sábado, 17 de maio de 2014

O casamento pelo civil

O casamento pelo civil
O rapaz entrou receoso no santuário do mestre Oliveira. Ali, naquela sala, o velhote de bigode retorcido era rei. Tratava-se do Registo Civil daquela modesta Freguesia situada na Lezíria Ribatejana, na margem direita do rio Tejo.
O senhor Oliveira bem viu o visitante, mas fingiu não se aperceber da sua entrada. Continuou a escrever a carta para sua filha que vivia lá para as bandas de Espanha. O idoso era um autodidacta, um dos poucos homens cultos da aldeia, além disso a sua elegante caligrafia fazia inveja a qualquer escrivão. Por tudo isso, ele colaborava nos diversos registos, nascimentos, baptizados, casamentos e óbitos. Tudo no civil, porque o tempo era da separação da Igreja do Estado.
O homem ainda novo, esperou pacientemente, dando voltas e mais voltas ao barrete que tinha entre as mãos, por sinal pouco calejadas. Cinco minutos depois, o secretário Oliveira terminou a sua missiva para a filha Joana, preencheu o subscrito, dobrou cuidadosamente a carta que colocou dentro do dito. Depois sem pressa, retorcendo o farto bigode, levantou o olhar encarando o rapaz, em voz grossa e enérgica, inquiriu, o receoso visitante.
- Então João Marialva, que te trás cá? Fala lá, não tenhas medo que não como criancinhas.
O homem a muito custo foi desbobinando a sua pretensão.
- Senhor Oliveira precisava da sua ajuda, estou numa enrascada e não sei como sair dela.
O velho manhoso com expressão seráfico interpelou o sacaninha.
- João, explica-me tudo com muita calma, não omitas nada.
- Desculpe que quer dizer com não omitas nada?
- Não me escondas nada meu ignorante.
Então, o rapaz lá contou a sua estória e a sua pretensão. O mestre Oliveira já sem o tal sorriso sarcástico, foi ouvindo o enredo, fazendo de vez em vez uma ou outra pergunta.
Para simplificar, vou resumir por palavras minhas.
O João namorava a Maria uma rapariga de uma aldeia vizinha. No namoro o par adiantou-se, a família da moça exigiu uma reparação, senão dava cabo do rapaz. Por sua vez a família do João não aceitava a rapariga. Aconselhado por alguém sabido, armado em esperto o moço pensou fazer um casamento falso para calar a boca aos pais da rapariga e assim ter uma folga para saber que fazer no futuro. Para isso foi ter com o senhor Oliveira, por sinal amigo do seu abastado pai.
Após dar a conhecer o seu problema e fazer o seu pedido, ficou esperando com a viseira descaída a resposta do velhote.
- Quer dizer, comeste a miúda e agora queres uma forma de te safares.
- Era isso mestre Oliveira, ajude-me por amor de Deus.
Seguiu-se um longo silêncio, o rapaz continuava de olhos pregados no chão aguardando a atitude do escrivão. Pensou que não haveria problema porque o Oliveira era amigo do seu pai, nas vadiagens em que os dois homens eram peritos. Por fim o nosso velho sabido, falou.
- João, vais trazer duas testemunhas para tudo parecer mais real. Não podem ser bêbedos, nem malucos. Não te esqueças de trazer também a Maria. Venham cá amanhã à hora da sesta.
O rapaz partiu feliz, estava desenrascado. Não havia nada como ser filho de homem rico, ainda por cima amigo do escrivão e companheiro nas tertúlias de mulheres, guitarradas, cavalos e copos.
No dia seguinte, lá estavam as duas testemunhas e o jovem casal. O senhor Oliveira apareceu vestido a rigor, com os olhos rindo cheios de ironia.
- Vamos lá tratar da papelada.
Mandou sentar os quatro e passou a meia hora seguinte a escrever no livro dos registos, fazendo aqui e ali algumas perguntas sobre dados essenciais. Tudo registado com letra bonita, de escrivão ou doutor. Por fim avançou para o acto final.
 - João, aceitas Maria para tua esposa? Maria, aceitas João para teu esposo? As testemunhas têm alguma coisa a declarar contra?
Eles aceitaram-se mutuamente, as testemunhas nada tinham contra. No fim todos assinaram! O casamento estava feito.
- Muito obrigado senhor Oliveira, quanto devo?
- Nada meu rapaz, foi o casamento que mais prazer me deu fazer. Pega na tua mulher e leva-a para tua casa!
- Mas senhor Oliveira… Que quer dizer?
- Meu sacana, quer dizer que estás mesmo casado! Pensavas que faria um casamento falso? És mesmo burro. Logo falo com o teu pai. Felicidade para ti, Maria.
Marinha Grande, 16 de Agosto de 2013
José Bray
Nota: Esta estória é baseada num acontecimento verídico, passado no limiar da primeira República.


Navio Negreiro

Navio Negreiro
Navio negreiro, triste sina
Leva corpos, leva almas.
Corpos negros, almas brancas
Corpos brancos, almas negras.
Deus dormindo
No ondular do mar.
Diabo à solta,
Na excitação das vagas.
Drama imenso
No vogar das ondas,
Humanidade perdida.
Gente canalha,
Nações bandidas.
Deus dormindo
Em regaço de rico.
Diabo feliz
Gozando e rindo.
Corpos negros, almas brancas
Ração do mar salgado.
Corpos negros, pretos, escuros!
Navio negreiro, triste sina!
José d’ Barcellos, 10/6/2013
Baseado no quadro de, William Turner, O Navio Negreiro



quinta-feira, 15 de maio de 2014

Irmandade JM - a ultima brincadeira proibida


Irmandade JM – a ultima brincadeira proibida
Naquele universo cúbico abaixo do piso zero, a irmandade JM estava reunida, mais uma brincadeira proibida estava em marcha, mais que proibida, perigosa mesmo. Nenhum dos quatro estava drogado ou simplesmente com os copos, contudo o bom senso não encontrou aceitação, o diabo espicaçava os miúdos naquele dia, talvez culpa da primavera ou então os anjos do bem dos quatro foram dar uma volta e deixaram os adolescentes entregues aos do mal. Vamos narrar de mansinho para não chocar muito…
Primeiro, porque era chamada a irmandade JM? Simples porque havia o José Manuel, o Jorge Manuel, o Joaquim Manuel e a Joana Maria. Era uma coincidência mas era mesmo assim. Um dia, ao reparar nisso, um dos putos, não interessa qual, sugeriu criar a irmandade JM.
Os adolescestes tinham todos doze anos excepto a Joana que ia nos treze. A rapariga nada tinha de bonito e o físico deixava muito a desejar, era franzina e parecia mais nova, excepto em relação ao irmão Jorge pequeno como ela, o Joaquim era gordo, o José era o mais alto e o mais bonito. Os rapazes eram todos ainda meninos, pouco pintavam ou mesmo nada, talvez um pouco um dos JM, mas a garota nada lhe dizia. Mas Joana Maria já tinha bastante vício, era mais velha e como se sabe as moças desenvolvem mais cedo, são mais precoces.
Nesse dia a irmandade partiu para uma brincadeira que podia ter acabado mal, Joana quis brincar aos casais. O José e o Joaquim ficaram vermelhos cheios de vergonha, mas não deram parte de fracos, para o Jorge parecia ser tudo normal.
A rapariga foi para o quarto dos pais, despiu-se e meteu-se dentro da roupa, chamando depois os rapazes, um de cada vez. Ela definiu o tempo, cada um estaria casado com ela quinze minutos. Os putos lá foram cada um na sua vez!
Gostavam de saber o que se passou? Nada de especial…
Depois o Joaquim foi para casa e o José também, o Jorge ficou com a irmã. Mas antes a Joana que não deve ter gozado, zangou-se e fez uma ameaça, contar aos pais que tinha sido obrigada!
Nessa noite Joaquim teve pesadelos, por sua vez José ficou cheio de medo e até bastante tarde ficou à janela sempre à espera que lá ao longe aparecesse o pai ou mãe da Joana.
Depois dessa brincadeira a irmandade JM implodiu como uma bolha de sabão.
 José Bray, 11/1/2013
Nota: Esta pequena estória, verídica, faz parte do romance biográfico "Capitães da relva".



quarta-feira, 14 de maio de 2014

Escrevendo em voz alta...ou como tratar a neura!

Fui com sede ao pote? Talvez sim, talvez não. Convém que a água esteja preparada para ser bebida. Ir demasiado cedo só serve para turvar o liquido e depois nunca mais assenta. Isto faz lembrar a parábola do pescador de emoções, esse sim, fazia as coisas como deve ser. Vou contar...
O pescador muito de mansinho deitava a rede ao lago, esperava o tempo que fosse necessário calmamente. Com arte e engenho ia deitando pequenos iscos para encantar a pesca. Quando pensava que tudo tinha sido feito nos conformes, puxava devagar a rede para não espantar a pesca. Depois com o saber de pescador muito treinado e safado, estudava a safra e tomava uma decisão. Se houvesse alguma pesca que lhe agradasse, deitava a restante pesca ao lago. Depois durante um tempo só consumia a pesca escolhida. Quando acontecia não haver pesca de jeito, ia tudo para o lago. Depois com toda a paciência do mundo e com a sua arte e engenho de bom pescador voltava a deitar a rede ao lago sempre na esperança de acontecer uma boa pesca. Acabava sempre por ter sorte! Ou era saber?
Acabou para a Academia de Xadrez do Bombarral o nacional da segunda divisão, este é meu clube e do Daniel. A equipa manteve-se a custo na segunda divisão. Com dificuldade sim, mais por erros de percurso do que por necessidade. Com a armada espanhola teríamos lutado para o primeiro lugar, mas os barcos de Espanha afundaram nas rias da Galiza, como aconteceu à outra armada no canal da Mancha, a invencível. As melhores prestações foram do Fernando Sena que arrecadou 63 pontos Elo (muito bom) fazendo 4,5 em 7 pontos e do Daniel Bray que fez 4 pontos em 6 pontos e arrecadou 15 pontos Elo. Cá o velhote fez uma prestação medíocre, a idade não perdoa. A Academia deve apostar na juventude. Para o ano, se algum reforço chegar melhor, mas jogadores de perto, não vá a tempestade tramar tudo outra vez.
No próximo sábado vai acontecer o nacional de semi-rápidas de equipas em Coimbra. Como todos sabem, fui o criador desta variante que não existia no panorama português. A prova tinha a designação de Memorial José Vareda. Era uma organização de excelência, chegando durante anos a ser a melhor prova nacional, isto na opinião de quem sabe. Foi assim vinte anos. Um estúpido contencioso entre a direcção do SOM e da FPX, deu-se o divórcio. Não interferi porque tinha morrido para o xadrez da Marinha Grande, outro contencioso estúpido mas não chamado para aqui. Mas acompanhei o processo à distância e numa mensagem anterior falei nisso neste blogue. Que aconteceu entretanto? A Federação passou a fazer o Nacional e o SOM o Vareda. Este ano o Vareda teve doze equipas, duas da casa, para o nacional do dia 17 estão inscritas dezanove equipas, sendo várias da Associação organizadora e cinco equipas B, ou seja só estão representados catorze clubes. O Memorial José Vareda por várias vezes esteve perto das cinquenta equipas. Perderam todos pau e bola, o SOM, a FPX e pior que tudo o Xadrez. Foi a boa cagada que os responsáveis fizeram. Bem hajam!
Estive três dias e duas noites no Alentejo, na região de Beja. Estive com olhos de ver como nunca tinha estado. Claro que já por lá tinha andado, não falo nas passagens para o Algarve embora sempre tivesse parado aqui e ali. Isa Bray tirou o curso em Évora, por isso lá ia regulamente, batendo a zona. Vi muitos monumentos e bebi muito vinho com a gastronomia da região. Também joguei o torneio de Odemira duas vezes, o que me permitiu ver a aquela zona. Andei por Castelo de Vide, Marvão e Portalegre, numa interessante viagem com muito para contar, mas não nesta conversa, mas foi giro. Principalmente a ida a Espanha numa noite de borga para jantar (ou cear) comida espanhola e no fim descobri que o restaurante era de um casal português. Há anos andei para Reguengos e Reguengos de Monsaraz. Mas a viagem que fiz há dias foi especial. A minha intenção era de beber o Alentejo com todos os meus sentidos. Falar com aquela gente que tão mal tratada tem sido através do sempre. Povo que passa as horas a ver passar o tempo, com os olhos perdidos no vasto horizonte. Fiquei em Aljustrel, num hotel novo com tudo do mais requintado na arte de bem servir. Mas não imaginem que era para ricos, não senhor, a preços acessíveis. Gostei imenso da vila, tem uma traça mais modernista por exemplo que Ferreira onde também estive. Não se via um papel no chão e a acessibilidade para todos  era uma constante em todos os locais, passeios e edifícios. O meu destino principal era Ervidel uma aldeia enorme, arrumadinha e  vazia. Foi um favor feito a uma amiga, aproveitando para respirar Alentejo. Na aldeia visitei o museu local, pequeno mas interessante, onde um funcionário deficiente faz serviço todo o dia, mas que tem dias e dias que ninguém visita o museu. Na aldeia todo o meu tempo foi passado a escutar as conversas, em especial no largo central onde os compadres vegetavam bebendo uns tintos e dizendo umas tretas mil vezes repetidas na ano. De repente dei comigo a falar alentejano. Fui a Ferreira e gostei, mas não tanto como de Ervidel. Mas lá aconteceu uma cena muito gratificante. Como sabem sou de fala fácil. Ao passar junto a um hotel de charme meti conversa com um compadre que estavam abrindo uma garagem, ou pequeno armazém. Então o raio do senhor Francisco convidou-me para ver uma coisa, fui! sabem o que era? Um museu privado, nessa garagem ou pequeno armazém, ou para as duas funções. Centenas de peças de tudo e mais alguma coisa, por exemplo ratoeiras (armadilhas) de todos os tamanhos e feitios, do pequeno pardal ou rato até raposas e lobos. Miniaturas de ferramentas de todas as profissão do campo, adegas, lagares, etc. Era tanta coisa que até custa a descrever, camas de ferro, recipientes, candeeiros, ate quadros pintados não sei por quem. No dia um de Maio fui a um piquenique do pessoal de Ervidel na barragem do Roxo. Comi rancho e depois caracóis e bebi bom vinho, escutei discurso politica mas já sem garra, depois um coro de mulheres e a seguir outro de homens, para terminar um grupo folclórico de Faro. No dia dois fui para Beja, gostei, tinha uma ideia errada da cidade quando há muitos anos por lá passei. Mas não me vou alongar, porque tinha muito para escrever. Foi a lidação com o povo alentejano que me fascinou. Também me deu grande satisfação, ver olivais com dezenas de milhar de oliveiras assim como pinhais imensos de pinheiros mansos, searas de girassol e de trigo, para além dos sobreiros e das vinhas e do gado. O Alqueva vai fazer maravilhas no Alentejo. Gostei, os meus amigos do norte que me perdoem, mas gosto mais de estar a sul do Tejo! Um filosofo meu amigo dizia que o alentejano só emigra para o cemitério. Outro dizia que o alentejano evita atravessar o Tejo.
Penso que já escrevi bastante! Dedico estas tretas a quem gostar de ler o que escrevo.
José Bray


domingo, 11 de maio de 2014

Tratando a neura!

Algumas pessoas queridas, perguntam-me. Então não há nada de novo no teu blog?
Na verdade este ano tenho estado muito apático para a escrita, embora temas não faltem. Meti há pouco umas coisitas mas que já estavam no PC há meses, como podem confirmar nas datas no fechar das mensagens. Este ano em Janeiro ainda escrevi uma longa metragem intitulada "O Cooperante", trata dos anos da descolonização e dos dois primeiros anos de Angola independente, É um texto meio biográfico, mas contando verdades, é a perspectiva de quatro amigos, suas mulheres e outros. Deitou-me a baixo na verdade. Por isso passei um Fevereiro, Março, Abril, até há poucos dias num estado de prostração. Reagi e recomecei a cinco uma saga antiga mas com um conceito muito interessante, o titulo provisório é João Simão. A primeira parte foi escrita há mais tempo, mas agora o regresso de João Simão evoluiu.
Vou escrever ao toque umas tretas para tentar acalmar a minha alma. Desculpem. mas não leiam!..
Preciso de falar mas não sei com quem, por isso vou escrever à toa como muitas vezes faço, ao parir palavras sobre a página em branco do word dá-me um certo gozo. Mas prazer mesmo é escrever a negro sobre um caderno quadriculado de preferência A4, mas A5 também serve. Por exemplo o meu querido Diário é de tamanho A5, nele vou escrevendo os meus humores, desejos, desabafos. Lá aparecem regularmente poemas, fraquitos mas elaborados de esticão com muita satisfação. São versos de pé quebrado como dizia um filosofo meu amigo. Na verdade, enquanto a minha esferográfica vai expelindo a sua alma para o papel, até a sua exaustão, sinto prazer na minha mão direita, especialmente nos dedos polegar, indicador e um pouco no grande. Vós pensais. - Este gajo está doido! - Talvez esteja mesmo, mas se lerem uma mensagem há tempos introduzida neste blog intitulada "a morte da caneta", vão entender a mesma descrição atrás sobre a caneta a fazer amor com o papel deixando-o grávido de letras que poderão ter sentido ou não.
Espero que ninguém leia esta mensagem, embora ela seja toda a pensar nos meus amigos, que são muitas centenas senão milhares. Sim, penso que são milhares. A minha capacidade de amar não chega para dar atenção a todos. Peço perdão por isso, mas a vida é demasiado curta para tantas tarefas apaixonantes. Diz quem sabe que a vida é curta para o Xadrez. Então um viciado em Xadrez nada mais pode fazer. então as outras coisas? Como escrever estas tretas...ainda por demais eu tenho uma paixão pelo jogo das Damas. Já este ano fiz a maluquice de ir jogar a preliminar do campeonato nacional de Damas, nas instalações do INATEL na Vila da Feira que por sinal até é cidade. Há trinta anos que não jogava este maravilhoso jogo, nem a brincar. Então não é que fiquei apurado para jogar a fase final que está a disputar-se neste momento. Claro que não fui porque estou também este fim de semana a jogar Xadrez e tenho responsabilidades na equipa. Declinei a favor do jogador que estava na ordem classificativo da dita preliminar.
Como vêm meus amigos, a vida é mesmo curta. Devido a um grande amor atraiçoei o anterior, aconteceu em 1972 quando desliguei-me das Damas e me juntei ao Xadrez, agora dei uma voltinha com o meu antigo amor, mas não posso deixar o Xadrez, foi só um devaneio. Contudo na verdade eu adoro jogar Damas. Mas o tempo, o tempo, sempre o tempo.
Tenho setenta anos e felizmente sinto-me em plena forma, física e mental, mas também sei que o tempo está contado e de repente ela chega, sobre as mais variadas formas. Tudo que nasce, morre, muitas vezes não cresce, mas morrer, morre mesmo. Falando em morte, não tenho qualquer medo de morrer, vai ser um grande descanso, só não queria era ter de sofrer, Isso é que é uma porra.
O meu problema é mesmo a falta de tempo. Um homem ou uma mulher apaixonados por muitas paixões ao mesmo tempo, têm o meu problema. Já me referi ao Xadrez e às Damas, mas isto é só a ponta do icebergue. Então a escrita? Quem tem a tara de escrever como eu tenho, que faz? Ou escreve ou não escreve...é óbvio! Mas eu não posso passar sem escrever, então tenho de viver os dias com papel química para fazer tudo em duplicado. A minha arca está cada vez mais cheia de tudo, curiosamente sem publicar nada, excepto pequenos textos temáticos e as mensagens no meu blog focando os mais variados temas, alguns autênticos enigmas para quem os lê, porque precisavam de explicação, não todos mas muitos. Mas não publicas porquê? Pergunta vossemecê...um amigo meu dá a explicação, o gajo é doido diz ele. Será? Se calhar não! Escrevo por franco prazer, não para armar ao cagalhão, pois já há tanta merda por aí que até cheira mal. Não há ninguém que não publique algo. Não! Não! E não! Posso um dia a muito pedido mandar algo ao prelo, mas noventa e nove por centro vai ficar mesmo dentro da arca. 
Quando falo de paixões é fácil de entender que para além das paixoes entre seres há muitas outras paixões, imensas mesmo. Eu sei que vossemecê entendeu. Mas se um homem ou mulher amar muito outros seres, onde vai angariar tempo se o cenário for o descrito atrás? Temos de concordar que é mesmo uma porra.
Meus queridos, espero que não leiam este enorme desabafo e necessidade de escrever ao toque para tentar que a neura me deixe e vá para a cama. Bem haja a todos.
Comeira, 11/5/2014
José Bray

sábado, 10 de maio de 2014

"O traço"

“O traço” na vida dos panguilas…
Na vida, todos os panguilas têm o seu traço, que reflecte o seu modo de pensar.
A cabeça, de certos panguilas é um tracejado, tem pensamento sim, pensamento não. Mas a cabeça de outros nem tracejado tem, não passa de estrada sem traço. Admiro os panguilas que têm traço contínuo. Também admiro e respeito quem tem traço contínuo mas duplo. Fico contente, por ser um panguila com dois traços, um contínuo e outro tracejado. Mas ainda há os panguilas com duplo traço tracejado.
Este texto exige uma explicação, da minha parte.
Há pessoas que são inconstantes, pensam e deixam de pensar. São os comuns mortais, quase todos os panguilas são assim. Muitos, coitados, não pensam nem deixam de pensar, são as nulidades. O traço contínuo refere-se a panguilas demasiado constantes, em alerta ao terreno e ao pensamento. Os de traço contínuo mas duplo, são como os anteriores mas mais exagerados. Os panguilas com traço contínuo e traço tracejado, são os multifacetados, conseguem sonhar e realizar. Os panguilas com duplo tracejado são aqueles que vivem em constante mutação, ora no real, ora na fantasia, vivem ora no mundo terra, ora no mundo da lua. Os loucos integram-se neste grupo!
Comeira, 28/9/2013
ZM


O drama da joaninha Lua

O drama da joaninha Lua
Era uma vez uma jovem joaninha que tinha muita vaidade nas suas seis pintas negras que forravam o exterior do seu vestido vermelho.
Aquela joaninha bonita mas algo supérflua, chamava-se Lua e era a perdição dos insectos macho, daquele florido pomar. Grilos, besouros, gafanhotos e outros mais invulgares, perdiam a cabeça ou seja o tacto, devido à paixão que ela inspirava neles, nos machos conquistadores daquele paraíso.
Naquele dia de primavera a nossa adolescente foi passear através de uma romãzeira que floria em pleno. Após saborear o pequeno-almoço composto por ofídios, pequenos piolhos malignos, a nossa joaninha decidiu bater uma sorna debaixo das frescas folhas da romãzeira.
Lua não dormiu muito tempo. Entretanto, sonhou que namorava com um belo zangão que a andava a inquietar o seu volátil coração. Acordou ao som de uma monótona melodia executada por uma cantora muito irresponsável, a cigarra dona Escura. Em voz alta Lua exclamou. – Esta senhora também não sabe outra música, até incomoda o mais paciente.
Nesse meio tempo perscrutou a paisagem para tentar descobrir a cantora, mas só viu uma formiga que atarefada fazia pela vida, o inverno chegaria um dia e devia ser rigoroso. Era preciso encher a dispensa e depressa, para a família não passar fome nesse período de invernia.
- Já andas na labuta formiga Obreira? Tu exageras, tens também de viver a vida, diverte-te rapariga.
- Pensas que tenho as tuas bonomias? Comer, passear e namorar. Alimentas-te de vermes e insectos viventes, terás sempre comida nos teus cento e oitenta dias de vida, mas eu sou vegetariana, por isso tenho que fazer reservas para o inverno.
Apressada a formiga afastou-se com o seu pesado fardo de comida, mas antes ainda exclamou. – Que se passa contigo Lua? Estás hoje diferente mas não sei dizer o quê.
Após fazer esta afirmação continuou na sua azáfama à qual se juntou uma sua irmã.
- Que se passará comigo? Assim pensou a nossa joaninha, não sentia dores nem estava mal disposta.
Entretanto uma abelha, a Maia, esvoaçava de flor em flor para encher a seu depósito de pólen.
- Bom dia Lua, que se passa contigo, hoje estás diferente, não estás tão bonita como de costume.
Dito isto Maia afastou-se. Lua começou a ficar preocupada. – Que se passa meu Deus dos insectos? Pensou ela em silêncio.
Entretanto, mais alguns amigos e amigas passaram por ela e todos disseram o mesmo.
- Estás diferente, mas não sabemos em quê, nem o porquê.
Claro que nem a joaninha sabia, mas não estava a gostar nada da situação. Lua então decidiu ir ver-se no primeiro espelho que encontrasse, coisa que não foi difícil. Na parte inferior da romãzeira gotas de orvalho eram às dezenas. Chegou perto de uma por sinal bem grande e límpida. Olhou para a sua imagem com muita atenção, logo viu o que se passava. Não tinha no vestido vermelho as seis pintas negras, alguém durante o seu dormir as roubara.
- Meu Deus dos insectos, estou perdida, sem as minhas pintas negras pareço um tomate maduro.
A jovem joaninha chorou a bom chorar, lágrimas das verdadeiras. Foi para casa, queria desabafar com a sua mãe, no caminho encontrou a lagarta Verde, a quem contou o seu drama. Esta deu-lhe então uma útil informação.
- Sabes Lua, quem eu vi junto a ti enquanto dormias? Foi o grilo Cantante.
-Então foi esse malandro, anda sempre a fazer marotices, vou já à procura dele. Obrigada lagarta Verde.
Se assim o disse mais depressa o fez. Após procurar durante três horas, horas em que todos continuaram a dizer que Lua estava diferente, mas não sabiam porquê. Mas agora ela replicava. – Foi culpa do malandro do grilo Cantante, roubou-me as minhas seis pintas negras. Entretanto acabou por encontrar o reguila do grilo Cantante, o terror das mães com meninas adolescentes.
- Olá linda joaninha, hoje não estás tão bonita como de costume. Que te aconteceu?
- Tu bem sabes, meu bandido. Porque roubaste as minhas seis pintas negras?
- Eu? Eu não roubei nada, não levantes falsos testemunhos. Só estive a admirar-te enquanto dormias.
- Mentiroso, és sempre o mesmo, não posso confiar em ti, nem eu nem ninguém.
Realmente Lua tinha uma paixão assolapada pelo belo grilo, este correspondia mas não gostava do excesso de vaidade da joaninha.
- Nunca acreditas em mim, paciência.
- Claro que não acredito, não quero mais nada contigo. Enquanto não me devolveres as minhas seis pintas negras, não mais te falarei.
- Mas eu gosto de ti mesmo sem pintas!
- Não me interessa, sem pintas não haverá mais nada entre nós, deixa-me.
- És uma joaninha vaidosa, para ti só a beleza conta, passa bem quando quiseres procura-me.
Lua partiu para casa a voar e a chorar. O seu conflito era imenso, um drama entre o amor e a vaidade. Ao chegar foi para o regaço da mãe joaninha.
- Mãe, o grilo Cantante é um malandro, roubou as minhas seis pintas negras, não o quero ver mais.
- Tens a certeza que foi ele? Por vezes há equívocos.
- Ele bem negou, mas eu não acredito na palavra dele, viram-no perto de mim enquanto dormia.
- Filha, espero que não te venhas a arrepender,
O tempo passou e o grilo sempre a negar. Mas também não abria o jogo, queria ver até que ponto a Lua preferia a beleza ao amor.
Passaram-se uns dias, Lua não perdoou mesmo. Numa certa tarde começou a cair uma chuva miudinha, mais tipo cacimbo forte. A nossa joaninha voava, acabando por se molhar completamente. Abrigou-se debaixo de uma enorme folha de figueira, ao lado noutra folha formara-se um lago que reflectia as imagens. Lua foi mirar-se no espelho do lago e qual não é o seu espanto as pintas estavam novamente no seu vestido.
Afinal, o grilo Cantante não roubara as seis pintas negras, só as pintara de vermelho com o sangue do seu corpo. Fizera isso para dar uma lição à joaninha vaidosa.
Esta exclamou chorando.
- Que raio de porcaria eu fiz? Estraguei tudo, valha-me Deus dos insectos.
Nessa altura já o grilo Cantante namorava a formiga Obreira e não mais quis saber da joaninha Lua.
Lisboa, 21 de Julho de 2013
José Bray
Nota: Este conto infantil, foi escrito parte às oito horas da manhã na Flor do Império e a outra parte no Jardim Constantino ao meio-dia. Nesse dia, mergulhado na minha solidão senti que alguém tinha roubado a minha cidade. Sensação estranha!




Espionagem

Este texto conta a estória verídica de uma espionagem feita nos anos sessenta a uma empresa concorrente. O pedido, leia-se exigência, foi feito pelo patrão a um funcionário tipo “estrela”. O rapaz, pouco mais que adolescente, aceitou o desafio. Para ele nem desafio era, na verdade não precisava de espionar coisa alguma, tinha uma visão clara da empresa concorrente assim como das razões de alguns insucessos da sua firma. O Rui mesmo assim alinhou o que deu origem a esta narrativa que agora contamos. Foi na verdade uma estória mais romântica que de espionagem, com um fim insólito mas normal naquela época.
Espionagem
Um dia o patrão S chamou o Rui a estrela da empresa para com bons modos pedir ao jovem a execução de uma missão especial. O senhor S com um largo sorriso no rosto magro, convidou o seu colaborador a sentar-se no maple de cabedal do seu amplo gabinete. Ofereceu-lhe um cigarro Chesterfield que acendeu com o seu isqueiro Dupont, seguiu-se uma conversa trivial sobre problemas de gestão, depois falaram do Bridge vício do patrão. Rui pensou; este está a dar-me conversa mole, vamos lá ver o que vai sair daqui? Por fim lá saiu mesmo…
- Rui, precisamos de estar informados sobre a concorrência, temos de recolher algumas informações sobre a firma X, o nosso principal rival nos negócios, como sabes. Não posso pedir aos outros, não confio neles, a C ofereceu-se mas não a quero envolvida nestes imbróglios, o engenheiro é um conas e o agente técnico não é credível. Que dizes?
Rui coçou a farta cabeleira, após um sorriso irónico, observou.
- Senhor S, primeiro preciso que me diga qual o tipo de informações que pretende e se não podem ser obtidas por vias oficiais? Pela sua cara já vejo que não.
- Pensa e logo chegarás à conclusão do que pretendemos, não é difícil imaginar.
- Claro que sei! Vou pensar no seu pedido e amanhã já lhe diga a minha decisão.
O Rui nesse resto de dia não pensou noutro assunto, após a saída da escola nocturna, durante o caminho para casa feito a pé, mediu os prós e os contras do pedido insólito do patrão. Aquilo era a chamada espionagem industrial ou comercial, como der mais jeito denominar. O senhor S queria saber preçários, dimensão da carteira de clientes, percentagem do concorrente no mercado, custo das matérias-primas, estratégia do concorrente. Em resumo, os seus pontos fracos e pontos fortes. O Rui não estava a achar graça à situação, por outro lado sentia uma certa pica na execução do empreendimento.
O alvo era um concorrente forte que estava a ganhar muitos negócios, embora a gerência da firma do Rui não encontrasse razões palpáveis para esse facto. O Rui conhecia uma razão que talvez justificasse essas percas, iria tentar comprovar isso mesmo.
O negócio das duas empresas era vender e alugar estruturas metálicas desmontáveis. O tubo e as uniões eram a matéria principal. O tubo de ferro era igual para as duas firmas, podendo custar uns escudos de deferência em função às quantidades adquiridas de uma só vez, planeamento e à forma de pagar desses fornecimentos. Isso é óbvio para qualquer bom gestor. Nas uniões já a situação tinha outras nuances, para além das atrás descritas havia a questão técnica das uniões, nem todos os modelos ficavam ao mesmo preço por peça. A união de M empresa do Rui, era tecnicamente a melhor, mas o custo de fabrico era um pouco mais elevado. A compensação económica vinha nas quantidades encomendadas de uma só vez ao fabricante e da capacidade de pagar no mais breve espaço de tempo possível. Tudo isto são verdades de La Palice, mas sem ovos não se fazem omeletas, a capacidade financeira no investir era essencial.
O Rui a tal estrela da M já se tinha apercebido que nos alugueres havia uma maior discrepância nos valores concorrenciais. Qual era a razão, para além das atrás expostas? O rapaz sabia mas não queria abrir o jogo ao patrão. Preferiu entrar no jogo dele.
No dia seguinte entrou no gabinete da gerência, logo que o patrão chegou, eram dez horas.
- Senhor S, depois de pensar maduramente decidi aceitar o desafio proposto por si.
-Então, como vais fazer?
- Desculpe senhor S isso vai ser à minha maneira, para não ficar mais ninguém salpicado se a coisa der para o torto.
Aquilo era tudo folclore do Rui, ele já tinha grande parte dos elementos com ele, o relatório podia ser logo entregue, era preciso só esclarecer melhor alguns tópicos. Por isso a tarefa a realizar era quase só cenário, mas queria divertir-se um pouco com a situação.
A empresa concorrente não diversificava muito da sua, não tinha um sub-gerente como a C nem uma estrela como o Rui, mas tinha outras mais-valias. Era o caso da recepcionista que assumia com competência outras tarefas. O restante pessoal era formado por um engenheiro capaz, um chefe de montagens também competente, um vendedor fala-barato, um paquete antipático, uma dactilógrafa, um desenhador orçamentista, o patrão e a sua secretária. O Rui tinha informações através de um montador amigo, parte do pessoal pouco prestava, na sua opinião só mesmo a recepcionista no que respeitava a mulheres.
Um dia numa hora estudada, o Rui ligou para a empresa X sua concorrente. Sabia que o orçamentista saía todos os dias mais cedo para ir para a Instituto Industrial onde estava a tirar um curso superior média, agente-técnico..
Do lado de lá uma voz agradável mas firme de quem sabe falar ao telefone, coisa rara na época como ainda hoje.
-Boa tarde, fala da firma X, faça favor de dizer.
- Boa noite minha senhora, desculpe incomodar, está aí alguém que me possa dar um orçamento?
- Neste momento não, o nosso orçamentista não está, mas posso ficar com os dados e amanhã o senhor será contactado. Se puder e souber tudo farei para o ajudar.
Não havia dúvida, Rui falava com uma profissional competente, se calhar tanto como a sua colega C.
- Talvez sim minha senhora, se não for muita maçada. Queria alugar um andaime para limpar os prédios da família e queria saber valores. A senhora é muito simpática. Por favor o seu nome?
-Elsa e nada de senhora, isso faz-me sentir mais velha, além disso sou solteira.
- Elsa desculpe a minha falta de tacto, mas a mãezinha ensinou-me a ser delicado e educado com as senhoras, menina neste caso. Sou Francisco, mas todos me tratam por Xico, melhor Xico Zé, porque na verdade sou Francisco José, sim, exactamente como o cantor romântico.
- Então diga lá senhor Francisco José!
- Queria alugar, mas se os preços forem muito elevados talvez vá para a opção de comprar. Dá para as várias limpezas, depois armazenamos para o futuro. Claro que irei saber preços à concorrência. Já agora nada de senhor, esse está no céu.
E desta forma, mais coisa menos coisa a conversa foi sendo desenvolvida. Os dois ao fim de mais de uma hora despediram-se marcando um telefonema para o dia seguinte. Claro que o nosso homem clarificou que só podia ao fim do dia, hora que o orçamentista não estava.
Alguns dias mais tarde, talvez pouco mais de uma semana, já pouco se falava dos andaimes. Com o passar dos dias tudo se encaminhava para um encontro ao vivo que o Rui evitava a todo o custo.
A pouco e pouco foi recolhendo uma serie de informações, umas já sabia outras não. A jovem estava sendo manipulada sem ter a mais pequena desconfiança.
Era Elsa para lá Francisco para cá. Contaram coisas das suas vidas, da parte do Rui eram só mentiras, da parte da mulher talvez sim talvez não, coisa que nunca saberemos.
Um dia não foi possível protelar mais o encontro, a missão estava cumprida. Para o Rui era simples, não contactar mais a rapariga, contudo o rapaz ainda quis pôr a cereja em cima do bolo. Marcou mesmo um encontro, queria observar bem a Elsa. Isso era na realidade o máximo da sacanice, a rapariga confessara ter trinta e dois anos e o Rui disse ter trinta e três, na verdade ainda não fizera dezanove, faltava uns dias.
 O Rui entretanto entregara o relatório ao patrão com as suas conclusões:
Publicidade mais bem pensada do concorrente, vendedor mais mexido, divulgação nos sítios certos, um bom projecto. A razão dos alugueres serem mais baratos devia-se ao facto das uniões de X raramente partirem, por isso com mais rentabilidade na execução. O Rui já sabia isso tudo, a Elsa só confirmou o que ele pensava e já investigara no passado.
O encontro foi marcado para um centro comercial na rua Braamcamp, num restaurante escolhido pelo sacana do Rui. Acompanhado de uma amiga que nada sabia da estória, foi colocar-se num local estratégico para observar calmamente enquanto fingia namorar com a companheira.
À hora marcada entrou uma mulher vistosa que se sentou no local combinado. Era alta, bem-feita, de beleza vulgar, mas com um ar distinto. Esperou, esperou, esperou, olhou dezenas de vezes para o relógio e para a porta de entrada. Por fim com o semblante carregado, mas sem perder a compostura, levantou-se e muito direita saiu porta fora, perdendo-se na noite.
O Rui nessa noite foi dormir com a amiga, ia com a consciência pesada que se reflectiu nos trabalhos de cama.
Marinha Grande, 19/3/2013
Alberto Pereira de Castro