uma decisão. Penso que algumas medidas podiam ser encontradas, coisa que mais tarde ou cedo acontecerá.
Quanto aos patrocinadores, carolas e voluntários, para eles é simples tomarem uma atitude, simplesmente desistirem e mandarem a malta, jogar a pau com os ursos. Infelizmente foi o meu caso e de alguns amigos!
Na minha opinião nunca se conseguirá provas para esses empates de salão, embora todos saibamos que os fazem. Como solução para os falsos empates, penso que os desempates na   classificação deviam ter factores penalizadores. Por exemplo: Um jogador com cinco vitórias e cinco derrotas ficaria sempre à frente de outro com dez empates. Outro exemplo e este mais radical: O empate no lugar de valer 0,50 passava a valer 0,49. Desta formas os jogadores fugiam aos empates combinados e as panelinhas eram mais difíceis.
Obrigado pela vossa atenção.
José Bray, 5/3/2013

segunda-feira, 4 de março de 2013

A revolta



O rapaz não resistiu ao apelo que lhe ia na alma, saiu de sua casa para uma missão arriscada. A revolta estava na rua! Muitos dos seus amigos estavam envolvidos na confusão, ele queria estar com eles. A companheira ainda tentou dissuadir o jovem, convencê-lo da inutilidade da obsessão, mas em vão. O rapaz não cedeu aos apelos e argumentos da jovem mulher. Resoluto avançou para a Avenida em passo certo embora as pernas tremessem. Ao longe ouviam-se tiros que ecoavam na madrugada. Chegou perto dos tumultos mas não se envolveu, ficando a trinta metros dos manifestantes que trocavam mimos com os esbirros. A companheira aterrorizada apareceu de uma rua transversal e com lágrimas no rosto acercou-se do seu homem. A polícia de intervenção agredia uma centena de revoltosos mais corajosos, jovens cheios de cólera e ódio que sentiam aos canalhas. A cerca de setenta metros uma multidão de alguns milhares, gritavam palavras de ordem e agrediam verbalmente a escumalha do regímen, observavam mas não reagiam, ou seja não avançavam. Entre os dois grupos, os que levavam pancada e os indecisos por medo e cobardia, encontrava-se o jovem casal, como pêndulo de uma balança. O rapaz sentia muito medo e sabia da inutilidade de se envolver na luta física. Contudo tomou uma atitude. Virou-se para a multidão acobardada e botou violento e empolgante discurso. Em tom inflamado chamou-lhes cobardes e sem solidariedade para com os da frente. Tudo isto com ênfase de verdadeiro revolucionário, para os ferir no seu âmago. No fim desafiou-os a avançar para a luta, para a zona da pancadaria. Um autêntico fanático a promover um ideal. Aos poucos, timidamente a multidão começou a avançar, primeiro devagar, depois a adrenalina subiu e em cavalgada correram a juntar-se aos companheiros que lutavam. Em segundos caíram em cima dos esbirros que foram esmagados pela fúria do povo. Mas os lacaios do poder  ainda abateram alguns dos revoltosos, inocentes que acreditavam nos seus ideais. No chão negro do asfalto pintado de vermelho pelo sangue, um jovem casal jazia com os corpos crivados pelas balas. A revolução contudo triunfou!
José d' Barcellos, 1/10/2012

sexta-feira, 1 de março de 2013

Porca, a bela!


Era uma vez uma porca que vivia em solidão no seu habitat. Não era grande nem pequena, mas assim-assim. Um belo exemplar com tudo no sítio, seja no alinhamento das dimensões como na qualidade do produto. Luzia o olho a quem a visse e era a inveja das outras porcas. Contudo, vivia triste por não ter um companheiro: – Mas afinal para que sirvo eu? Interrogava-se ela.
O tempo ia passando, e nada acontecia de especial na vida da porca, aos poucos foi perdendo o seu brilho, a velhice tomava conta do seu corpo e ela sentia-se a enferrujar. As outras porcas que também ocupavam o seu habitat iam partindo, fossem grandes ou pequenas, nenhuma lá ficava, se eram felizes ou não, ela também não sabia, mas lá iam à vida, sempre era uma mudança.
O seu velho dono, nem para ela olhava quanto mais tocar no seu corpo. Quando aparecia levava uma das companheiras, por vezes duas, e houve um dia que até levou, logo, meia dúzia e todas da mesma qualidade.
Até que um dia o idoso partiu para a quinta das tabuletas, um novo dono apareceu, por sinal um simpático rapaz. A bela porca sentiu renascer a esperança em algo: – Será que a minha vida vai, agora, mudar?
O tempo continuou a passar e nada acontecia que merecesse a pena ser contado, exceptuando a tristeza que a porca sentia dia após dia, cada vez mais velha e mais enferrujada. Mas um dia há sempre um dia…
Era uma noite de lua nova, nada se via dentro do velho armazém, no seu canto, porca desperta e infeliz revia o seu triste fadário.
Foi então que o portão se abriu muito de mansinho para não haver barulhos, e um homem pequeno e gordo de lanterna  na mão entrou devagar dirigindo-se ao habitat onde a porca, muito encolhida tremia de frio mas também de excitação, estava a acontecer uma aventura, uma coisa diferente dos outros dias.
– Aqui está o que eu queria, esta porca vem mesmo a calhar! Conforme entrou o homem saiu, tendo o cuidado de não dar nas vistas. Por sua vez a bela porca ia feliz, chegara o dia de partir.
Mas mais feliz ficou, quando dias depois o homem pequeno e gordo, introduziu no buraco da porca um parafuso feito do mais fino metal. Porca e parafuso enroscaram bem e foram felizes muitos anos!
Alberto Pereira de Castro