sexta-feira, 29 de novembro de 2013

O toque no Renault 11

O toque no Renault 11
- Meus queridos e adorados detractores, não posso de deixar de contar o meu sonho da última noite. Já sei que vão deitar abaixo o conteúdo do mesmo, não importa porque me dá gozo fazer a sua narrativa. Aguentem! Também aguento a kizombada que estou a escutar no youtube.
No meu carro de cor preta, um Renault 11, ia ao cair da tarde deslizando por estradas secundárias da zona saloia. Ao meu lado um amigo fazia-me companhia na deambulação.
Ao passar numa pequena aldeia, senti um toque muito ao de leve na parte traseira do lado direito da minha viatura. Tive a percepção que nada de grave acontecera, mas pelo sim pelo não, decidi encostar e parar o 11. Queria esclarecer a causa…embora o meu amigo insistisse para o não fazer. – É pá, não foi nada, não te incomodes, não pares.
Um Datsun 1200, com mais de trinta anos estava ligeiramente inclinado como querendo sair do estacionamento e entrar na via. Era um carro verde, cor queimada pelo sol e pelo tempo, cheio de mazelas, muitas devido a incompetência e desmazelo.
Dentro do carro saiu um velhote, tal como eu, mas mais queimado pelo sol e pelo vinho. Vinha com uma expressão de zanga. – Bateste, agora tens de pagar a pintura do meu carro!
Deu-me uma brutal vontade de rir, contive-me e contive o meu amigo, por sinal um policia reformado e com pouca paciência para aquele tipo de dislates.
Rápido, tínhamos compreendido o sucedido, o homem quis entrar na estrada, não olhou e por pouco não se enfeixou no Renault. Acontecera um toque de nada, não se via efeitos no meu carro nem no carro do reclamante.
Em breve espaço de tempo, vários amigos do velhote se juntaram a apoiar o mesmo, eram idosos como ele, também queimados pelo sol e pelo álcool. Até o taberneiro apareceu com um livro de facturas na mão, assim como uma rapariga de tipo moderno, cabelo comprido e olhos brilhantes, que apreciava a cena com um sorriso irónico. Todos davam razão ao amigo, a rapariga não, só gozava a cena. O homem mostrava a todos, uns riscos nas portas do velho Datsun…
Tudo aquilo era um tremendo disparate, o meu amigo queria partir para a briga, ou então partir deixando a velharia a falar para as estrelas, porque entretanto fizera-se noite. Não quis nenhuma destas soluções, agredir nunca e partir também não. Eles podiam tomar nota da minha matrícula e orquestrar uma estória à maneira deles. Decidi seguir outro rumo, ou seja outra estratégia. – Pronto, não há problema vou chamar a policia…
Rápido a atitude do homem mudou. – Senhor, não é preciso a polícia, podemos resolver isto a bem.
Não aceitei como era óbvio. – Vem a polícia e mais nada, não estou para vos aturar, Rui liga ao Posto da Guarda Republica.OK! Disse o meu amigo.
O taberneiro exclamou com ar desiludido. – Agora o livro já não serve para nada. De seguida afastou-se e entrou na taberna.
O condutor do Datsun entrou em pânico e garantiu nada querer, que era tudo a brincar.
A rapariga moderna de cabelos longos e olhos brilhantes, chegou junto a mim e interrogou-me. – Diga lá o que se passou, estou curiosa?
Para fim de festa expliquei-lhe. - É óbvio que a culpa é do velhote que se meteu à estrada sem prudência. Felizmente nada de grave aconteceu, nem riscos nos carros aconteceram. O homem está com o grão na asa e se calhar nem carta tem. Repare que ele reclama a pintura da porta do lado direito e o toque foi na porta do lado esquerdo. Adeus menina e tudo de bom!
Após o esclarecimento, meti-me à estrada e parti mais o meu amigo. A rapariga de cabelo comprido e olhos brilhantes deu uma sonora gargalhada que ecoou nos nossos tímpanos durante algum tempo.
Comeira, 29/11/2013
José Bray

Nota: Já me desfiz do meu Renault 11 de cor preta, há mais de quinze anos.

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Carlos Baptista, está revoltado!

Xadrezistas e amigos,
Vou transcrever, no seu grito de revolta, a Carta Aberta do meu companheiro Carlos Baptista. É verdade, parece impossível que os semi-profissionais do xadrez nacional não aproveitem as oportunidades que lhe são dadas pelos carolas da modalidade para quem nenhum lucro daí lhes advém. Depois andam a choramingar pelas esquinas dizendo que a Federação Portuguesa de Xadrez nada faz, mas fazendo juízo de valor em causa própria. Todas as Direcções têm feito porcaria, umas mais que outras, por isso é preciso analisar a que fez menos trampa. Sou dos que construtivamente critico o que não acho bem, mas nunca em causa própria. Depois aprecio o que de bom é realizado, não criando inimigos de estimação. Também lamento a atitude dos jogadores do Distrito de Leiria ao não apoiarem  uma organização deste tipo, elaborada com toda a dedicação.
No passado, como é do conhecimento geral dos mais velhos e não só, criei uma série de projectos. Acontecia que a maior parte dos xadrezistas deste país, pensavam que faziam um grande favor vir jogar as provas. Não, não e não! Nós é que lhes fazíamos um favor!
Estou completamente solidário com o Carlos Baptista e admiro a sua capacidade indomável de aturar esta gentinha. Eu, há muito que desisti... e o xadrez não ganhou nada com isso.
Segue o grito de revolta do meu amigo.
José Bray

Circuito Nacional Lentas 2012/2013 da FPX - I TORNEIO DE XADREZ CLÁSSICO DO OESTE 
cancelado por falta de inscrições mínimas… 
Carta Aberta aos Xadrezistas que a quiserem ler… 
O meu nome é Carlos Baptista. Sou dirigente e jogador da AX do Bombarral/CCMB. Considero-me um anónimo no Xadrez Nacional. Sou um aficionado, adepto do xadrez, e nada mais do que isso. Como jogador, sou modesto. Eu e mais alguns milhões no mundo. Somos a maioria, a gente vulgar do xadrez. Porque da elite mundial restam pouco mais de 100… 
Acompanho o que se passa a nível internacional, talvez como poucos jogadores do meu nível em Portugal. Desde o ano de 1977 que estou no xadrez, o meu maior contributo, foi como organizador de provas, que é aquilo que melhor sei e posso fazer. Tenho poucas ou nenhumas aspirações no Xadrez. Como jogador, não poderei provar muito mais. Como organizador talvez. 
Mas neste lamaçal em que nos encontramos, será um pouco difícil. Tudo isto vem a propósito do lançamento, na passada época desportiva do Chamado Circuito Nacional de Lentas promovido pela FPX. E a meu ver bem. Nunca me lembro de um circuito nestes moldes, com tão bons resultados. Mas o imprevisto chegou, sem apelo nem agravo, neste cinzento mês de Novembro de 2013... 
Após uma série de três provas com um êxito muito assinalável, a última prova do Circuito a realizar entre 9 e 17 de Novembro (repartida em dois fim de semana), na vila do Bombarral, foi cancelada por falta de inscritos. Uma vergonha para o xadrez nacional!... Isto serve apenas os interesses daqueles que só sabem criticar e querem, ano após ano, que o xadrez nacional regrida. Infelizmente neste pequeno país, onde impera a mesquinhez, a inveja e o sentimento individual, em detrimento do colectivo, há muita gentinha deste calibre. 
É lamentável que todos aqueles que estão sempre a queixar-se da falta de provas de lentas, agora não se tenham inscrito nesta prova. E esta lança vai seguramente direccionada para aqueles jogadores e dirigentes do nosso distrito, que não se inscreveram. Não venham com desculpas: para aquilo que querem e optam, arranjam sempre maneira de ir, para outras que não lhes convém, simplesmente não aparecem…Das duas, uma: ou não gostam de vir à AX do Bombarral/CCMB, o que estão no seu direito, ou pretendem boicotar uma prova promovida pela FPX. E em boa hora esta Direcção da FPX criou este Circuito. Pena, nem todos os xadrezistas portugueses o merecerem!... 
A actual Direcção da FPX tem feito aquilo que o país precisa: uma verdadeira limpeza de hábitos, costumes 
instituídos, maior transparência, aquilo que em suma não convém a muitos!... E estou perfeitamente à vontade para dizer isto, porque nem sequer os apoiei. Eles sabem. Eu já lhes disse. Mas agora gosto deles. E porque mudei? Tenho o discernimento suficiente para reconhecer o seu trabalho em prol do Xadrez e por isso hoje têm todo o meu apoio, e naquilo que a mim diz respeito, tenho trabalhado bem com a actual Direcção da FPX. Aplaudo muitas das suas medidas e tomadas de posição, numa altura de severos cortes às Federações Desportivas, deste miserável governo de Portugal… 
Há uma série de jogadores que têm a obrigação moral de participarem neste tipo de provas. Em primeiro lugar a começar pelos jogadores dos clubes do nosso distrito. Um distrito onde ocorrem muito poucas provas deste nível. 
Ainda para mais, num torneio em que distribui prémios em dinheiro. Uma queixa muito frequente entre os nossos jogadores da pseudo elite. Sim pseudo, ouviram bem, porque a elite mundial do Xadrez, meus caros, não mora aqui. Dois deles estão em Chennai na Índia. Sigam-nos. Copiem-lhes os exemplos… 
Não há desculpas. É lamentável que o nosso esforço vá por água abaixo, por falta de inscritos!... Como queremos captar mais praticantes e sponsors se cancelamos um Torneio FIDE, por falta de inscritos? No que a mim me toca, servirá de exemplo: não será tão cedo, que iremos promover um Torneio FIDE desta envergadura, promovido pela AX do Bombarral/CCMB … 



Carlos Manuel Maximiano Baptista 
49 Anos, Antropólogo. Dirigente Associativo há mais de 36 anos e xadrezista de IX Categoria ou menos… 

Bombarral, 7 de Novembro de 2013

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Os jogos do Q.....

Os jogos do Q…..
Os jogos do Q….. estavam prestes a começar, no momento presente decorriam os festejos de abertura. Figuras conhecidas da banda desenhada, infantil e juvenil, dançavam ao som de uma valsa, enquanto na bancada principal o organizador chefe, sorria de satisfação.
Os jogos do Q….. eram provas regulares naquele universo cúbico, por essa razão o organizador tinha grande experiência e quase sempre eram um sucesso. Naquela semana com certeza que não seria diferente, o sucesso estava quase garantido.
Os jogos do Q….. eram campeonatos de futebol de mão, uma variante pouco divulgada no mundo do desporto, mas naquele universo cúbico o público sem excepção rejubilava com as partidas disputadas com muito ardor, mas também desportivismo total.
Os jogos do Q….. eram disputados por oito equipas de seis jogadores, cinco de campo e um para defender a baliza. Cada formação podia apresentar até três suplentes. As oito equipas eram: rosa, vermelha, azul, verde, amarela, branca, castanha e riscada.
Os jogos do Q….. tinham uma curiosidade única, não havia equipas de arbitragem,  e só um simples supervisor controlava toda a legalidade dos lances assim como o tempo de jogo. O desportivismo era de tal ordem que não consta ter havido um simples problema com a arbitragem, seja na parte técnica seja na disciplina. Também não havia forças da segurança, porque nunca acontecera o mais pequeno incidente.
Os jogos do Q….. têm um público com imenso sentido de justiça, aplaudem cada jogada das equipas da mesma forma, seja a sua favorita seja a adversária.
Os jogos do Q…. ao terminarem têm uma estatística de grande desportivismo, nada de cartões amarelos e muito menos vermelhos. Os dirigentes não discutem entre si e o público em uníssono aplaude vencedores e vencidos.
Os jogos do Q….. disputados naquele universo cúbico, são por tudo que acabámos de escrever um exemplo a seguir por todos, sejam dirigentes, jogadores, árbitros, jornalistas e público.
Os jogos do Q….., como é óbvio são um enigma, mas que eles aconteciam, aconteciam mesmo! Digo isso porque eu sou testemunha dos mesmos.

APC, 11/1/2013