11ª Crónica
Virgindade
O conceito da virgindade era algo sagrado no vetusto Estado
Novo e dos códigos infames da igreja católica, inimiga das mulheres.
A rapariga tinha de ir virgem para o casamento e a perca da
virgindade fora do casamento uma indignidade, uma vergonha, uma desonra.
Tempos de profunda estupidez que o regime de Salazar e
Cerejeira fomentava.
Contudo não protegia a mulher nem as crianças. Mas defendia a
existência do hímen, criando estigmas e sanções a quem o rompia e desonra a
quem deixasse, isto fora do casamento.
Hoje olhamos para esses tempos e temos vontade de rir.
Actualmente qualquer moça se o desejar começa a sua vida sexual logo após a
puberdade.
O problema que ainda subsiste é o risco da gravidez. Hoje só
é ignorante quem quer. A informação é abundante e generalizada e todas os
casais se podem proteger.
Nesta minha crónica coloco de fora a violação e a pedofilia.
Temáticas dramáticas a analisar noutra escrita.
Agora conto uma pequena estória:
Faz hoje cinquenta e nove anos que um meu amigo casou por ter
tido relações sexuais com a namorada deixando a rapariga de ser virgem.
A moça tinha ficado grávida. Foi um desgosto e um drama para
a mãe dela. Exigiu uma reparação que tinha de ser pelo casamento.
O meu amigo de pronto assumiu!
Sinceramente compreendo o sofrimento da senhora… Tinha sonhos
para a filha que assim não se iriam realizar.
Estamos a falar de dois miúdos que fizeram amor por mútuo
consentimento. Ninguém forçou ninguém.
O meu amigo nunca pensou pôr-se de fora e casou mesmo com amoça
ao atingir os dezoito anos e a mocinha dezassete.
É evidente que ele se quisesse nunca seria obrigado a casar,
pois eram duas crianças quando se deu o coito completo. Ele tinha dezasseis
anos, ela tinha quinze. Não esquecer que a maioridade era aos vinte e um.
Ainda outro factor importante na minha opinião. Ele tirou a
virgindade à menina, mas ela também tirou a virgindade ao menino.
Ou seja: eles eram os dois virgens!
Mas ainda havia outro factor, mas esse do foro criminal. A
mãe da menina forçou-a a abortar. Um crime que não podia ser opção da megera.
Com uma queixa iria presa sem remissão!
Forçou o aborto e obrigou ao casamento. Duplo crime.
Seis meses depois o casal separou-se e novamente a mãe da
rapariga teve influência.
Uma megera que não foi amiga da filha!
Sei que esta estória marcou muito o meu amigo que nunca
complicou o processo mas ainda era uma criança para assumir. A menina também
ficou marcada e através da vida a demência aparecia nas suas depressões.
Por essa razão e por ser muito amigo do rapaz, recordo sempre
este dia vinte e sete de Maio.
JB- 27/5/2021