Ufa…que
estória!
Primeira parte
Abel Pires tomava o seu terceiro café do dia, na última
Estação de Serviço, antes de entrar no Algarve. Sentado, aproveitava para tomar
algumas notas, pequenas ideias que podiam ser úteis, para utilizar como
argumento no julgamento, em que ia estar presente, como defensor de um
trabalhador, marginalizado pela máquina capitalista.
Uma tarefa sempre difícil, a força do dinheiro era o diabo...
Estava descontraído, o tempo que precisava para tratar da sua
vida profissional, sobrava e muito. Por isso Abel tinha de fazer alguma coisa
para ocupar parte desse tempo. Não estava preocupado com isso, era fácil no
Algarve conseguir programa. Por um lado havia as praias durante o dia, à noite
locais de interesse não faltavam dentro das mais diversas actividades;
inclusive no mercado da sedução.
Abel ainda tinha a eterna opção para os tempos livres,
estudar as leis e seus meandros, mas isso no fundo era trabalho. Podia ler,
escrever, visitar museus ou monumentos.
Mas havia uma outra hipótese: visitar amigos ou mesmo família,
em ambos os casos, as alternativas eram variadas
Uma das opções, seria visitar uma prima direita, mulher com
menos dez anos que Abel. Familiar com imensa prole entre filhos e netos. Na
verdade Paula tinha uma vida com muita vivência o que lhe deu anti corpos e
capacidade para lutar com o mundo. Muito traquejo tinha a prima Paula.
Esta prima gostava muito dele, talvez devido a um passado em
que via o primo como um príncipe inatingível. Por sua vez, Abel sentia muita ternura
por Paula, mas nunca nesse passado longínquo teve a intenção de a seduzir.
Embora soubesse que a bonita rapariga estava desejosa que o interesse de Abel
por ela se manifestasse.
Na actualidade, sempre que Abel Pires ia ao Algarve em
serviço. A prima exigia que ele ficasse em casa dela. Paula estava viúva com a
vida bem equilibrada. Com a idade, voltou a mostrar interesse e atracção pelo
primo.
Escusado será dizer que Abel nunca lá ficou em casa, dormia
sempre num hotel onde se fizera cliente há muito ano. Ele tinha receio que a mulher,
ainda com muito folgo na guelra, entrasse durante a noite na sua cama. Paula
talvez não o fizesse, contudo Abel não estava interessado em pagar para ver…
Não! A casa da prima Paula não iria e muito menos lá ficaria.
Abel respeitava a prima e admirava a capacidade que ela tinha para gladiar com
a puta da vida.
Pensou… Talvez visitar o Tapadas, seu camarada da guerra, que
vivia numa aldeia para os lados de Lagos.
Se melhor o pensou melhor o decidiu. Iria visitar o amigo que
já não via há cerca de dois anos.
Entretanto foi recordando, enquanto fazia o ultimo troço da
Auto-estrada. O tempo antigo e o tempo mais actual da sua ligação de amizade
com os Tapadas.
O Jacinto Tapadas era um camarada muito simples e muito tímido
que tinha grande amizade por Abel. Este não sabia mas o homem tinha mesmo uma cisma pelo amigo. Qualquer gajo com
experiência em paneleiros topava logo isso. O Abel criado num culto machista,
não podia imaginar nem conceber que isso podia acontecer entre dois homens ou
duas mulheres.
Abel era um conservador!
Para o Abel quando jovem, paneleiros eram gajos acima dos
quarenta anos, esquisitos e cheios de taras.
O Jacinto, contudo teve sempre uma postura sem nada
demonstrar ou a querer. Mas andava sempre borboleteando à roda da luz que
irmanava do Abel. Este adorava miniaturas de casa feitas em madeira. Então o
Tapadas que era marceneiro, fazia-as só para agradar ao amigo.
A guerra para eles terminou um dia e cada seguiu o seu
destino. Durante muitos e muitos anos não se viram e não souberam nada um do
outro.
Em Lisboa, Abel Pires abriu um gabinete de advogados, foi
crescendo com sucesso. No Algarve, o Jacinto Tapadas abriu uma empresa de
construção civil e empurrado pelo boom do desenvolvimento imobiliário,
enriqueceu. Casou entretanto com Matilde e foi pai de um rapaz.
Até que um dia, através dos almoços anuais da Companhia
Militar, os amigos se voltaram a encontrar. Nesta altura estavam todos a entrar
na casa dos sessenta. Mas no Jacinto, rápido se voltou a revelar a antiga
fascinação pelo Abel.
A mulher do Tapadas, a Matilde, era uma mulher magra com
aspecto fino, sempre muito simples no vestir mas com gosto. O cabelo comprido
já com bastante grisalho que ela não se preocupava em esconder. Embora magra,
mas não em excesso, tinha uma figura sedutora. Via-se que era culta mas que não gostava de
dar nas vistas. Não mostrando má cara, era muito simpática mas raramente dava
um sorriso.
Como já disse o casal teve um filho, que como o pai também se
dedicou à construção civil. O Luís Tapadas, devido à actual crise, emigrou para
Angola, terra onde seu pai e Pires lutaram.
A residência do casal Tapadas ficava numa pequena aldeia a
meia dúzia de quilómetros de Lagos. Era aí que o Abel queria ir no seu tempo
livre. Visitar com calma os amigos.
Abel Pires chegou a Lagos por volta do meio-dia. Estacionou o
seu Jaguar num parque pago. Depois foi à procura de um tasco, que um amigo lhe
indicara e onde se comia peixe de primeira. O nosso homem lá conseguiu
encontrar a taberna e sentado junto a uma janela numa pequena mesa, pediu o
peixe, a salada, o queijo, o pão e claro o vinho.
Enquanto deglutia os salmonetes e bebia um verde de reserva,
o Abel ligou ao Jacinto.
Uma voz feminina, melodiosa com sotaque alentejano, fez-se
ouvir no outro lado da linha.
- Estou sim, faz favor de dizer…
- Minha senhora o Jacinto Tapadas está?
- Quem procura por ele?
- É o Abel Pires, velho camarada da guerra.
- Como estás Abel? É a Matilde a mulher do Jacinto. Um
momento vou chamar o teu amigo…
- Obrigada amiga…estou bem, E tu Matilde?
- Vai-se indo…vai-se indo!
Após aguardar breve segundo, uma voz aflautada surgiu do
outro lado.
- Abel, como está o meu velho amigo? Por onde andas que nunca
apareces?!
- Vai tudo dentro do normal Tapadas. Estou em Lagos e pensava
fazer-vos uma visita. Estás por aí?
- Já devias cá estar! Não era preciso perguntar. Porque não
vieste para o almoço?
- Já era um bocado tarde e não queria incomodar.
- Que raio de disparate! Já sabes onde é a casa, esperamos
por ti…vem rápido.
E assim aconteceu! Após pagar o almoço, Abel avançou no seu
Jaguar na direcção da aldeia onde moravam há muitos anos os Tapadas. A
residência era uma vivenda de bonita traça nada exagerada na dimensão, mas
construída com todos os requintes de quem sabe o que quer, e sabe como se faz.
Quando Abel estacionou a sua bomba no jardim do Jacinto, este
e Matilde já o esperavam na escadaria da vivenda. Seguiu-se uma demonstração de
amizade de quem realmente sente felicidade. Tapadas estavam mesmo eufórico com
a chegada do amigo e este também estava contente. Matilde olhava para os dois
com a sua aparente calma mas com expressão de pessoa inteligente. Por fim a
mulher abraçou Abel, este teve uma pequena reacção, como se tivesse recebido
uma injecção de química.
Como o tempo estava agradável, os três sentaram-se em
cadeirões de verga no jardim debaixo de um frondoso pinheiro manso. Durante
algum tempo, cavaquearam sobre tudo e mais alguma coisa. Dos filhos, do
trabalho, da politica, do desporto e como não podia deixar de ser, sobre o
tempo de guerra no passado já longínquo.
- Abel…vou num instante à loja comprar conquilhas para o
nosso lanche. Fica a cavaquear com a Matilde que eu não demoro.
- Não queres que vá contigo?
O amigo disse que não com a mão, depois foi à garagem tirar o
Mercedes e na calma dirigiu-se para a loja do marisco que ficava já perto de
Lagos.
Após algum silêncio…Jacinto perguntou à Matilde.
- Então amiga, como tem passado de saúde?
- Abel…a tua amiga Matilde não tem andado muito bem. Ando
muito nervosa, mas não sei porquê. É como se sentisse a falta de qualquer
coisa. Mas que coisa? Não sei, amigo!
- E o Jacinto… está bem? Há algum problema entre vós, ou com
o vosso filho e netos?
- Não Abel, o Tapadas é uma jóia como tu sabes. Muito
atencioso e tratando-me sempre com carinho e muitos cuidados. O filho e netos
estão bem lá na vida deles.
- Ainda bem Matilde, ainda bem. Já pensaste ir ao médico, ver
se tens algum problema de saúde desconhecido?
- Mas não me sinto mal do corpo, não tenho dores. Que vou
dizer ao médico? Ainda me diz que sou maluca.
Enquanto iam conversando entraram em casa e foram para o
vasto salão. O Tapadas entretanto apetrechou-se e voltou para casa. Ao entrar
na sala, ainda foi a tempo de ouvir Matilde dizer.
- Sabes Abel, o meu marido está muito feliz por teres
aparecido, ele tem uma grande admiração por ti. Tu és o herói dele. Penso que a
ti ele dava tudo e mais alguma coisa.
Neste diálogo havia um óbvio segundo sentido. Tapadas ouviu e
não se ofendeu.
Eram dezassete horas, até às dezanove os três petiscaram e
deitaram abaixo algumas garrafas de branco do Algarve, de elevado teor
alcoólico. Ficaram dessa forma mais que jantados e bem bebidos.
Matilde pediu autorização para ir ver a telenovela da moda.
Por sua vez os amigos por sugestão do Jacinto foram fazer uma caminhada junto
ao mar, que ficava a escassos quinhentos metros da casa dos Tapadas.
Jacinto olhava fascinado para o Abel, a mesma fascinação de
há muitos e muitos anos, quando ambos tinham pouco mais que vinte anos.
Em dado momento, Jacinto disparou.
- Abel, por favor, não quero que te ofendas com a pergunta
que vou fazer. Basta que me mandes calar e tudo fica como dantes.
O nosso Abel ficou em pânico e pensou preocupado. – Não me
digas que este gajo vai fazer uma declaração de amor. Travo já a conversa se
for esse o caso.
- Amigo diz lá, não deve ser morte de homem.
- Então lá vai. Abel, continuas a gostar de fornicar e ainda
o fazes regularmente?
O nosso homem ficou abestalhado com a pergunta, mas não viu
razão para não responder.
- Sim Jacinto, continuo a foder e cada vez com mais técnica.
Mas porque essa pergunta?
- Porque queria pedir um favor mas tenho vergonha.
- Homem de Deus, já que começaste acaba.
O Abel estava mesmo a ver que o amigo queria ser enrabado. -
Que raio de situação, onde me vi meter. - Pensou ele.
Entretanto um longo silêncio imperou entre os dois homens. Só
se ouvia a sinfonia do oceano. Jacinto não sabia se devia avançar ou não.
- Oh homem…desembucha, podes confiar em mim. Após o que
disseres, tudo continuará igual entre nós.
Então o Jacinto Tapadas tomou coragem e venceu a sua natural
timidez.
- Abel gostava muito que fodesses a minha mulher!
Após dizer isto, baixou a vista e ficou sem coragem para encarar
o amigo. Este por sua vez ficou mais aliviado e tentou animar o amigo.
- Jacinto, não fique envergonhado, não é nada do outro mundo.
Já vi coisas muito piores. Vamos lá escalpisar o problema. Faço já várias
perguntas para ficares mais à vontade. Primeira, a Matilde está de acordo?
Segunda, fiques bem se isso acontecer? Terceira, que se passa contigo e com tua
mulher? Jacinto Tapadas, velho amigo, fala sem rodeios nem complexos.
Então o Jacinto Tapadas falou.
- Com a Matilde entendo-me eu, mas para já digo-te o seguinte.
Há bastante tempo, falámos um pouco a brincar e um pouco a sério, nessa
hipótese. Ela a sorrir disse que não, pensando em sim. Abel, se ela fizer amor
contigo fico feliz. Terceira questão, ao fim e ao cabo o fulcro da questão. Entre
mim e Matilde está tudo bem, menos na cama. Abel, eu sou gay, mas nunca assumi
nem vou assumir. Fiz um esforço e Matilde tentou ajudar. A provar isso foi
termos o nosso filho. Mas depois com o tempo não consegui mais. Matilde é uma
mulher boa e séria. Nunca teve coragem de me trair. Mesmo quando dei a entender
que não me importava. Não nego que tive e tenho uma sisma por ti, que começa e
acaba na admiração e fascinação.
Jacinto parou para descansar, olhou atentamente para Abel que
o fixava com emoção e lhe deu coragem para continuar.
- Como já disse atrás. Há muito tempo tinha falado com a
minha mulher. Há pouco tempo, voltei a abordar o assunto com a Matilde. Disse-lhe
que devido há grande amizade que tinha e tenho por ti, não me importava que
fizessem amor os dois. Ela compreendeu tudo e riu-se dizendo. – Mas se estás
tão longe do teu amigo como resolves isso? – Agora aconteceu este acaso de
apareceres em Lagos, se é que foi um acaso e não uma armadilha do destino.
Então ganhei coragem e falei hoje contigo. Abel, todo o mal no sistema nervoso
de Matilde é devido há falta de sexo. Eu sei isso e sofro.
- Ah Tapadas, Tapadas, Tapadas. E agora?
- Agora Abel? Está na tua mão. Desculpa esta situação.
- Jacinto vou pensar na situação. Amanhã tenho julgamento em
Portimão. Depois regresso a Lisboa. Mais tarde falamos…
- Vou voltar a abordar o assunto, subtilmente, com a Matilde.
Depois digo-te alguma coisa. Gostava que vocês se entendessem. Ela merece e eu
fico feliz.
- Mas não digas nada à Matilde que falaste comigo. Deixa que
haja sedução. Só assim entrarei no jogo, meu amigo.
- Com certeza, tens razão. Obrigado meu grande amigo.
Após esta complexa conversa, os dois amigos despediram-se. O
Jacinto foi para junto de Matilde. O Abel, por sua vez com a cabeça zonza, foi
para o seu hotel em Portimão.
Fim da primeira parte
Segunda parte
O tempo passou. Cerca de um mês depois do Abel Pires ter
estado no Algarve na casa do Jacinto, o nosso homem trabalhava no seu gabinete.
Estudando um processo complexo de regulamentos dúbios. Estava concentrado
tentando compreender toda a lógica daquelas tretas, em que uma vírgula alterava
todo o sentido ao texto.
Parou para tomar mais um café, o seu vicio mais vicio…nesse
entretanto entrou no gabinete a sua secretária.
- Senhor doutor…está n linha dois um senhor para falar
consigo. Diz ser o Jacinto Tapadas. Passo a chamada?
- Passa sim Branca e obrigado.
- Olá Jacinto, então como vai isso?
- Estou bem meu amigo. A Matilde é que está cada vez mais
destabilizada. Ando muito preocupado…
- Que posso fazer por ti e por ela, Jacinto?
- Abel, voltei a abordar a questão que tínhamos, tu e eu
conversado, há um mês. Claro que não lhe disse nada sobre as nossas conversas.
- Que disse a Matilde? Como reagiu desta vez?
- Disse-me que para me fazer feliz não se importava de fazer
sexo contigo.
- Repara que ela disse fazer sexo e não fazer amor. Não achas
que essas conversas são uma afronta à tua mulher?
- Nada disso, Abel. Aquilo que ela diz é só da boca para
fora. Que querias que ela dissesse? Ela quer, eu sei. Mas mais importante que
ela querer, a minha mulher precisa mesmo…senão fico sem a minha Matilde. Vem
Abel, por favor!
- Eu vou sim amigo. Mas temos de tratar tudo com punhos de
renda, tem de ser tudo muito natural, para não parecer uma coisa promíscua.
- Abel é simples, vais cá passar uns dias, aproveitando a tua
vida profissional. Vens ficar em nossa casa, como temos muitas vezes convidado.
Depois quando for oportuno e ausento-me para tratar de assuntos. Coisa normal
sair por duas ou três noites.
- E depois?
- Depois fazes a tua sedução, o que for soará. Se não for à
primeira, será à segunda ou à terceira. Vais ver que tudo será natural. Eu fico
feliz e ela poderá ficar bem da cabeça. Agora sou eu que peço, tem coragem Abel
e não te atrapalhes.
Durante uns minutos ficaram em silêncio. Minutos que pareceram
horas. Por fim Abel Pires falou.
- Está bem Jacinto, daqui a duas semanas posso estar uns dias
em Lagos ou na tua casa. Tenho um julgamento que deve durar uns dias, pois é um
assunto polémico. Quando for avisarei. Está bem assim Jacinto?
- Muito bem, cá te esperarei. Tem calma, tudo vai correr bem.
Para ser mais natural, não direi nada à Matilde sobre a tua vinda.
Após desligar o telefone, Abel ficou muito tempo a matutar.
Ufa…que estória! Vamos lá ver se ninguém sai magoado deste imbróglio.
Sem cabeça para continuar a analisar o chato regulamento,
saiu para ir ao bar. Queria encontrar alguém para cavaquear e beber uns copos
de preferência com um amigo ou amiga.
Afinal não foram quinze dias mas sim um mês, que passou
rápido. Abel Pires partiu de manhã cedo para o Algarve. Levava duas missões na
bagagem. Um julgamento polémico e conquistar Matilde. Mas não estava muito
convencido que ia vencer nas duas frentes. Vencer não era a expressão correcta.
Alcançar os objectivos, seria mais bem dito. No primeiro caso conseguir fazer
justiça, no segundo, seduzir a mulher do Jacinto com a concordância dele.
Após pedir à sua empregada domestica que lhe preparasse a
mala para oito dias, Abel Pires, numa segunda-feira, partiu bem cedo para o
sul.
Um bom amigo pediu-lhe para dar boleia a um filho que ia para
a Universidade do Algarve. O nosso homem ficou satisfeito, sempre tinha alguém
para o distrair, assim falando com o David, ia-se abstrair e não pensar no
trabalho ou no Tapadas.
David era um rapaz muito inteligente. Para além disso era bem
formado como cidadão, não sendo colonizado pelo dinheiro do pai. Pires gostava
muito do puto e estava satisfeito de o levar na viagem para o Algarve.
- Mas o doutor não quer mesmo ficar no meu apartamento, tenho
um quarto livre?
- Não David, talvez numa próxima viagem, desta vez vou ficar
na casa de uns amigos. Terei de resolver uma complexa missão.
- Doutor, o senhor tem fama de grande conquistador. Posso
fazer uma pergunta?
- Força David, posso não responder!
- Qual a melhor técnica para conquistar uma mulher?
O advogado deu uma gargalhada, depois com cara séria falou:
- Não há uma receita única. Depende de vários factores.
Depende do emissor e do receptor. Teríamos de escrever um tratado e muita coisa
ficaria por dizer.
- Mas doutor, um só conselho!
- Sê tu mesmo!
- Só isso?
O carro seguia a uma velocidade moderada, a pressa não era
muita. Abel Pires achou imensa piada à questão colocada por David. Como tinha
tempo, decidiu contar uma estória da sua vida…
- David para não estar com filosofias que no fundo não levam
a nada, vou contar uma estória passada tinha eu exactamente vinte anos. Cá vai…
“Um dia fui para a praia na linha do Estoril com um amigo que
mais tarde foi meu cunhado.
Tinha na altura vinte anos e pensava ter o mundo nos meus
braços.
Estávamos nós já perto da arrebentação quando reparei numa
mulher jovem sentado na sua toalha a ler uma revista.
De volta dela meia dúzia de macacos faziam acrobacias
tentando chamar a atenção.
A rapariga era uma visão sensual que virava a cabeça a
qualquer um. Loura, com tudo no sítio conforme moda para a época. Era na
verdade uma provocação.
Disse ao meu amigo: - Vou avançar, se der algo, segue o teu
dia.
O meu amigo respondeu: -Força Abel, amigo não empata amigo.
Que fiz? Simples, sentei-me ao lado dela numa conversa
delicada, ela respondeu e ao fim do dia regressámos a Lisboa.”
- E depois doutor?
- Depois rapaz? Será estória para outra lição um dia.
- Mas afinal que fez?
- Fui natural, fui eu sem vício na cabeça nem carro à frente
dos bois.
David sorriu com expressão de entendido. Fiquei feliz, o rapaz
era esperto.
E assim nesta maneira divertida chegámos ao Algarve. Fui
levar o David ao seu apartamento e de seguida segui para a aldeia do meu amigo
Jacinto Tapadas.
Cheguei já perto do meio-dia, hora que avisara de véspera.
Na escadaria da vivenda estavam Jacinto e Matilde com cara
feliz, por receberem este amigo de há longos anos.
Jacinto estava como sempre, mas a Matilde, no seu estilo
simples e com muita classe estava elegantemente produzida, incluindo o penteado
trabalhado sobre o seu excelente cabelo.
Foi um abraço sentido emocionalmente por todos.
Depois entraram abraçados em casa, fechando-se a porta maciça
logo que eles entraram.
Fim da segunda parte
Terceira parte
Nota: como noutros contos, cada um fará o seu próprio final.
4/3/2015
Antobar